Entrevista: Planar
Lançar o primeiro disco cheio é sempre um desafio maior para novos artistas. Ter um registro completo, com dez, onze ou doze faixas requer um trabalho melhor desenvolvido, mais coeso e que mostre a identidade da banda como um todo. Mostrar sua identidade é, aliás, a necessidade de todo artista que se propõe a fazer um trabalho autoral. É o caso dos cariocas da banda Planar.
O grupo teve dois EPs lançados antes de soltar o primeiro disco cheio, Invasão, em 2014, álbum este que alavancou o quarteto – formado por Leonardo Braga, Leonardo Villela, Ivan Roichman e Alan Lopez (que entrou oficialmente após o lançamento) – a novas alçadas, como clipe na televisão, shows em outras cidades e um reconhecimento de público e mídia. Mas, mais do que isso, Invasão revelou duas das melhores características da Planar: pluralidade e precisão.
Um ano após a estreia oficial, o quarteto continua colhendo frutos e agora celebra o aniversário de Invasão fazendo o que melhor o representa: tocando as músicas em cima do palco. Batemos um papo com Léo Braga, vocalista e guitarrista da banda. Entre outras coisas, ele nos falou um pouco do processo de composição de Invasão, de como enxerga o álbum hoje e de como ele lhe soa confessional.
Música Pavê: Quais eram as suas percepções quando a banda começou a compor Invasão?
Léo Braga: Começamos a compor porque tínhamos a urgência de lançar um trabalho que nos representasse, que tivesse um pouco da identidade de cada um dos integrantes da banda e das pessoas que convidamos pra trabalhar com a gente no disco. Vínhamos do lançamento de EPs, com três a cinco músicas, e precisávamos de algo que pudesse entregar mais momentos ao ouvinte e contar uma história completa.
MP: Completando um ano do seu lançamento, como você enxerga o álbum hoje em dia?
Léo: Acho que todo artista repensa muito seu trabalho. Toda vez que escuto o disco, penso em uma textura que poderíamos ter colocado, uma ambientação e até mesmo melodias. Acho que isso é normal e até saudável. De certa forma, intriga e nos coloca em movimento, pensando e criando coisas novas. Mas como boa parte do repertório foi composta enquanto gravávamos o disco (e esse processo demorou quase um ano) ainda somos bem resolvidos com os caminhos e canções ali. Ainda enxergamos o disco como uma novidade.
MP: O que você, pessoalmente, destaca em Invasão?
Léo: Invasão é um álbum muito confessional. Pra mim, chega a ser quase fotográfico. No sentido de que as músicas me levam exatamente para onde estava quando escrevi cada palavra que está ali. Além disso, acho um disco bastante plural. Conseguimos colocar diferentes momentos, mas dentro do nosso universo. A sequência Aqui de Cima – Salão de Festas – Conversa Debaixo D’Água – Vendaval expressa bem isso.
MP: As letras são um dos pontos fortes do álbum. Como é seu processo de composição?
Léo: Falamos sempre dos nossos anseios, do dia-a-dia e dos relacionamentos. A maioria das músicas tiveram suas ideias iniciais escritas de maneira muito rápida. Em um desses raios de criatividade que às vezes aparecem quando você está andando na rua, que você pega o celular correndo pra gravar o esboço da melodia e parte da letra pra não perder a ideia. A partir daí, virava uma versão tímida no violão para entender e estudar a harmonia e, depois, ganhar vida própria no estúdio com os arranjos.
MP: Já na questão de sonoridade, o que a banda busca como um conjunto?
Léo: Sempre buscamos uma sonoridade natural e que tenha personalidade própria, com a identidade dos quatro integrantes. As canções precisam falar um pouco de cada um. Isso é o que julgamos como mais importante.
MP: Dá pra mensurar o tanto de portas que Invasão abriu?
Léo: De certa forma sim. Foi esse disco que nos colocou na nossa gravadora atual, a Deckdisc. Além disso, vimos nosso videoclipe sendo veiculado por emissoras de TV, levamos o show para outras cidades, fizemos um monte de amigos e por aí vai. Mas acho que mais importante do que isso foi a maneira como esse disco fez a gente se enxergar como banda e até repensar a nossa forma de trabalhar. Como disse antes, nós sentíamos falta de ter um produto pudéssemos apresentar como sendo o “nosso trabalho” e que tivesse a nossa estética. E acho que essa foi a maior porta que esse disco abriu. Trouxe mais pessoas para perto, que se identificaram com as histórias e com as angústias que colocamos para fora nas composições. Ver que a troca com o público está aumentando a cada show é o que tem sido mais legal de acompanhar.
MP: Já estão pensando no segundo álbum ou Invasão tem muita lenha pra queimar ainda?
Léo: Acho que estamos exatamente nesse meio de campo. Acreditamos que ainda existem faixas no disco que merecem uma atenção maior e por outro lado já estamos começando as conversas sobre um material novo. Ainda não pensamos nos caminhos e direções, mas compositor é inquieto. Não dá ficar sem escrever, é inevitável.
MP: Como você enxerga toda essa movimentação de bandas que acontece no Rio de Janeiro e em outros lugares?
Léo: Muito saudável e muito sincera. As bandas estão dispostas a trabalhar, se unir e o solo está fértil. Tem muita banda interessante aparecendo. Isso é o mais legal.
MP: Tem alguma indicação de som para escutarmos dessa safra?
Léo: Sempre! Uma das indicações é a Duda Brack. Que lançou um baita disco, chamado É. Vale muito ouvir. Fez participação em um dos nossos shows do Solar de Botafogo e tem uma voz incrível. Outra banda que indicamos são nossos amigos de estrada Menores Atos. Talvez uma das bandas que fizemos mais shows juntos nos últimos meses. Baleia, que está lançando um material novo incrível. Entre muitas outras, como Stereophant, Hover, Canto Cego, Ventre, Facção Caipira, Dandara e por aí vai. Muita coisa legal, mesmo!
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