Facção Caipira: “A Gente Queria Mudanças”

foto por camila padilha

Conhecemos Facção Caipira como um quarteto acompanhado de um chapéu que te contava em todas as entrelinhas qual tipo de rock a banda fazia (caso ter “Caipira” no nome não trouxesse ao público um referencial imediato do blues rock). Anos depois, o grupo precisou terminar para renascer na formação de trio acompanhado do recém-lançado Do Lugar Onde Estou Já Foi Embora – disco que, mais do que mostrar esta nova fase do grupo, atesta também seu amadurecimento.

A obra, “um apanhado de três anos” nas palavras do vocalista e compositor Jan Santoro, sintetiza o que os músicos viveram no período pessoalmente e enquanto banda, quando passaram pelas mais variadas dificuldades do cenário independente, incluindo um episódio de assalto a seus equipamentos. “O que está nesse disco é muito o que a gente viveu, foi um processo muito natural”, conta o baterista Renan Carriço ao Música Pavê, “a gente foi morar junto e tocava quase todo dia. Tomava uma cerveja, brigava, ria, tudo foi direcionado pras músicas”. “Cada uma delas tem um papel muito distinto”, comenta Jan, “suicídio, depressão, assalto, luta no meio independente: O disco conta um pouco disso tudo”.

O contato com outros nomes da cena foi também peça chave para que Facção Caipira entendesse esse seu novo momento. “Passei um tempo mais conectado à música brasileira de hoje”, conta Jan, “vi muita banda independente fazendo muita parada foda e revisitar os clássicos também, os bregas. Foi bom perceber que eu não precisava ter uma voz agressiva, que às vezes o rock tem”.

Renan comenta que “Jan mudou muito a forma de escrever, ele tá olhando com mais carinho pras letras. Ele mudou completamente a maneira de usar as palavras nas música. No Homem Bom (o disco anterior), ele encarnava muito um personagem, um tipo de diálogo. Nesse, ele já se entendeu como multifacetado e falou sobre tudo o que acontece em sua vida”.

“Eu estava conectado a uma proposta artística que era uma soma de coisas que eu sinto”, explica Jan, “o apelo do blues rock, a imagem de um chapéu… Quando um conceito é forte, cada vez mais te empurram contra isso. Foi uma conexão mútua minha com um conceito que, na verdade, eu nem sei se curto tanto (risos)”. “Chegou uma hora que isso não contemplava mais a gente”, diz Renan, “a gente gosta da vibe do blues, tem umas coisas no [novo] disco que remetem àquela fase, mas tem muito mais.

No começo, eu fiquei um pouco preocupado, porque eu sabia que a galera que escutava a gente gostava muito daquela vibe“, comenta o bateirista, “mas a gente foi mostrando pros amigos as prés que a gente gravava e todo mundo foi recebendo tão bem que esse medo passou muito rápido”.

“Era uma fase que a gente queria mudanças”, explica Jan, que conta que a experiência de gravar um novo álbum “é um processo contínuo sempre, a gente sempre amadurece em alguma direção”.

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