“Cinco” Mostra o Silva de Sempre, mas em Novo Momento

Conversar com Silva sobre seu quinto álbum, Cinco, é perceber não apenas as diferenças do disco em relação aos seus anteriores, mas principalmente as semelhanças. Isso porque, como o próprio músico explica, a maneira com que ele trabalha – o famoso “mão na massa” – amadureceu, mas ainda é a mesma de 2012 ou Vista Pro Mar.

“Eu continuo produzindo meus discos, fazendo os arranjos, tocando os instrumentos”, contou ele ao Música Pavê às vésperas do lançamento de Cinco, admitindo que compreende as novidades em seu trabalho como fruto de amadurecimento. “Tenho muito carinho pelo que já fiz, muito carinho pela minha história”, diz ele com sorriso no rosto, “se eu fico muito tempo sem ouvir meus discos, eu vou lá, ouço de novo e ‘caraca, olha que engraçado, olha o que eu fiz aqui, como a voz está diferente’. Acho que é bom mudar, dá um gás novo para você poder fazer as coisas, sabe?”.

Para a produção de Cinco, Lúcio Silva tinha uma visão nítida do que queria com o álbum a partir tanto do que já realizou antes quanto do que tem ouvido no momento. Ele explica que, por ser “bem nerd com programas de produção musical”, foi ao estúdio já com as demos prontas feitas em casa, “com bateria e tudo – ia sampleando coisas, fazendo beats, tocava guitarra, botava um baixo e não sei o quê. Entrei no estúdio já com as músicas bem definidas esteticamente, aí eu fui em busca desse som. Sampleei baterias de jazz, coisas antigas, aquelas partes da música em que a bateria fica solta. Quando fui tentar fazer esse som no estúdio, foi super difícil. Eu fiquei um mês e meio só pra fazer as baterias desse disco – era dois ou três dias para cada música”.

“No começo, eu queria preencher as músicas, me dava uma agonia porque sempre parecia que faltava alguma coisa. Então, eu preenchia todos os espaços dela, eram muitas camadas, muitos synths e muitas coisas. Eu gostava muito disso, como nos sons que eu ouvia na época. Depois, acho que com o tempo e mais maturidade, comecei a me perguntar se precisava de tantas coisas”.

Ao ser perguntado sobre a importância que ele vê de cada obra ter uma identidade muito definida dentro de sua discografia, Silva conta: “Sempre fui muito temático, sempre achei isso mega importante – o que eu vou falar aqui? Que cor que esse disco tem? Ele é mais azul piscina, esse é mais verde (risos). Esse disco, para mim, tinha a cara de amarelo, de coisas douradas, que se ligam a coisas de candomblé que eu tenho lido”.

“Eu sou muito privilegiado porque posso viver de música, mas viver de uma música que você tá enjoadíssimo de tocar, não acho que seja um privilégio tão grande – acho, na verdade, um porre”, comenta ele, “me sinto muito feliz de poder escolher o que vou fazer na carreira. Se não, você fica muito preso em uma ideia que já passou, já foi embora”.

Esta entrevista poderá ser ouvida na íntegra no episódio de quarta, 16, do Podcast Música Pavê.

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