Pedro Pastoriz Encontrou um Abismo pra Chamar de Seu

Uma audição desatenciosa de Pingue Pongue com o Abismo pode revelar um Pedro Pastoriz como sempre o conhecemos – tanto solo, quanto com Mustache e os Apaches: Bem humorado, dialogando sons nostálgicos e sempre pronto para trazer alguma pequena surpresa de faixa a faixa. Mas há uma nuvem que paira sobre o disco, uma vibe diferente. São outros sorrisos e outras risadas, todos sinceros, mas com um leve desespero nas entrelinhas.

E isso é quase o próprio conceito da obra, a capacidade de levar a vida com alguma leveza enquanto se encara o peso que a limitada existência neste plano carrega – o tal do jogar pingue pongue contra o tal do abismo. Esse desenvolvimento de tema se confunde com a história de sua produção, que começa logo após o lançamento de seu segundo álbum, Projeções (2016).

“Produzi os dois primeiros discos com um ano de diferença, minha prioridade seria lançar um por ano”, conta Pedro ao Música Pavê, “logo depois de Projeções, comecei a compor. Em março de 2018, eu perdi a minha mãe meio do nada, em um acidente. Foi como um raio que caiu em cima de mim e mudou minha percepção sobre tudo. Fiquei três meses em Porto Alegre e, quando voltei a São Paulo, decidi usar esse disco para um norte”.

O ineditismo da orfandade lhe permitiu novas maneiras de pensar sua própria música. “Eu sempre ouvi sobre a necessidade de contar histórias que aconteceram contigo, e eu sempre discordei disso”, comenta ele, “nunca quis, preferia contar histórias mais distantes e impossíveis. Não sei, nunca gostei dessa câmera em primeira pessoa”. Para se cuidar, Pedro recorreu a psicologia e psicanálise – “aquelas prateleiras que eu nunca tinha pesquisado na livraria” -, e trouxe para sua música parte dos aprendizados e perspectivas adquiridos neste novo momento de vida.

Uma das inspirações para a maneira com que Pingue Pongue com o Abismo se revela foi a do universo dos sonhos, o que trouxe uma espécie de estética surrealista na experiência do álbum. “O sonho tem poder de transformar em uma foto um livro inteiro. Coisas muito complexas viram imagens muito simples”, conta o músico, “há uma grande confusão na maneira com que os pensamentos se traduzem, e eu queria direcionar tudo isso para o disco”.

Relembrando a produção do disco, feita com Gui Jesus Toledo (do selo Risco), e a montagem da narrativa apresentada, Pedro conta que o processo “foi como quem faz uma comida: Tá faltando alguma coisa, aí você coloca um pouquinho (risos). Tinha primeiramente músicas mais densas, mas pensava nessa questão de me perguntar o que eu estava querendo contar. E em momento algum eu tinha a intenção de contar uma história que fosse uma só coisa, que fosse apenas triste”.

“Consegui combinar as coisas. Tanto com Mustache e os Apaches, quanto nos meus outros discos, eu tinha um lado mais cômico, mais irônico, e consegui misturar isso com essas novas perspectivas”, comenta ele. Ao olhar para as primeiras composições feitas para o que ele um dia achou que seria seu terceiro disco, antes do abismo se revelar, Pedro comenta que as considera hoje “um pouco ingênuas”: “São como acordar de ressaca e ver as fotos da festa, você pensa ‘que que eu estava fazendo?’ (risos)”.

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