Faixa a Faixa: Lana Del Rey – “Norman Fucking Rockwell”

Norman Fucking Rockwell pegou a equipe Música Pavê de surpresa. Ou melhor, um ano após os primeiros indícios que Lana Del Rey lançaria seu melhor trabalho, os pavezeiros ainda não estavam certos da força que o disco teria. Aí, rolou o play.

É aquela Lana que já conhecíamos – a do melodrama exagerado e romances decadentes -, só que agora em um novo cenário: A Califórnia ensolarada e idealizada nos filmes. Lá, ela encontrou uma nova leveza para suas músicas, amparadas por uma timbragem caprichada nas mãos do produtor Jack Antonoff (fun., Bleachers, Red Hearse).

Eis um pouco do que o pessoal por aqui pensou enquanto ouvia o álbum, cada um dentro de sua experiência, visão e repertório pessoal. E você, que achou de Norman Fucking Rockwell?

Norman Fucking Rockwell

É o início do filme, o fade in antes dos créditos iniciais. A instrumentação amanhece aos poucos até o vocal da cantora aparecer como um sol entre as nuvens. Ele brilha, mas é encoberto de tempos em tempos, como se desse a dica de que o que ouviremos a partir dali pode ser familiar em diversos momentos, mas há sempre espaço para o inesperado. (André Felipe de Medeiros)

Mariners Apartment Complex

Ela tem ritmo de balada romântica, com os mesmos elementos da primeira faixa, junto de uma bateria constante. Mariners Apartment Complex cresce ganhando camadas de intensidade, deixando a sensação de algo grandioso, típico da artista, e muito assertivo. (por Lucas Gabriel Bosso)

Venice Bitch

Em dois minutos de música há quase tudo que se costuma esperar de um single folk-pop lançado em 2019: uma introdução atraente, uma estrofe, uma ponte e um refrão repetidos por duas vezes, com melodias memoráveis e ótimas letras. A partir daí, a faixa é preenchida principalmente por solos sintetizados e passagens instrumentais atmosféricas sem grandes pretensões progressivas, totalizando – pasme – quase dez minutos de extensão. Os serviços de streaming, que pagam por plays e não por tempo de execução, estimulam a produção de álbuns cada vez mais picotados. Não à toa, os interlúdios estão na moda. Com Venice Bitch, Lana reforça sua obstinação por um lugar artístico singular, ainda dentro do universo pop. (por João Barreira)

Fuck it I love you

A faixa nos mergulha no sombrio e, mesmo falando sobre amor, nos entrega a forte dor da rejeição. Lana canta perto do microfone e não pronuncia suas palavras claramente, mas isso encaixa com a música. Ela está pensando em muitas coisas ao mesmo tempo e só quer uma escapatória. Não é à toa que ouvimos leves referências a Dream a Little Dream, de Ella Fitzgerald. Lana só quer alguém que a abrace e a faça se esquecer dela mesma. (por Carolina Reis) 

Doin’ Time

No videoclipe da canção, Lana cresce, literalmente, cantando as particularidades e a rotina de um relacionamento/própria personalidade. A cada estrofe, surge a impressão de ser aplicado o título da canção na própria vivência narrada: Cumprindo a pena. Outra curiosidade, que procura atenção, apontada pelo ouvido, é a levada/sonoridade se mostra mais hibrida, distante daquele densidade de outrora. É mais leve, solar. (por Rômulo Mendes)

Love Song

Transitando entre o movimento e o estático, a faixa em questão carrega uma velocidade em iminência (não parece não se concretizar). O violino reforçar o aspecto melancólico de uma relação que se estabelece em meio a bagunças emocionais – algo recorrente e repetitivo no trabalho da artista. Uma questão ocupa um lugar de destaque dentro dessa letra: “Is it safe, is it safe to just be who we are?”. O intrigante questionamento reflete dinâmicas humanas pautadas em aparências. Então será que é seguro sermos nós mesmos? (por Letícia Miranda)

Cinnamon Girl

As canções de Lana não são somente tristes, e Cinnamon Girl percorre a profundidade em sua essência: A mulher e a sua fala. Em contrapartida, a todos os ouvintes, fica a impressão do encontro com a palavra cantada, gerando consequências, tipo a alma engasgando, reflexão na sua totalidade.  Sua voz desacelera a própria vida e embarcamos nessas histórias, puxando a nossa subjetividade para voar. Viagem sentada. Para mim, que mais enxerga beleza no menos, isso daqui é uma preciosidade. (por Rômulo Mendes)

How to Disappear

Em um dos melhores momentos líricos do álbum, Lana versa com detalhes sobre amores que levaram a sua invisibilização. A narrativa melancólica sobreposta à simplicidade do arranjo evoca imagens de um eu-lírico que conta histórias particulares debruçado sobre a bancada de um bar vazio e empoeirado. O clima cinematográfico de musical é intensificado por uma valsa de sinos natalinos e guitarras brilhantes que surge ao decorrer da canção. Nas sugestões de pesquisa da Internet, a faixa estará, sempre e ironicamente, associada a How to Disappear Completely, da banda Radiohead, com quem a artista teve problemas recentes envolvendo direitos autorais. 

California

Essa faixa soa como uma continuidade de Love Song, essa percepção vem pela sonoridade e pelo ritmo do piano. O instrumento permeia todo o disco como um personagem importante, soa como uma linha horizontal que vai cortando uma estrada imaginária e entrelaçando diferentes paisagens. A cantora entoa desejos – como se escrevesse uma carta – a um outro que parece se esquecer que não precisa ser mais forte do que realmente é. Além disso, o dedilhado de violão remete a um “está na estrada”, que se liga ao verso “I’ll pick you up”, trazendo a sensação de que ela está indo ao encontro desse outro. (por Letícia Miranda)

The Next Best American Record

Se em boa parte do disco Lana usa a sua fórmula melancólica para criar algo novo, nesta faixa ela se segura apenas no formato de sempre, como uma referência a seus antigos álbuns. O refrão não causa tanto impacto, o que torna a faixa apenas sólida, executando a proposta sem almejar muito.  (por Lucas Gabriel Bosso)

The Greatest

“I miss Long Beach and I miss you, babe” – em um bom uso de clichês, a artista se apresenta em um dos momentos mais vulneráveis do disco (ou da carreira). Nostálgica e confusa – sem entender um Kanye West loiro e contemplando os incêndios florestais em Los Angeles -, ela narra a incapacidade de lidar com um turbilhão de sentimentos e o desejo por um escapismo momentâneo no uso de substâncias. (por André Felipe de Medeiros)

Bartender

Uma citação de Cindy Lauper nunca foi tão melancólica: “Girls just wanna have fun” ganha um novo peso na voz de Lana, que completa a estrofe com “the poetry inside of me is warm like a gun”. De instrumentação simples, a canção vê os vocais da cantora multiplicados ao fundo, enquanto ela narra uma história de amor marcada pela segurança que ela encontra no parceiro, que topa fugir com ela para se refugiar de tudo e todos. (por André Felipe de Medeiros)

Happiness is a Butterfly

Lana mostra mais uma vez sua habilidade com palavras e canta sobre rejeição e uma noite bêbada de maneira bonita. Na verdade, do jeito que só ela sabe fazer. Enxergamos as cenas perfeitamente e, mesmo sendo desenhadas por Lana, conseguimos nos colocar em seu lugar. Entendemos aqueles medos que a circulam e as cicatrizes que o passado deixa. (por Carolina Reis)

hope is a dangerous thing for a woman like me to have – but I have it

Lana brinca com contrapontos e contradições. Se na faixa anterior ela mostra uma visão sombria sobre o futuro, apenas para encerrar com um olhar otimista, na canção derradeira a artista eleva isso à máxima potência do disco. Evocando Sylvia Plath e a melancolia ao mesmo tempo venerada e criticada de suas composições, a cantora assume uma voz trágica de quem perambula erroneamente até chegar à conclusão de que vale a pena ter esperança – por mais perigoso que seja. (por Nathália Pandeló)

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