Marina Melo sente que “O Mundo Acabou, mas Continua Girando”

foto por laís aranha e gustavo fraza

O EP O Mundo Acabou, Mas Continua Girando dá continuidade ao que Marina Melo fez no álbum Estamos Aqui (2019), mas contextualmente àquilo que marcou nossa existência nos últimos meses – a pandemia do Covid-19. De certa forma, é como se a obra da artista recebesse uma atualização para incorporar os aprendizados do confinamento à perspectiva já trabalhada antes: “A exuberância que a vida tem e também os seus horrores”.

Falando ao Música Pavê, a cantora e compositora comenta ser essa a sua “obsessão artística”, “a dualidade entre a tragédia e o beijo na boca. É ver as notícias no jornal e ter a necessidade de chamar alguém de ‘meu amor’. Me instiga muito essa simultaneidade da beleza e do terror”.

Formado por três músicas, o EP foi todo produzido durante a quarentena. Inicialmente, Marina achava que trabalharia versões do álbum anterior, mas a produtora Naná Rizinni sugeriu que gravassem novas – “essas já existem, vamos fazer outras”, relembra Marina. No processo de montar esse repertório, ela percebeu que gostaria de trabalhar a dualidade presente em sua obra desde o primeiro disco (Soft Apocalipse, 2016) e explorar “o que significa estar aqui nesse momento histórico e ainda estar vivendo tanta coisa por dentro”.

Marina conta que, inicialmente, a última faixa de O Mundo Acabou, Mas Continua Girando seria outra composição, chamada Sorriso Verde e Amarelo. “Ela falava muito de morte, desse nosso país destroçado”, diz ela, “colocava o dedo na ferida com uma brincadeira, um tom jocoso, mas era uma música pesada. E eu falei ‘gente, eu já tô me sentindo tão pesada, as pessoas também, a gente já não tá legal’. Então eu optei por não trazer no repertório uma música tão mortífera, até porque eu não sei com quais afetos eu estaria mexendo ao falar disso – pessoas estão perdendo o pai, ou a mãe, irmãos… não sei o que eu provocaria nelas. A gente está em um momento muito sensível, eu estou muito sensível”.

Por isso, além da faixa-título e de Cara Vizinha, o disco traz Segura Firme na Live da TT, música que diz que “tudo quer cair, mas eu olho para a imensidão da vida”. “Esse EP aponta pra dois lados – a contradição de ‘acabou, mas continua’ presente na capa, com olhares para direções opostas. Queria que essa música falasse do que continua girando, porque eu preciso continuar girando”, conta Marina.

O próprio nome O Mundo Acabou, mas Continua Girando é anterior à pandemia, e essa música estava perdida no gravador da cantora, que logo viu que deveria chamar o disco assim. “Não tem nome que defina melhor o que eu tô sentindo agora”, explica ela, “pra mim, é muito importante estar afinada com o meu tempo. Se não for assim, nem tem graça”.

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