Por Dentro do Universo que Lia Paris Construiu

Lia Paris é dessas que honram a classificação como “artista”. Ela é cantora, compositora e produtora, mas, acima de tudo, há uma grande camada de significado e conceito para além da estética ou mesmo do ofício de fazer música. É algo que permeia seus lançamentos, como seu segundo álbum, Multiverso (2019), ou o recém-lançado clipe Andaluz.

Falando ao Música Pavê por telefone, Lia evidencia ainda mais essa sua filosofia. Gravado na Califórnia, o vídeo ilustra a canção – que ela chamou de uma “carta de amor à Andaluzia (no sul da Espanha)”. “Parece uma música romântica para alguém, mas eu estou falando para uma terra”, explica ela, “estou me comunicando com o genius loci (o “espírito de um lugar”) da Andaluzia”.

Isso é aproveitado no clipe pela semelhança entre a geografia dos dois lugares: “Ele fala desse portal, é como se eu pudesse me transportar de um lugar para outro, da Califórnia para a paisagem árida da Andaluzia”, conta Lia, “a música faz isso com a gente, ela é um veículo”.

“Minha produção foi feita lá, mas não foi uma escolha”, ela comenta sobre a gravação na Meca da cultura pop. “É difícil as pessoas compreenderem, me perguntam como consigo fazer tantas coisas em tantos países – uma resposta óbvia é ‘só pode ser rica’ (risos), e não sou mesmo“, Lia frisa, “construo minha carreira com muitas colaborações e vou fazendo as coisas conforme as possibilidades. Não fui à Califórnia por conta do clipe. Recebi um convite para cantar lá e, aproveitando, produzi o vídeo”.

“Colaboração” é uma palavra chave para entender sua produção. O próprio álbum Multiverso tem esse nome porque “cada um dos sete produtores trouxe seu universo para o disco”, como ela explica, “eles vêm com sua bagagem, seu prisma e suas referências”. Cada um dos produtores está ligado a uma vertente musical diferente, e o disco encontra sua coesão na voz e nas vivências que a artista narra nas canções.

“Ele só é coeso porque elas são autorais, senão ele seria esquizofrênico”, conta Lia, “elas vêm histórias reais, não são fantasiosas. Vêm de algo tão particular que eu vivi, que teve que virar músicas. E elas já vêm com tudo isso, com paisagem, com cor” – como foi o caso de Andaluz. “Eu presto muita atenção nos signos, na força de um lugar, no que ele traz de inspiração”, conta ela, “aí eu uso as forças do lugar para o meu trabalho. É muito forte porque a natureza é muito forte. Isso é uma coisa que permeia todas as minhas produções”.

“Tenho uma relação muito forte com a natureza. Eu tenho uma angústia por ver que a gente está em um momento muito complicado da história da humanidade, no qual o ser humano foi para um lugar errado, que é um descompasso com a natureza. A gente se descolou como a gente estivesse sobre ela, como se não fôssemos a mesma coisa. Acredito que temos que ouvir as vozes da natureza e fazer parte dela de novo. Tento trazer essa mensagem de um jeito lúdico nas músicas”.

Curta mais entrevistas no Música Pavê

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

Comments are closed.

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.