MOONS: “A gente gosta de pensar que toda música é um lugar”

foto por yannick falisse

Com trabalhos singelos, embalados por uma sonoridade folk, a banda mineira MOONS demonstra a potência de perspectivas intimistas. Seu novo álbum, Dreaming Fully Awake, apresenta novas vozes e instrumentos, afirma escolhas estéticas e traz pequenas surpresas.

A construção desse trabalho se deu em meio a isolamento e unidade. Em conversa com o Música Pavê via Skype, André Travassos (voz, violão e guitarra) falou sobre os momentos de proximidade e intimidade da banda, além de ressaltar as dinâmicas de trabalho que tem ajudado na produção.

MOONS abriga outros cinco artistas: Jennifer Souza (vozes e guitarra), Pedro Hamdan (bateria), Bernardo Bauer (baixo), Felipe D’Angelo (teclados) e Digo Leite (banjo, violão e harmônica). E nas palavras de André, essa formação “é muito especial. Desde que ela se encontrou, a gente tem formado uma amizade muito particular e muito verdadeira, no sentido que todo mundo admira o trabalho de cada um e colabora. É uma coisa que extrapolou a música”.

Um dos momentos mais mágicos dessa vivência veio durante a gravação do último disco: “A gente ficou quatro dias com a cabeça totalmente voltada praquela gravação. Então se nas nossas vidas em Belo Horizonte, em meio ao caos, a gente consegue estabelecer uma conexão forte do jeito que tem sido, quando a gente consegue se encontrar em um ambiente favorável e que a gente se desliga do mundo externo, essa conexão é muito maior. E foi o que aconteceu na gravação do disco”.

O álbum nasceu durante uma estadia no sítio (afastado do centro de BH) onde a banda costuma se reunir para compor, ensaiar, pensar em novos caminhos. André conta que durante uma dessas imersões, o grupo decidiu testar uma mesa de fita, “uma mesa analógica que é do Leonardo Marques, produtor desse disco”, e, para a surpresa deles, a mesa funcionava.

“Tudo que gente tentou fazer no MOONS até então, em termos de sonoridade e textura, essa máquina ia entregar pra gente. Então a gente tocou e gravou tudo ao vivo, voz ao vivo, tem muito pouco overdub. Então quando a gente voltou pra casa e escutou o resultado dessas gravações a gente viu que a gente já tinha um disco pronto”.

Além das estéticas sonoras, a banda apresenta materiais visuais muito consistentes, que dialogam com as propostas dos álbuns. Em Song of Wood & Fire (2016) há uma proximidade, uma intimidade sempre apresentada; em Thinking Out Loud (2018), a melancolia se desdobra de forma mais individual – a capa desse álbum esteve na lista MP Seleciona: Oito Capas de Discos de 2018 –; já neste Dreaming Fully Awake, a perspectiva se dá de forma mais ampla.

Embora a banda nunca tenha pensado nos trabalhos por temáticas, André considera que é interessante que cada um tenha um olhar: “Desses três discos a gente nunca parou e pensou neles de uma forma macro. Porque a gente nunca teve o tempo, com exceção do primeiro disco, ele foi um disco pensado. Os outros dois discos foram muito naturais no sentido de que uma banda estava se formando, e esses discos são a expressão desse encontro. Então a gente nunca pensou nos discos com temáticas. É muito mais legal deixar a imaginação das pessoas fluir”.

Uma das novidades de Dreaming Fully Awake é que além de André e Jennifer, Felipe D’Angelo assume os vocais em uma das faixas. “Sween and Sour é uma música do Felipe, então a primeira vez que a gente cantou no estúdio, ele já chegou com uma ideia de voz, e a gente gravou. Aí eu cheguei em casa e só fiz a letra em cima, meio que do que ele já tinha feito. Eu acho que é uma tendência que nos próximos trabalhos a galera cante mais”.

Quanto aos anseios que giraram em torno do novo trabalho, André sublinha que havia um desejo de fazer um disco com um ritmo diferente. “Eu acho que inconscientemente a gente queria fazer um disco que fosse menos down do que o que a gente já fazia. Com um pouco mais de pegada, um disco com um bpm um pouquinho mais pra cima, sem tirar da nossa característica, de ser um som mais intimista, um som pra se ouvir baixo. Tem uns coloridos diferentes nesse disco”. 

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