Céu, em Entrevista: “No Brasil, a gente é muito”

foto por érico toscano

O calendário registra 25 meses de pandemia no Brasil e, graças à vacinação, a vida retoma aos poucos as práticas anteriores, deixadas de lado por um bom tempo devido ao isolamento. Em paralelo, o país vive um de seus períodos mais críticos na política e na sociedade, o que acrescenta ainda mais tensão ao contexto como um todo, capaz de sugar o máximo da energia vital de qualquer um. Daí ser tão significativo um evento poder reunir após dois anos milhares de pessoas para celebrar a música brasileira – caso do Festival Breve, que aconteceu no último sábado, 09 de abril, em Belo Horizonte. “Isso é lindo”, comentou Céu, “pra mim, é o Brasil crescendo, é o Brasil que eu quero”. A entrevista aconteceu nos bastidores, bem atrás do palco onde ela, minutos antes, havia se apresentado em meio a uma programação que incluiu, entre muitos outros, nomes como Ney Matogrosso, Gal Costa e o “Grande Encontro” de Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo.

Para a cantora e compositora paulistana, essa iniciativa tem profundo significado, principalmente em um momento como o que atravessamos. “No Brasil, a gente não tem o hábito de fazer uma boa manutenção da nossa música, da nossa arte, da nossa história. A gente tem a memória muito curta”, contou ela, “como é que a gente não tem um museu do Pixinguinha, sabe?”. Céu comenta que o cenário musical “tem muito pouca estrutura no Brasil, muito pouco incentivo. A mídia é muito complexa, ela obriga os artistas brasileiros a jogar um certo jogo o que caminha para uma certa linguagem particular [semelhante aos estrangeiros]. Nesse aspecto, o brasileiro que mira tanto no mercado norte-americano não é parecido com o norte-americano, que é um povo que cuida muito da sua própria história”.

Ao ser perguntada sobre o Festival Breve acontecer com tamanha potência fora do tal “eixo Rio-São Paulo”, Céu comenta o quanto, em suas palavras “isso é especial”, e como tem intenção de dialogar cada vez mais com outras praças: “Eu quero Minas, Brasília, Acre… quero o país todo. No Brasil, a gente é muito e a gente precisa cuidar da nossa arte. Então, vir a Minas e ver um festival no nível desses em que todo mundo quer estar, mas é daqui, e com todo esse povo maravilhoso… é pra isso que estou fazendo [música], é o que me lembra, o que me motiva e é o que eu quero”.

Após ser atração principal na última edição do Festival Carambola, Céu segue sua agenda de apresentações pelo país com o repertório de Um Gosto de Sol (2021), seu primeiro disco de releituras – ela se apresenta nesta semana em São Paulo, nos dias 14 e 15, na Casa Natura Musical. Sobre trabalhar esse conteúdo nos palcos ao invés de uma performance 100% autoral, ela conta que “tem gente que [não gostou da escolha], mas isso faz parte da história do artista. A gente não está aqui só pra agradar (risos)”.

“Está sendo interessante”, conta ela, “eu me dei esse direito. Eu tenho muito disco, estou há muito tempo reafirmando muito a mim mesma. Me dei o direito de [apenas] cantar, e cantar as músicas de outras pessoas. Eu fiz isso hoje. Acho que é um momento um pouco de diversão para mim, neste lugar de respiro, de eu me abastecer do que eu acredito, do que eu amo”. Ao ouvir o comentário de que, mesmo com uma ou outra desaprovação, o álbum foi muito bem aceito, ela responde: “Isso só me envaidece, porque percebo que construí uma carreira muito sólida como compositora – e isso é massa, sabe? Mas é isso, agora estou brincando de ser cantora, de fazer outras coisas, e as pessoas são muito boas comigo, eu não tenho do que reclamar”.

Quando recebeu a (inevitável) pergunta sobre como é voltar aos palcos após o isolamento, ela revela que a sensação é estar “começando do zero”: “A pandemia deu uma zerada na gente, nos artistas… no mundo, na verdade. Sentir essa potência e públicos múltiplos, que não estão aqui [no Breve] necessariamente para ver você… é muito bom, estou me sentindo viva”.

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