Apanhador é Show
Eu não sei quantas vezes já vi Apanhador Só ao vivo – umas cinco ou seis? -, mas foram experiências suficientes pra eu apreciar e notar as diferenças entre dois “formatos” bem definidos: A festa com os hits do primeiro disco (Apanhador Só, 2010) e o espetáculo dissonante e cerebral com as músicas de Antes Que Tu Conte Outra (2013). O que eu e um bando de sortudos vimos na sexta, 22, em São Paulo foi uma terceira opção de show, que mescla sem medo o melhor de cada uma das anteriores. E o resultado foi certeiro, provavelmente o melhor momento que já vi do grupo no palco.
A noite começou com Bárbara Eugênia e um show que vi há poucas semanas, então confesso que minha expectativa estava mirando na chance de ver os gaúchos, até por saber que a próxima oportunidade de ver Apanhador ao vivo em São Paulo será apenas em 6 de abril, quando a banda toca no Lollapalooza. Ainda assim, vale dizer que Bárbara brilhou em meio às projeções e com participações de gente como Pélico e Tatá Aeroplano (que discotecou antes, entre e depois dos shows na noite).
Quando o quarteto subiu ao palco e mandou Mordido (que abre o disco novo), pensei já saber o que vinha pela frente – uma apresentação semelhante àquela do lançamento do álbum na cidade, que vi no SESC Belenzinho há três meses. Quando Alexandre (Kumpinsky, o vocalista) revelou “essa é a primeira vez que tocamos as músicas novas em uma casa de shows, não em teatro”, deu pra sentir o tom de novidade que a noite teria e, a partir daí, todas as expectativas foram superadas.
Faixas novas, como as ótimas Vitta, Ian, Cassales e Não se Precipite, foram ganhando aos poucos companhia de nossas velhas conhecidas, aquelas que a gente nem esperava ouvir durante o show antes do momento em que Alexandre revelou que eles tocariam algumas mais velhas, o público comemorou e ele retrucou: “Ah, então vocês não gostam das músicas novas?”, causando risos da plateia.
É claro que a gente gosta delas, Alexandre. Só que, depois de dois álbuns, um Acústico-Sucateiro e o pequenino, porém significativo, Paraquedas (2012), a gente nota que o melhor show é aquele que faz o possível pra dar conta de nos entregar tudo isso. E, felizmente, foi o que a Apanhador fez naquele 22 de novembro.
Um Rei e o Zé, Salão de Festas, Peixeiro, Na Ponta dos Pés, Nescafé e Paraquedas foram parte do repertório da noite, ao lado de novidades como Despirocar e outras como Torcicolo e Líquido Preto (que estão no segundo álbum, mas que já faziam aparições em shows há um tempo). E, quando Alexandre abriu pro pessoal escolher o que queria ouvir, Cartão-Postal foi uma das mais pedidas (eu disse que a gente gostava das músicas novas!).
Melhor ainda do que assistirmos às nossas favoritas ao vivo novamente foi experimentá-las com algumas mudanças que refletem mais do momento que a banda vive hoje, um lado criativo mais fora da curva e experimental (ainda mais que antes), com maior ênfase no peso e distorções das guitarras e na presença dos sintetizadores. Ou seja, só vantagens.
Penso que a grande conclusão da noite não foi o quanto essas músicas são queridas, nem como o grupo é de uma qualidade excepcional (como meu amigo e pavezeiro Dom de Oliveira disse enquanto montávamos nossa lista de cinco melhores bandas do mundo, Apanhador Só merece estar entre os melhores). O que ficou foi a certeza de que a única coisa melhor do que ver um disco sendo apresentado ao vivo é ter um show da banda, como um todo.
Que venha o Lollapalooza!
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