Journey, uma viagem

O Journey é uma das bandas mais influentes dos EUA; seu hit Don’t Stop Believin rasgou o tempo e desde sempre tem sido um hino para os americanos, tocando desde o final de séries como Soprano até estourar novamente com uma roupagem jovem na voz do coral Glee, da Fox. E a banda continua lotando estádios pelas capitais americanas e europeias, mas nem sempre foi assim.

Depois do retorno da banda para a gravação do lindíssimo Trial by Fire, em 96, um acidente impossibilitou que a banda saísse em turnê e somente após dois anos com o total afastamento de Pery da banda, foi que o Journey se reencontrou, mas agora com uma nova voz: Steve Augeri. E é justamente Augeri quem fez show em SP, nesse fim-de-semana.

Vocalista da banda de 98 até 2006, quando precisou se retirar da banda também por problemas de saúde na sua voz (ela praticamente inexistia devido à exaustiva turnê), Steve ajudou o grupo a se reerguer no cenário musical americano e emplacar, logo de cara, a preciosíssima Remember Me na trilha sonora de Armageddon, dois álbuns de inéditas e um EP que recolocaram o Journey não somente no cenário principal dos EUA mas como na cena do rock mundial novamente. Com a saída da banda, Steve foi substituído pelo camaleão Jeff Scott Soto (Malmsteen, Talisman, mas muito mais conhecido pela voz de Mark Wahlberg no filme Rock Star).

E é esse homem de cavelos cacheados e divertido que veio até São Paulo tocar no Blackmore Rock Bar. Eu, fã da banda (em todas as fases) já tinha desistido de ver Perry, mas durante muitos anos alimentei a esperança de ver o Augeri, que praticamente foram limadas quando ele saiu da banda e, qual não foi a minha surpresa, vir justamente ele agora em Fevereiro cantar os clássicos dos clássicos.

A abertura

Um parêntese sobre a abertura: Se você não tem nada melhor pra por, melhor não colocar. No caso da abertura de Steve Augeri fica um mistério sobre o por que escolheram Saulo Roston, o vencedor do Ídolos para fazer a abertura. Conhecido por ter vencido o programa com músicas da MPB e cantado seguidamente sertanejo e até pagode, a escolha era arriscadíssima para um público arisco como é o de rock’n’roll (vale lembrar a recepção dos fãs de Bon Jovi para com os não menos roqueiros do Fresno, pois é).

Há uma linha fina e tênue separando aquele homem e as chacotas e vaias da turma. A escolha de Saulo já foi um risco tremendo. Aí Saulo escolhe fazer um setlist a-cústico. A receita estava pronta para a esculhambação, mas ele se safou. Jogou no setlist alguns clássicos do rock (inteligente, ainda que interpretando porcamente), mas ‘bateu na trave’, palavras de alguns presentes, quando mandou Goo Goo Dolls e Jamiroquai, a um ponto do desastre; ele, gago, saiu do palco exaltando o ‘mestre’ Steve (e ninguém me tira da cabeça que o diabo deve ter confundido o Augeri com Perry, já que ninguém conhece Augeri assim tão bem, infelizmente).

Journey, uma viagem

Enfim a espera pelo ex-frontman do Journey. Depois de muito suspense, um Blackmore abarrotado de gente (não imaginei que fossem tantas), lá pelas tantas, Augeri e banda passam pelo meio do pessoal e sobem as escadas do bar para o backstage aplaudidos pelos presentes. Demorou um certo bocado até que o tecladista ’emprestado’ do Journey Cover brasileiro soltasse os primeiros acordes de Separate Ways (World’s Apart), um dos maiores sucessos da banda, levantando de cara o público para cantar junto com o animado vocalista. Steve apareceu de terno branca e blusa de bolinha, bem-humorado, mostrou sua usual presença de palco divertida, marcante e cheia de passinhos. Seu vocal melódico e suave, mas ainda com problemas em alcançar as notas matadoras de Perry, que não interferiu em nada a sua interpretação.

Bastante confortável no repertório de sua ex-banda, ele sabia exatamente o que elas significavam tanto para a banda como para o público, brincou com rios amazônicos, com a distância de NY e SP e antes de executar Kiss me Softly, garantiu que aquela música tinha sido feita para o Brasil. Das quinze que tocou, somente três eram composição sua: Higher Place, essa Kiss me Softly e All the Way (todas do seu primeiro álbum com o Journey, o Arrival de 2001). E somente aqui reside uma insatisfação deste fã, Augeri não cantou umazinha sequer do álbum Generations, de 2005. Pô, Steve!

Não tem como negar que Steve Augeri ainda carrega sequelas de seu problema vocal de 2006 e não tem mais a potência que tinha em 2001, mas tem uma voz inigualável e maravilhosa ainda que não chegue aos tons supremos de Steve Perry (e quem chega?). É um show que vale a pena pelo intimismo e pela interação com o público, pelo carisma e pela ótima presença de palco. E também por ser uma das raras ocasiões de se ouvir músicas do Journey sem ter de ficar vendo seriado de musical (hehe).

Que volte mais e mais vezes.

Agora é se preparar pro Journey de Arnel Pineda (torço um pouco o nariz, mas…) aterrissar no Via Funchal dia 28 de Abril. Fã de Journey nenhum vai botar defeito nesse ano de 2011, hein!

Setlist:

Separate Ways (World’s Apart)

Ask the Lonely

Higher Place

Lights

Kiss me Softly

Stone in Love

Riverside

Wheel in the Sky

All the way

Faithfully

Don’t Stop Believin

Lovin’ Touchin’ Squeezin’

Any Way You Want It

*Bruno Portella é publicitário, literato, ouve Rock e serve no Sanduba de Queijo. Essa foi sua primeira colaboração no Música Pavê. Créditos da foto: /nurdagniriel

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