Ladama: “Nossas diferenças não são um problema, elas nos enriquecem”

foto por yanina may

Oye Mujer é o recém-lançado segundo álbum da banda Ladama, mas, de certa forma é também o seu primeiro. Isso porque seu primeiro trabalho (Ladama, 2017) apresentava uma sonoridade e uma proposta que começavam a se desenvolver a partir do encontro de quatro mulheres de países e vivências diferentes. Este novo, porém, consegue propor diálogos novos, principalmente nos temas escolhidos, com uma identidade já mais firme, ainda que sempre em desenvolvimento.

Quem explica essa dinâmica é a brasileira Lara Klaus e a venezuelana Mafer Bandola, que falaram ao Música Pavê sobre o lançamento, semanas antes dele sair. “O primeiro disco foi mais orgânico”, conta Lara, “estávamos nos reconhecendo como banda e entendendo como nossas culturas se encontram. Era a afirmação da nossa proposta. No novo, quisemos explorar coisas novas e elementos eletrônicos, mas não pensamos de antemão qual seria a estética do disco – compomos as músicas e depois vimos quais vestimentas elas pediam. E o disco vem mais a partir do que cada um de nossos países está vivendo na política, já que os quatro países têm compartilhado muitos problemas”.

Colômbia e Estados Unidos são as outras duas nações que compõem Ladama, e escutar os dois álbuns dá a ideia de que, se o trabalho de estreia era sobre a própria banda, este novo tem seus olhares para fora. “As músicas do primeiro disco foram compostas em uma residência artística, e as do segundo foram inspiradas por uma grande turnê”, explica Mafer, “ao viajar, sempre ouvíamos sobre as dificuldades dos lugares e sempre conversamos sobre tudo. E cada vez nos demos conta do que significava ter o privilégio de ser observadora dessas realidades, e de ter um microfone e estar em um palco com a liberdade de dizer coisas por vozes que não podem falar. Estas letras têm muito a ver com as situações que nos tocaram sentimentalmente durante a turnê”.

Com produção de Kassin, Oye Mujer traz várias novidades ao grupo (“fizemos experimentações em todos os sentidos: Com idiomas, instrumentos e sons, nos permitimos muito nos ensaios e nos erros”, como explica Mafer), que só puderem acontecer justamente porque as quatro definiram bem lá no começo como queriam trabalhar. “Eu penso que uma das coisas mais que entendemos cada vez mais é que as diferenças não nos definem”, continua a venezuelana, “quando vamos fazer alguma coisa, sempre temos um tempo para explicar o que aquilo significa para cada uma de nós”.

“Somos uma banda com causas sociais – ‘esse problema está acontecendo no país, quero encontrar uma solução’ -, aí vem outra pessoa e diz “ah, no meu país não tem isso”, e outra diz “o meu país é assim, a minha cultura é assim”… Ao final, se cria um discurso de banda levando em conta todas essas interseccionalidades. Porque são quatro países diferentes. São idiomas, famílias costumes e maneiras de pensar a música diferentes. Ou seja, falamos não só do ponto de vista musical, mas de toda perspectiva que a gente compreende. Nossas diferenças não são um problema, elas nos enriquecem”.

Lara comenta também que Ladama sempre quis “que a fundação e a construção do que fazemos seja de constante conversa. Sempre trazemos as diferenças à tona para sabermos nos dar bem e seguir trabalhando juntas. Mas acho que o que faz Ladama continuar como banda e fazer dar certo é que a gente tenta reunir as semelhanças, tanto na cultura musical, com os instrumentos, mas também no que a gente tem parecido mesmo – de ser extrovertida, engraçada, essa coisa de agregar as pessoas. Mas as diferenças sempre vêm, né? E isso não é algo que a gente tem praticado na vida real. Todo mundo deveria conversar, tentar entender e chegar a um ponto comum que seja viável para todos”.

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