Livia Nery: “Música é minha primeira, segunda e terceira camada”
“Eu era uma baiana que andava por Salvador com fone de ouvido escutando trip hop, músicas feitas em outras condições até climáticas, né? Andando naquele calor ouvindo umas músicas melancólicas, feitas por quem nunca vê o sol. Esses encontros resultaram em uma vontade de fazer música que misturasse a Bahia com muitas outras referências”.
Não é difícil notar como Livia Nery tem o fazer música como muito mais do que um ofício, mas uma verdadeira paixão. Já no título de seu novo álbum, Estranha Melodia, se percebe uma metalinguagem que explicita como som, ritmo e melodia são seus temas de maior interesse.
“Não sou uma dessas artistas globais, que se interessam muito por cinema e por outras artes”, contou ela ao Música Pavê, “meu maior interesse é música mesmo. A música é minha primeira, segunda e terceira camada”.
Radicada em São Paulo – onde lança hoje, 20, o álbum no Mundo Pensante -, Livia co-produziu a obra ao lado de Curumin, além de cantar e compor para o disco. “Meu trabalho é em geral muito voltado para a música”, comenta a artista, “a faixa-título tem esse desejo de brincar com a metalinguagem, porque é uma melodia que narra seus próprios eventos. A gente quer convidar o pessoal a embarcar em uma história que é eminentemente musical”.
Sobre a produção de Estranha Melodia, ela conta que muito partiu de seu interesse em “uma camada da música brasileira que começou a usar sintetizador e a brincar com bateria eletrônica lá nos anos 1970 e 80, esse território onde harmonias diferentes invadem a canção. É o resultado de umas misturas que a música brasileira apresenta, que bebe muito de ferramentas que chegam de fora ao Brasil”. Da mesma forma, há um lado no disco que remete a uma estética mais tradicional, principalmente na faixa Cantaria (não por acaso, também metalinguística), fruto de uma inspiração em Elomar, “é um cantador da Bahia com característica muito peculiar em relação ao cantador do Nordeste”, como ela conta. Entre experimentações e referências folclóricas, nasce uma obra que não se despe de um véu pop.
“Isso foi uma coisa pretendida”, diz Livia, “quando você cresce ouvindo rádio, que foi o meu caso, tem muitas músicas que você ama. Quando você está no chuveiro e quer lembrar de uma música foda da sua vida, vamo combinar que ela muito provavelmente tocou no rádio. Esse poder da canção radiofônica é muito grande no nosso universo de afeto. Sou muito entusiasta de buscar essa simplicidade”.
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