Entrevista: Leo Middea

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Cerca de um ano após um primeiro papo com o carioca Leo Middea, o Música Pavê conversou novamente com o artista, que está prestes a lançar seu segundo disco, Dança do Mundo.

Diretamente da Índia, onde participa de um festival de artes, o músico comentou um pouco do trabalho, que conta com produção de Peter Mesquita e participações de gente como Laura Lavieri e Bruna Moraes. As já mostradas Bússola Valsa estão no repertório da obra.

Música Pavê: Leo, todo disco vem com um conjunto de suas qualidades como músico – cantor, compositor, intérprete etc. Se você precisasse escolher apenas uma dessas funções para ser lembrado por Dança do Mundo, qual seria?
Leo Middea: Acho que mais intérprete do que cantor e mais cantor do que compositor. E acho que mais esses três do que músico. Eu só exponho o que está dentro de mim, então é muito fácil me entender.

MP: Da latinidade ao funk, como foi o trabalho de encontrar a sonoridade e os arranjos certos para cada uma dessas canções?
Leo: Tudo tava muito bem entendido na minha cabeça, de como essa mistura poderia ser boa. Porque eu tenho essa coisa de pegar a energia de um lugar, de me identificar de alguma maneira com cada lugar que eu passo, então A Dança do Mundo tem um retrato muito forte da minha presença na Argentina, onde a questão latina fica mais forte, mas eu sou carioca também, então tem a questão do funk que tá bem presente na cidade também. Então, esses dois encaixes fazem muito sentido pra mim. Acho que a tarefa mais difícil acabou ficando pro Peter Mesquita, de conseguir organizar a ideia de uma forma que fique audível pra quem ta escutando.

MP: Há muitas participações no disco. Para você, qual é a importância de trabalhar em um projeto “solo”, mas “bem acompanhado”?
Leo: Eu não sou muito fã dessa questão de projeto solo, né, parece que é eu, meu, uma coisa relacionada com o ego assim, eu não gosto muito. Desde que eu me envolvi com a música, sempre tive banda e sempre achei melhor dessa forma, ter um grupo junto, um sentimento coletivo. Acho que ter um coletivo é melhor do que estar sozinho. As participações no disco acabam ligando outras pessoas, que faz sentido com o trabalho. As pessoas que estão nesse disco acabaram caindo de paraquedas, foi um processo muito natural, digamos assim. A Bruninha eu acabei conhecendo pelo Peter e me apaixonei pela voz dela – e depois descobrimos que tínhamos outros amigos músicos e compositores em comum -, a Laura Lavieri, que sempre gostei muito da voz dela, o Yaniel Matos e seu violoncelo.

MP: Qual é a maior diferença entre o Leo Middea de Dança do Mundo e o de Dois?
Leo: Acho que são quase duas pessoas diferentes em relação a entendimento, de vários propósitos, né? No álbum Dois, eu tava iniciando um caminho que era muito falando de vida. Eu tava no colégio, no ensino médio, e sempre tive o desejo de viajar, de conhecer pessoas de diferentes partes, culturas, e isso era um desejo, mas eu não tava vivendo. Então, o disco Dois, na minha visão, é um disco de um menino sonhador. E já na Dança do Mundo, assim que eu terminei o colégio, fui embarcar no que tava a fim. Fui viajar, toquei fora e conheci pessoas de outros países, estudei outras culturas. E acabou que A Dança do Mundo é uma coisa mais concreta do que eu sou, do que meu lado artístico é, com entendimento maior do que eu sou. A experiência que eu tive foi até a Índia – no caso, agora eu to aqui, na Índia, vivenciando a Dança do Mundo, meu disco. Na nossa vida, a gente acaba entrando em caixa (primeiro é a nossa cidade, depois nosso país) e, depois, quando você vai pra um lugar tão distante, com pessoas tão diferentes, de várias partes do mundo, você acaba saindo de todas as caixas que você já construiu e começa a entender um outro lado do mundo. Eu vim já numa fase do ano em que vai ter um festival com várias culturas, estive num ashrams, que é onde as pessoas costumam meditar, então eu comecei a entender e vivenciar melhor a dança do mundo por estar no centro do caos e do divino, talvez. Acho que é isso a diferença, do entendimento de mim. No Dois, eu queria me entender e em A Dança do Mundo, creio que já me entendi.

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MP: Sobre a capa do álbum, você comentou que os elementos devem ser “desvendados” por quem escuta o disco. De onde veio essa ideia?
Leo: Eu vi uma foto de um cara chamado Pablo Saborido, um argentino que mora em São Paulo, e gostei muito das fotos dele em geral. E quis que ele interpretasse como ele veria a capa do álbum. Então eu passei as onze músicas do disco em formato bem caseiro, algumas só voz e violão, só pra ele sentir e ver qual é. E aí ele teve a ideia de usar elementos de cada música. Da música e da minha própria vida, tem alguns itens que me ajudaram na construção desse disco, que são coisas mais ocultas, digamos assim, mas as principais coisas são as imagens do disco.

MP: Você trabalha bastante o formato do vídeo também desde o início. O que você mais gosta nas possibilidades do audiovisual?
Leo: Eu gosto de fazer vídeo. Desde pequeno, eu sempre gostei de edição de vídeos, acabei entrando na faculdade de cinema e sempre editei meus próprios vídeos caseiros. Então, assim que iniciei nesse mercado da música, eu fiz um vídeo de uma viagem, que acabou sendo do mochileiro. O que eu mais gosto na possibilidade do audiovisual é embarcar melhor no que você quer dizer em relação à musica. Cada música tem uma interpretação. A possibilidade do audiovisual é conseguir criar uma interpretação universal da coisa, talvez.

MP: Como você vê a música no Brasil hoje?
Leo: Eu vejo a música no Brasil hoje muito boa. Tem muito artista bom, muita música boa. Mas, falando da música popular brasileira hoje, acho que eu vejo uma forçação de barra da própria mídia. Por exemplo, quando eu fazia faculdade de cinema, eu apresentei um cantor para uma amiga chamado Phill Veras e essa amiga gostava bastante dos ritmos mais tocados, como sertanejo, e ela escutou ele e adorou esse cara e passou a acompanhar o trabalho dele. Mas ela só conseguiu isso porque ela teve a possibilidade de ouvi-lo. E as pessoas costumam conhecer novos artistas quando estão no carro, quando ligam a TV e assistem a um clipe, e nesses espaços não têm outro tipo de música a não ser o sertanejo, o funk e músicas internacionais. Então, eu acho uma pena essa monopolização de querer mostrar só isso. Mas o Brasil tá passando por um momento importante com gente muito boa por aí. E a gente tem que perder o medo de olhar para o novo.

MP: Voltando ao assunto de parcerias, com quem você gostaria de trabalhar, mas ainda não teve a chance? 
Leo: Eu gostaria de trabalhar com amigos, que estão ao meu redor. Caio Nunez, por exemplo, que é cantor, compositor e amigo. Não adianta eu falar que eu quero trabalhar com uma pessoa de alto nível musical, mas com quem eu não tenho uma afinidade com essa pessoa, senão a troca de energia acaba ficando limitada, e, pro caminho da arte, precisa ter os dois lados bem abertos.

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