Quatro amigos, quatro artistas individuais, quatro vozes que se unem em um grupo. Verdadeiramente, um grupo. Bala Desejo é, para nossa sorte, a junção de Dora, Julia, Lucas e Zé.
Quando os quatro vieram ao Podcast Música Pavê, no episódio Como Nascem As Músicas, explicaram o processo criativo, as viagens e os caminhos para criar o que hoje são lado-A e lado-B do disco SIM SIM SIM, produzido pelo próprio quarteto e por Ana Frango Elétrico, com supervisão de direção artística de Marcus Preto e lançado pelo selo Coala Records.
Dora Morelenbaum é cantora e compositora de voz aveludada, doce e inconfundível. Em 2020 lançou o single Dó a Dó, uma parceria sua com Tom Veloso e em 2021 saiu seu primeiro EP, Vento de Beirada. O álbum lhe rendeu grandes elogios e um convite para cantar com Caetano Veloso em seu mais recente disco, Meu Coco.
Julia Mestre é cantora, atriz (vide a série Tá Tudo Certo, da Disney+), baixista e compositora de mão cheia. Desencanto, seu EP de estreia, nasceu em 2017, seguido do primeiro disco de carreira, o elogiado Geminis, em 2019. Parceira de diversos artistas, Julia coleciona hits como Love Love e India, que ficaram conhecidas na voz dos Gilsons. Em 2022 já demonstra perceptível mudança de ares, com o lançamento do single Meu Paraíso.
Lucas Nunes é cantor, compositor, produtor musical e multi-instrumentista. Lançou, em 2015, o álbum Continuidade dos Parques, da banda Dônica, acompanhado de Zé Ibarra, Tom Veloso e Miguel Góis e Felipe Larrosa. Em 2021, no auge dos seus 24 pouquíssimos anos, produziu o trabalho mais novo de Caetano Veloso, considerado por muitos, inclusive o Música Pavê, um dos melhores discos do ano.
Zé Ibarra é cantor, compositor e, também, multi-instrumentista. Fora seu trabalho com a banda Dônica e a turnê que fez com Milton Nascimento, o artista lançou como intérprete os singles Vai Atrás Da Vida Que Ela Te Espera, de Guilherme Lamounier, Meu Bem Meu Mal, em participação no álbum Nenhuma Dor, de Gal Costa, e Bédi Beat, uma releitura de uma canção de Duda Beat, que a acompanha na faixa.
Vê-se que, individualmente, os quatro têm muito o que entregar de música brasileira de qualidade. Mas, juntos, surge algo novo. Bala Desejo não é uma banda, como eles mesmos ressaltam. É um quinto elemento nascido de uma entrega desnuda, desprovida de vaidade individual. São vozes que se misturam e se confundem, arranjos em conjunto, composições a oito mãos. As canções resgatam a tropicália, a simplicidade dos versos repetitivos que fixam na mente, e são, em sua maioria, dançantes e solares, fazendo oposição veemente ao momento de angústia e isolamento que – ainda- vivemos.
Ouso dizer que encontro um pouco de Rita Lee em Lambe Lambe e Baile de Máscaras – e talvez essa tenha sido mesmo a intenção. Encontro um pouco de Novos Baianos em Dourado, Dourado, com violões em destaque e refrão sem letra. Encontro um pouco de Gal Costa em Neste Sofá, talvez a canção mais bonita do disco. Mas isso são apenas referências que me vêm à cabeça, talvez por achá-los jovens demais para o tanto que entregam neste grupo e neste álbum. E eu encontro muito de Bala Desejo em todas as faixas, como um movimento novo de conjunto (ou velho em resgate), como uma onda de boas ideias bem aplicadas. Vale a pena conhecer.