Natan Itaborahy e o Som Cotidiano
Quatro anos separam o disco Sentado no Céu (2020) desta nova fase criativa que Nathan Itaborahy começou a mostrar ao mundo com o recém-lançado single Carta pra Roux. E não foram quatro anos quaisquer, mas um período que revirou o mundo de cabeça para baixo – inclusive com muitas mudanças para o próprio artista.
Uma delas foi a transferência de sua residência do Rio de Janeiro para São Paulo. “Essa foi a principal mudança, literalmente” conta ele ao Música Pavê, “de lá para cá, comecei a produzir mais intensamente artistas, trilhas e beats no meu home estúdio, o Estúdio Torto. Posso dizer que há quatro anos eu vivia basicamente de uns freelas e de cachê de músico na noite, acompanhando outros artistas e fazendo barzinho. Hoje, trabalho essencialmente com áudio e produção musical, foi um amadurecimento disso nesses quatro anos. O que se manteve é a sina de viver de arte e de música, a necessidade de criar minhas canções e temas, a certeza da força da música na condução da minha trajetória”.
A nova fase musical é marcada, além dessa imersão no trabalho artístico que toma o cotidiano de Nathan, pela intenção de fazer música com sons de objetos cotidianos, como os que escutamos em Carta pra Roux. A música, com participação de Lucas Gonçalves, mistura a água da pia e o tampo da privada com um violão também gravado no banheiro de casa.
“Sempre curti tirar som de coisas”, conta Nathan, “lembro que meu pai batucava muito o volante do carro, tocando junto com a música do rádio; de um dia que quebrei um pires da minha mãe com uma colher de chá tirando som (risos); de uma caixinha na escada do prédio em que mora minha vó, que não resistia passar por ela sem dar um peteleco e escutar os harmônicos, para logo depois passar o dedo numa porta de mangueira de incêndio, que soava como um reco-reco. Em algum momento, comecei a postar alguns desses encontros com sons de coisas no Instagram e sempre apareciam respostas interessadas. As pessoas respondiam contando também algum som que tinha familiaridade ou história. Durante a pandemia, de alguma forma, isso foi se transformando numa pesquisa: Estando mais em casa, tendo um contato mais íntimo com os utensílios de cozinha, com as coisas que usamos na faxina, fui encontrando e registrando alguns sons. Como naquele momento não era muito possível encontrar os amigos para fazer música, nem contar com os instrumentos, arranjos e espaços que hoje dispomos, me pareceu uma deixa interessante transformar essa ideia em um trabalho”.
“Deu para construir um outro mundinho a partir dessa pesquisa e do encontro com esses sons familiares e estranhos ao mesmo tempo”, conta ele sobre a confecção do álbum O Som da Coisa, que sairá em julho, feita entre 2021 e 23. Ele conta que o que mais gosta na obra é “esse espírito meio solto, dessa molecagem que sempre foi tocar pra mim e procurar sons nos objetos. Foi uma coisa muito pouco compromissada em virar um produto, um show, acho que até por isso demorei tanto pra finalizar e lançar. Ficou registrado essa zueirinha, essa limitação técnica do momento: Um microfone, um amigo (Douglas Poerner que co-produziu comigo) e uma ideia na cabeça. É um disco artesanal, autoproduzido e se eu fosse mexer muito na mixagem e na pós ia perder esse charme, que depois de alguma autocrítica, passei a gostar e cultivar”.
É possível escutar essa “molecagem” que ele comenta na criatividade que sopra por Carta Pra Roux, mas o que encanta na música é a beleza de sua composição. De qualquer forma, é uma boa amostra do que encontraremos no disco, todo construído pela liberdade de experimentar na música. “Chegamos a lugares muito inesperados”, conta Nathan, “do nada, gravamos um solo de porta (!) que é de longe o som que eu mais gosto nesse disco”. “Espero que essa energia chegue para os ouvintes”, conclui.
Em paralelo à promoção de Carta Pra Roux, Nathan Itaborahy estará ao lado de Clara Castro na semana que vem no show Prefixo Quase, no Centro da Terra (em São Paulo). Ela também lançará disco no segundo semestre. Os ingressos estão à venda.
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