Quer Dizer Que Você é Fã de Música?

fã de música

Sempre que me perguntam por que eu comecei a trabalhar com música, eu gosto de responder (e de acreditar) que não fui eu que optei por ela, mas a música que me escolheu (e, fala sério, eu não preciso te explicar por que é legal acreditar nisso, né?). Mas, brincadeiras à parte, conforme eu direcionei meus estudos e minha atuação dentro de Cultura e Arte, o ramo musical parece ter me acolhido quase que naturalmente por um motivo: a paixão que sempre tive por essa arte.

E se todo relacionamento intenso parece se debater entre o amor e o ódio, esse não seria diferente. Porém, minha relação com a música sempre foi bem resolvida. Os momentos tensos costumam vir de uma terceira parte: os outros fãs de música.

Entenda que, assim, eu falo aqui de pessoas que se dizem “fãs” assim como eu me digo. Do ponto de vista de um, o outro pode estar errado em menor ou maior grau – e é esse mesmo o dilema, no fim das contas (já adiantando a conclusão), já que cada um tem sua própria perspectiva do que isso significa. De qualquer forma, eis a minha.

Primeiro, tem aqueles que olham o aspecto artístico-técnico da coisa. Cresci rodeado de músicos e, por mais que eu tenha estudado (muito, até) alguns instrumentos, canto/coral e mesmo história e teoria da música, nunca me sobressaí em nada disso. Pode parecer estranho para quem vem de um contexto diferente do meu, mas não é comum um músico te respeitar como “fã de música” se você não toca, canta, compõe, arranja e/ou produz.

Da mesma forma, às vezes é frustrante conversar com esses instrumentistas e cantores e perceber o quanto eles são envolvidos com sua própria criação, a ponto de ignorar o trabalho de outros. Alguns deles são sim “fãs de música” – da própria música que fazem, apenas. Ouço isso de vez em quando de outras pessoas que também trabalham com jornalismo cultural, que foi lá conversar com fulano (sendo ele um cara respeitado dentro daquilo que faz) e ele não conhece quase nenhuma banda e não tem ouvido nada ultimamente.

É frustrante também conversar com outros ditos amantes dessa arte que também se fecham demais a apenas algum gênero, estilo ou vertente. Se diz fã de música, mas ignora grande parte da produção mundial. Pior ainda é quando esse pessoal apenas segue uma modinha ou aquilo “que tá tocando” ultimamente – seja aquilo que é apresentado no mainstream ou no meio alternativo (por que, sim, muitos que querem fugir da grande bolha mainstream, acabam entrando na grande bolha alternativa). Com predileções tão específicas, acho mais fácil chamar esse povo de fãs daquela determinada coisa da qual tanto vai atrás, mas não da Música com o M maiúsculo, sabe? É trocar a arte com todos os seus atributos por apenas alguns de seus aspectos.

Sem entrar nas motivações das pessoas quererem pertencer a um determinado grupo ou serem vistas como admiradoras de tais estéticas (por favor, isso levaria muito tempo, mas você sabe do que eu tô falando), essa atitude de ser muito fã de uma coisa só e chamar só isso de música sempre me parece muito reducionista. E se alguns chamam de “esnobe” essa atitude de olhar para o que gosta e dizer que aquilo que não lhe agrade “não é música”, eu acabo vendo como apenas “imatura”, ou (tentando ser mais ameno), “míope”, já que revela que a pessoa tem dificuldades de enxergar a uma certa distância.

Fique à vontade para me chamar do que quiser, para se sentir ofendido ou o que for com essas palavras – sei que estou escrevendo a partir da minha experiência e sei que você tem a sua, super respeito isso. Mas, sempre que vejo alguém se dizer fã de música sem ter uma atitude de curiosidade, de respeito ou de envolvimento com essa arte, me lembro das pessoas e ocasiões que moldaram minha mente para eu ter a minha definição do que isso significa.

É o músico metaleiro com quem conversei sobre qual o melhor disco que Madonna já fez, ou aquele cara que toca (muito bem, por sinal) em uma banda de música pop e costuma ouvir mais rock das antigas, o ouvinte de música popular que fica boquiaberto quando se depara com o trabalho de alguém que foge de tudo o que a pessoa já ouviu ou mesmo algum amigo que descobre tardiamente o quanto consegue se envolver com canções que outras pessoas fizeram e parecem ter sido feitas para ele, tanto pelas letras, quanto pelos outros aspectos que ele não consegue descrever por não ter as palavras certas.

Você pode chamar quem quiser de “fã de música”, até mesmo você, é claro. Fica aqui apenas o meu convite para você saber que, caso ouvir música não te dê frios na barriga (ou, às vezes, no corpo inteiro), não te conforte a própria alma, ou não te exija uma resposta direta e pessoal – seja sair dançando ou fechar os olhos deitado para absorver melhor -, tem muita gente por aí experimentando ainda mais que tudo isso – inclusive, o Música Pavê existe justamente para você não se contentar apenas no flerte com a música, mas permanecer em um relacionamento sério com ela. Feito por fãs para outros fãs, verdadeiramente.

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1 Comments on “Quer Dizer Que Você é Fã de Música?

  1. Não acho que eu seja um graaande fã de música, mas é algo que simplesmente não dá pra eu viver sem. Meu maior problema com ela [a música] é que ela difere muito das outras “artes” com as quais eu estou mais habituado (Cinema, Literatura, Quadrinhos…) que não raramente conversam entre si por causa de sua natureza comum: contar histórias. A música é diferente e isso me provoca, mas é uma provocação boa. Torna ela especial de alguma forma…

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Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.