PAUS retrata o Brasil visto por olhos estrangeiros no EP “LXSP”

foto por felipe gabriel

É sempre interessante notar como um estrangeiro percebe o seu país após visitá-lo. No caso da banda portuguesa PAUS, suas impressões do Brasil, principalmente de São Paulo, foram registradas no recém-lançado EP LXSP, gravado na capital paulista pelo produtor Guilherme Kastrup.

Falando ao Música Pavê, o baterista e vocalista Hélio Morais conta que o retrato do seu tempo no país começa já com a capa do disco, que mostra uma paisagem muito referente da cidade – “era a vista que tínhamos do Red Bull Station (onde ocorreram as gravações), conta ele. “Lisboa é uma cidade muito urbana, mas os prédios são muito mais baixos, ela mistura muito natureza com o muro. Não é uma cidade urbanisticamente selvagem como São Paulo, com seus prédios enormes, todos pixados. É uma coisa que fica muito na cabeça”, comenta o músico.

São Paulo é uma mistura de gente de todos os lados. Eu sinto que a matriz de São Paulo é essa, a diversidade, a quantidade de pessoas de sítios diferentes que cria uma identidade que poderia ter ali. Essa diversidade cria uma identidade única”.

Na música, também há muito do Brasil no disco, a começar pelos músicos que fizeram parte das gravações. “Convidamos Kastrup para produzir o EP, honestamente, sem esperança nenhuma que ele fosse aceitar (risos)”, conta Hélio, “não conhecíamos o Gui, ele era apenas o produtor da Elza [Soares] (Mulher do Fim do Mundo) que ganhou um Grammy (risos). Ficamos muito felizes por ter acontecido, se eu tivesse que escolher dez discos da minha vida, esse seria um deles”.

Há também presença de Dinho Almeida (Boogarins), Maria Beraldo e Edgar, três outros nomes respeitados na música brasileira recente, ou recentíssima. “Queríamos que fosse um disco colaborativo”, revela o músico, “criamos as bases instrumentais e ficamos desprendidos das músicas para os convidados colocarem suas vozes, que deram novas cores ao trabalho. Isso para nós é muito interessante”. “Só não sei como vamos fazer nos shows (risos)”, brinca ele.

Hélio comenta que cresceu ouvindo música estrangeira, principalmente rock, enquanto sua mãe ouvia kuduro em casa. “Temos muito essa coisa do polirritmo que vem da música africana”, conta ele, “por outro lado, Mocotó é um baixista super roqueiro que mostra bem as influências que temos de noise rock, e Fábio é uma pessoa que investe muito tempo a procurar música”. Todas essas qualidades juntas formaram um som que muito tem a ver com a produção contemporânea no Brasil, com características compartilhadas com bandas de diversos outros lugares pelo mundo hoje em dia. Sobre a obra ter um caráter bastante contemporâneo, o baterista e vocalista afirma: “Gosto de sentir isso”.

Ainda no assunto das impressões sobre o Brasil, Hélio fez também uma identificação de cunho bastante pessoal: “Meus pais são angolanos e toda a família da minha mãe é angolana. Quando cheguei a São Paulo, pensei ‘porra, porque minha família não veio para cá ao invés de Portugal?’. A comida é muito parecida, também uma certa forma de estar – meus pais estavam sempre a dançar, o que é uma coisa recente na cultura portuguesa -, não fez sentido nenhum meus pais terem vindo a Portugal. Em termos de identificação, eles pareciam mais brasileiros do que portugueses”. Daí também, é possível afirmar, que ele se sinta tão à vontade em nossa terra para criar como se estivesse em casa.

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