Vinicius Terra e o Atlântico Lusófono

Descolonizar é preciso, e o rapper carioca Vinicius Terra acredita que o Brasil pode ser a potência que lidera os países africanos que falam português nesse processo. “Descolonizar é reconstruir, é conseguir existir”, contou ele ao Música Pavê, e o primeiro passo é se reconectar à nossa terra e entender quem somos no século 21″.

A conversa aconteceu na véspera do lançamento de Eles Não Sabem Minha Língua, que chega nesta sexta, 13, às plataformas. Com participações de músicos brasileiros, portugueses e africanos, o disco vem como a tradução em rap do que o artista vem estudando ao longo dos últimos anos: Os paralelos da vida nas periferias dos países que falam português.

Criado em São João de Meriti, nos limites metropolitanos do Rio, Vinicius conta que foi “bolsista na faculdade e na especialização, e fruto de um programa de intercâbio do Governo Federal para Portugal. Lá, ele começou a entender esses pontos em comum nos habitantes de Lisboa, São Paulo, Luanda e Maputo, por exemplo. “Percebi também que havia uma conexão entre os outros países lusófonos que não havia no Brasil, que poderia sera grande potência. Entendi que a minha pesquisa precisava se tornar viva e rompi com a academia”, explica o rapper.

“No Eles Não Sabem Minha Língua, o objetivo era encontrar uma consciência dessa lusofonia, que contasse a história da travessia do Atlântico”, conta ele, “eu faço uma conexão com a África para a gente debater as mazelas da colonização e olhar para o presente. O Brasil ainda é muito eurocêntrico, toda nossa mídia e nosso poder está nisso. Todos os países colonizados pela Europa passaram por guerras e ditaduras. Os africanos têm noção de tribo e noção de império, eles caíram nas falácias e agora estão aproveitando o que foi deixado de maneira positiva. Se descolonizar é se reconectar aos países de mesma língua em relações de mercado e de cultura”.

Chama atenção no álbum como ele parece trabalhar o rap em sua estética mais essencial, respeitando o legado do estilo. Dessa forma, a letra vem sempre em primeiro lugar. “A lírica é o ponto chave para se poder contar essa mensagem”, conta Vinicius, “a raiz do rap é beat e poesia, é uma oratória. Os novos raps que surgem hoje tem ditado os rumos da música pop. Para esse álbum, que tem uma seriedade política e histórica, ter a lírica em primeiro plano foi fundamental. E ele foi quase todo orgânico, quase todo tocado com muitos instrumentos em uma busca de consciência rítmica entre os países, sobretudo a conexão Portugal, Brasil e África. O disco é Atlântico”.

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