Rashid: “Eu busco o meu Brasil”

foto por kléber oliveira

“É igual quando você chega arrombando a porta, assim, brabo, derrubando tudo”, descreve Rashid sobre a energia que permeia Não Sabem de Nada, single lançado na última quarta-feira (31) para anunciar a nova fase do artista.

O retorno de Rashid fez com que ele revisitasse sua própria jornada, tanto na composição de Não Sabem de Nada, analisando os acontecimentos ao longo dos ano, quanto no videoclipe da música, no qual ele é o seu próprio guia ao passar por locais de São Paulo que marcaram, sobretudo, o começo de sua carreira.

Ao Música Pavê, o rapper conta que a faixa foi a primeira do novo disco a ficar pronta, então compõe a espinha dorsal do sucessor de Tão Real (2020). “É como se todas as coisas que eu estive fazendo durante esse tempo meio que culminassem e apontassem para o momento de criação desse disco, sabe? Porque é o disco em que eu consegui juntar minhas referências, em que eu consegui deixar mais explícitas ainda essas referências e as coisas que me inspiram”, reflete. 

Nessa mescla de influências do próximo projeto, que deve chegar ainda em 2022, Rashid destaca 36 Chambers, o clássico álbum de estreia do grupo de hip hop norte-americano Wu-Tang Clan, e o filme brasileiro Bacurau, dirigido por Kleber Mendonça Filho. 

Se a mistura parece peculiar em um primeiro momento, Rashid ilustra que ambas as coisas são uma confluência do seu trabalho. “Eu busco o meu Brasil no disco. E quando eu digo o meu Brasil, quero dizer que é como encontrar a minha relação com a música brasileira dentro do meu rap, levando em consideração que o rap é uma música que nasceu fora daqui, mas que a gente dominou muito bem. Eu acredito que esses caras e essas minas que dominaram muito bem essa linguagem e se tornaram pilares da cultura hip-hop no Brasil são justamente as pessoas que também encontraram essa intersecção com a cultura brasileira”.

As reflexões de Rashid em relação ao modo como se conecta à música e à cultura brasileira são o resultado de investigações embasadas em teóricos como Lélia Gonzalez, Roberto Schwarz e Lorenzo Mammi. 

“Toda essa ideia do Rashid de buscar o Rashid parte de um estudo sobre a identidade nacional, a identidade do povo brasileiro. Quem é o povo brasileiro? Por muito tempo, o povo brasileiro desconsiderava as pessoas que de fato eram o povo. Inclusive as mulheres eram desconsideradas. E hoje, mais do que nunca, a música rap está reivindicando esse lugar de novo. Não, peraí, tio, peraí. A gente precisa conversar novamente sobre quem é o povo”, pondera. 

Não é de hoje que as discussões políticas fazem parte da música de Rashid, mas o músico paulistano enxerga a necessidade contínua de inovar na sua abordagem sobre o assunto: “Como você continua trazendo novos argumentos para o debate? Como você continua mantendo essa conversa no nível de relevância? Eu acho que é esse o desafio. E por que que você está falando? Porque se for para falar também o que eu já falei em tantas outras músicas, não precisa. Então, partindo desse raciocínio a gente começa a buscar coisas novas para acrescentar na conversa, no diálogo”.

Agora, Rashid está finalmente pronto para seguir os rastros que deixou para si mesmo ao longo dos anos. E isso significa que ele se aproxima daquilo que sempre quis entregar ao público. Antes, “não pude emocionalmente, em termos de capacidade, em termos de estrutura. Hoje eu tive essa estrutura, eu tive esse emocional e eu tive essa capacidade artística de fazê-lo. Por isso que eu digo que todas as coisas meio que me direcionaram para cá”.

Curta mais de Rashid e de outras entrevistas no Música Pavê

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