Priscilla Quer Explorar Tudo Aquilo que Pode Ser
“Me dá vontade de ser coisas que eu nunca fui”, Priscilla canta em algum momento da faixa Bossa, presente em seu mais recente e autointitulado disco. “É algo que o romance nos desperta”, conta ela ao Música Pavê ao explicar o verso, “a gente precisa de uma adrenalina, como a da paixão, para despertar novas vertentes nossas. Escrevi a partir de uma autoanálise, do que estava vivendo com alguém. Você tem vontade de ser mais impulsiva e se jogar mais, quando na verdade você costuma ser uma pessoa mais reservada, ou calculista. Está tudo bem se permitir ser novas coisas em novas circunstâncias, só assim você consegue viver a situação”.
Esse parece ser o norte de todo PRISCILLA, disco que tem a identidade da artista – ou quem ela entende que é hoje – em seu centro. “Vou fazer 28 anos, mas já trabalho há 20”, comenta ela, “então eu não tenho muitas lembranças de antes de ser uma pessoa pública. Ao longo desse tempo, um dos maiores desafios foi não permitir que a indústria que eu faço parte alterasse o meu jeito de me enxergar. Porque, não adianta, para eles você é um produto – é uma empresa com meta para bater, é sobre o meu produto ser rentável ou não. Pode ser que isso interfira no modo de você se enxergar. Inclusive, recentemente, eu tive que parar e reavaliar a forma com que eu estava conduzindo a minha música e minha arte, porque senti que estava sendo muito contaminada por essa visão de produto, e perdendo de vista o real motivo pelo qual eu faço música, que é para me conectar com pessoas e comigo mesma. É preciso ter maturidade para saber separar as coisas”.
Ao ser perguntada sobre a motivação por trás do nome do disco, e a relação com comunicar sua identidade, Priscilla conta que a obra “diz muito sobre uma autonomia do momento que cheguei tanto na minha vida pessoal, quanto profissional. Já não dependo mais de ninguém, no sentido de construir aquilo que eu quero ser, do jeito que eu quero. Uma autonomia da opinião alheia, da expectativa, do padrão, da demanda de mercado, de todas as coisas que, de certa forma, influenciam a gente. Me vejo muito desprendida de todos esses ‘tem que’ – ‘tem que ser assim’, ‘tem que fazer desse jeito’. Me sinto nesse lugar de poder anunciar isso para as pessoas, de que estou vivendo isso e essa autonomia vai se refletir também na minha produção artística”.
Ainda no quesito autonomia, Priscilla tem co-produção da própria artista, ao lado de Carlos Bezerra. “Me faltava coragem e autoconfiança para assumir que sou uma produtora musica, até porque existe muito tabu no Brasil sobre a artista que se produz e também sobre a produtora mulher”. Ela conta que decidiu assinar a produção porque “só eu sabia o que queria para o disco, e eu sei fazer. E aí eu fui atrás de produtores que gostariam de colaborar comigo”.
Há muito significado no disco, o que talvez vá de encontro às expectativas do mundo pop em que Priscilla está inserida. “Sinto que há algo muito mais forte que clama dentro da gente, que é justamente a profundidade”, explica a artista, “a superficialidade é mais palatável, você fica ali durante o dia consumindo coisas rasas porque dá aquele quentinho no coração, é gostosinho, é fácil, já está mastigadinho. Isso, na verdade, é um jeito de a gente se distrair da profundidade que habita em nós. Nenhum ser humano é raso, todo ser humano é profundo. Só que, pra você abraçar essa profundidade, custa muito, porque você vai se deparar com coisas que não são simples”.
“Ao mesmo tempo que eu começo o álbum cantando Quer Dançar, que, aparentemente, é uma música rasa, eu termino cantando Unicórnios, que é completamente de imersão no seu eu. A gente é tudo isso, esse tipo de complexidade. Seria muito injusto com a gente dizer que é uma única coisa, deixando tantas outras de lado”.
“Esse diálogo vai ser mais claro com o tempo”, explica Priscilla ao falar mais do cenário do qual faz parte, “estou no momento de apresentar minhas músicas, o som que eu faço, e descobrir de quais formas eu consigo agregar ao cenário musical. Só de ter essa galera – Bonde do Tigrão, Pabllo e Péricles, nomes que marcaram de forma muito específicas a indústria da música brasileira – na mesma obra diz muito do meu poder de comunicação com diversos tipos de públicos e nichos. Eu sou uma artista versátil e, por isso, queria ter um álbum também versátil. Eu consigo me comunicar com todo mundo ao explorar tudo aquilo que eu posso ser”.
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