República Popular: “A gente não precisa separar o tradicional do novo”

foto por lauren lauschner 

“Assim como o Brasil, o Amazonas de hoje é cosmopolita”, diz Viktor Judah – da banda República Popular – sobre o cenário musical que gerou o disco Húmus. A obra dupla, não bastasse um conteúdo conceitual explorado nas entrelinhas de suas muitas faixas, ganhou também um acompanhamento visual, um verdadeiro filme de uma hora e 40 minutos de duração.

São videoclipes costurados um no outro, ao invés de uma narrativa mais linear. “A ideia foi fazer o disco mais acessível”, conta Vinítius Salomão, “e, em breve, vamos dividi-lo em partes para as pessoas ouvirem as músicas como quiserem”. Ele comenta que o lançamento vai “totalmente contra as tendências de mercado”, que ditam que as obras devem ser cada vez menores (em quantidade de faixas e duração), “mas só seria sincero se fosse dessa forma, porque tem todo um conceito por trás, todo uma história, e se a gente fosse limitá-lo às principais faixas, as que a gente achava que tinha mais potencial de mercado, a gente não estaria fazendo uma parada que a gente acredita”.

Para os integrantes da banda, a experiência de assistir às músicas nesse formato trouxe “mais um sentido, mais uma dimensão, para um trabalho que já tinha feito”, segundo Salomão, “e, de repente, sua visão como compositor e como intérprete, expande naturalmente. A gente imaginou [a música] de uma certa forma, aí chegou o diretor e trouxe outra ideia, a gente não tinha certeza como ficaria na prática até ver o vídeo”. Ele conta também que parte da equipe audiovisual esteve próxima da banda desde as gravações do disco, e “já sabia que trabalharia múltiplas histórias em universos separados”, em suas palavras.

Essa variedade está na natureza do álbum, que traz uma primeira parte “mais uniforme, e a segunda é um ‘caos controlado’ (risos)”, como conta Vinítius. Viktor explica: “Quando a gente resolveu fazer esse álbum, a gente queria que ele fosse sonoramente uma renovação, uma demonstração de que a gente pode fazer uma nova roupagem pra música regional daqui (do Amazonas), mas a gente queria também externalizar o orgulho que a gente tem de viver aqui, só que fugindo dos clichês da música regional”.

A ideia foi representar o maior estado brasileiro, conhecido pela floresta e pelo rio, inserido em um contexto contemporâneo no qual se dialoga com a herança cultural sem se desligar do que acontece hoje na música. “A gente não precisa separar o tradicional do novo, pode misturar as duas coisas”, conta Viktor, “as pessoas aqui se sentiram representadas por ele, e isso se deve a essa mistura. Elas comentam que sentem que o disco representa bem o Amazonas atual”.

Curta mais de República Popular e de outras entrevistas no Música Pavê

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

Comments are closed.

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.