Mauricio Pereira conta sobre o vinil de “Outono no Sudeste”

É comum, nas conversas com bandas e artistas, notar que uma obra continua se desenvolvendo após seu lançamento. Tem a ver com novos arranjos que as músicas ganham ao vivo, mas também com novas perspectivas que os autores adquirem em relação aos seus próprios trabalhos. O que aconteceu com Outono no Sudeste (2018), entretanto, foi a noção que Mauricio Pereira teve de que o álbum se desenvolveria pouco enquanto obra: “É um trabalho pronto – por mais pecado que seja dizer isso”.

Foi o que ele contou ao Música Pavê cerca de um ano e meio após uma entrevista sobre o álbum, pouco depois dele ter saído. “Acho que um trabalho fica pronto mesmo na estrada”, comenta o músico, “e, no caso do Outono, comparado a outros discos meus, ele já tá pronto. Daqui 50 anos, se eu viver tudo isso e tiver que fazer outro show dele, será como ele já está escrito. Eu acabo refazendo arranjo dos outros, mas esse é uma obra pronta em um nível que eu nunca fiz, nem no Mulheres Negras. Posso fazer que nem uma sinfonia, escrever e mandar para uma orquestra tocar. A concepção é muito amarrada, tudo muito pronto e tudo muito ‘sem querer querendo’. É um disco muito denso, muito coeso”.

“Entendi melhor o inconsciente do disco”, comenta Mauricio ao olhar para esse ano e meio da obra no ar: “Entendi o conceito de outono. É uma meia estação, ele não explode como o verão ou implode como o inverno. Ele é de meias sensações, meios tons, meias cores. Por isso que ele é tão introvertido”.

Essa compreensão vem também de como o álbum se apresenta ao vivo, com shows em dois formatos: O de banda completa (“que é como o disco está escrito”) e Outono Micro, apenas com Mauricio e o músico Tonho Penhasco na guitarra. Falando sobre esse segundo, ele comenta que “me fez mergulhar muito no universo das letras. Eu tive que senti-las de um jeito que eu não sentia no começo, me fez mergulhar na poesia. Quando volto para os shows com banda completa, eu tô inteiro. E eu acho que a banda cresceu muito, e que eu também estou interpretando melhor. É uma coisa que vem com o tempo mesmo”.

Em meio a esses processos mentais e interpretativos, veio a ideia de lançar Outono no Sudeste também em vinil, algo inédito em sua carreira solo. Vendido pela plataforma Catarse, em diversos pacotes promocionais, o projeto veio após sugestão – ou melhor, pedidos – de várias pessoas ao redor de Mauricio. “O público estava pedindo um vinil”, conta ele, “o Gustavo (Ruiz, produtor do disco), o Martim (seu filho Tim Bernardes), só gente mais nova do que eu (risos). Esse processo [de lançar uma versão em vinil] é super engraçado. O disco soa diferente. Ele me lembra coisas que eu ouvia no passado, quando ainda não era músico. Só de pôr na vitrola, já fica diferente, o conceito de álbum fica mais forte, a capa também”.

“Eu tô descobrindo qual é a viagem de fazer vinil, que eu acho que é algo que tem tudo a ver com o Outono, porque ele pede uma atenção repousada, linear”, comenta o músico, “acho que ele é um disco de longo prazo. Eu demoro pra fazer um disco autoral novo, vou levar uns dois ou três anos ainda.  Acho que meus trabalhos estão cada vez menos datados. Eu venho descobrindo isso desde que saí do Mulheres Negras, há quase 30 anos. Meu trabalho depois da banda se tornou muito de cantautor, que é o cara que – não tem jeito – você tem que parar, encarar um monte de letra e estados emocionais. E eu acho que o Outono não só nas letras, mas até no andamento, tem uma coisa ali que coloca as pessoas mais atenta”.

“Eu sou super crítico e sei o quanto de imperfeição tem no Outono, mas sou muito satisfeito com ele. É um marco para mim, ele confirma ou desmente muitas noções que eu tinha sobre minha música. Por isso que eu digo que ele é uma obra acabada, ele esclarece muito a minha trajetória. Eu não sei o que vou fazer depois (risos). Mas eu ainda tenho um tempo pra digeri-lo”.

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