The Outs: “A gente sempre gostou de misturar sons diferentes”

foto por coagula

Outubro de 2018 foi um dos momentos mais característicos do tempo tão confuso e complicado que o Brasil vive politicamente, com suas muitas histerias coletivas na era da pós-verdade. E foi também quando The Outs resolveu colocar no mundo seu Enquanto o Futuro Não Vem, um disco um que traduz um pouco da perspectiva do trio sobre tudo isso que estamos vivendo.

Velha conhecida entre os ouvintes da neopsicodelia brasileira nos últimos anos, a banda carioca (agora radicada em São Paulo) já viveu muitas experiências entre reality shows, festivais e até uma mudança e sua formação, o que a levou ao lançamento de Percipere (2016) em português (ao invés do inglês de antes). Com o segundo álbum lançado e prestes a fazer show em São Paulo (mais detalhes abaixo), os músicos Dennis Guedes (guitarra/baixo/vocais) e Vinícius Massolar (guitarra/teclado/vocais) falaram ao Música Pavê sobre esta nova fase quase ao mesmo tempo em que o clipe de Mistério era lançado.

A gente sempre fez um som que a gente curtia, essa sempre foi a premissa”, explica Dennis, “e a gente conseguiu definir uma estética sonora sozinho, experimentando e tal. A diferença que eu vejo mais clara entre o que a gente fazia antes e o que faz agora é que a gente focou mais nas canções desta vez. Antes, a gente focava muito no lance da sonoridade, da ambiência, da experimentação mesmo. Nesse, a gente tentou achar um meio termo entre olo-fi e uma atmosfera mais abrangente”. 

A gente sempre gostou de estéticas novas, de misturar sons diferentes”, explica Vinicius, “a gente faz uma música e, enquanto a gente tá compondo, a gente já pensa na produção, como ela seria, já vem o todo”. Ele conta que Enquanto o Futuro “começou no sofá de casa e terminou no estúdio da Deck”, com a banda aproveitando a produção de Rafael Ramos para encontrar um caminho mais definido para as tantas inspirações que coletou ao longo do caminho – e a temática delicada proposta em várias das canções.

Eles contam que a saída de Tiago Carneiro, que compunha as letras antes, desencadeou o processo das novas letras em nossa língua-mãe. “A gente já observava naquela época ou antes disso esse movimento de ‘a gente é brasileiro, a gente tá no Brasil, a gente tá tocando pra um público que fala português, como a gente vai comunicar uma coisa pra essa galera e fazer elas questionarem se a gente tá falando uma língua estrangeira?'”, comenta Dennis, “aí chegou agora essa história de conservadorismo e as pessoas confundem as coisas e ficam muito deslumbradas com o estrangeiro. A gente percebeu que tinha que trazer [as letras] mais pra cá pra comunicar com essa galera”.

Foi bem difícil, mas foi saindo com o tempo, a gente foi se acostumando a compor e a saber o que a gente queria falar nas músicas”, explica Vinicius, “e a gente quis falar mais a fundo, falar de coisas que estão tocando a gente ou pessoas que a gente conhece – justamente esse cenário esquisito que tá rolando”. Dennis acrescenta que as letras de cunho crítico no disco “não são óbvias, é tudo meio metafórico, mas, se você parar pra pensar, é um disco muito desse nosso momento. A gente ficou muito perdido com a situação política, essa quebra de contato entre as pessoas, que se dividiram. Acho que o único jeito de fazermos as pessoas criarem essa comunicação é entendendo a mensagem que a gente quer falar e tentar ajudar também de alguma forma, todo mundo se ajudar junto, porque tá todo mundo no mesmo barco”.

Além de compositores e produtores, os músicos que formam The Outs são também ouvintes muito ativos, o que acaba fortalecendo os conceitos e as decisões estéticas que o trio propõe. “Qualquer experiência que a gente tem acaba somando pra alguma coisa”, conta Vinicius, “você vê um show de uma galera que nunca ouviu na vida, vê um cara fazendo um detalhe diferente ali e te inspira, sempre abre sua cabeça de alguma forma. Acho que o lance hoje é essa mistura de sons de uma forma que faça sentido pra galera”. 

Tá todo mundo muito interessado em coisas sinceras que toquem as pessoas”, comenta Dennis, “tem rolado essa tendência das bandas falarem mais dos seus momentos. Acho que esses tempos de crise são bons nesse sentido, de fazer a galera refletir e usar o que ela pode pra influenciar. E eu vejo esse movimento em várias bandas de uns três anos pra cá, e eu tô gostando de ver como isso tem acontecido”, ao que Vinicius completa com “apesar de tudo” e Dennis, rindo, concorda.

The Outs: Lançamento do Disco em São Paulo

08 de fevereiro, a partir das 21h
Casa do Mancha (Rua Felipe de Alcaçova 89, Vila Madalena)
Ingressos: 20 reais
Classificação: 18 anos

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