Agridoce, Por Que Tão Agridoce?
O rock nos últimos tempos tem sido marcado por um pouco de mau humor. A maioria dos “rockeiros” são marrentos, sempre na deles, alguns não se adaptam muito com loucuras de fãs, outros acham tudo isso desnecessário. Eles fazem música, sobem em um palco e cantam, mas, no fundo, são pessoas normais, iguais as que estão na plateia escutando. Não tiro a razão deles.
Uma figura que ficou marcada por sua marra foi a cantora baiana de rock Pitty. Eu, honestamente, sempre achei tudo isso compreensível. O trabalho dela é fazer música boa, enquanto ela cumprir com a parte dela, eu cumpro com a minha.
Só tive oportunidade de vê-la ao vivo depois do lançamento do seu último CD com a banda, Chiaroscuro. Em um show que começou perto do meio dia, acho que os óculos escuros e a falta de papo em cima do palco eram aceitáveis. O pessoal já é mal humorado, ainda pela manhã. Mas fui surpreendido por uma vocalista sutil que estava cômoda no palco e com o público, chegando a fazer algumas brincadeirinhas.
Um tempo depois, conheci a música Dezenove Vezes Amor, um projeto solo de Martin, guitarrista da Pitty, e Eduardo, baterista da banda. Um rock bem feito, seco só guitarra e bateria, sem frescuras. Procurando mais coisas desse projeto, me deparei com Romeu, com piano de fundo e a voz doce da roqueira Pitty.
“Seria um sonho?”. Dias depois li uma manchete: “Projeto paralelo de Pitty tem nome: Agridoce”, pouco tempo se passou e fiquei sabendo que tudo isso iria sair um CD, confesso que fiquei bastante animado e apreensivo ao mesmo tempo, “como será isso?”.
O disco saiu, eu escutei e é impossível não se surpreender. Violão, piano, xilofone, vozes gostosas. Um disco para dormir e amar, cheio de vida. Algumas músicas em português, uma em francês, outra em inglês, um cover e uma que mistura dois idiomas. A voz de Martin também marcou presença no álbum.
Não tive que esperar muito para vê-los ao vivo. Na metade do ano passado, vieram para Sorocaba para fazer dois shows. Eu fui, é claro. Um show lindo, não só pela música, ou pela projeção de imagens – que ia de filmagens a coisas que lembram o Windows Media Player – ou então pela presença da belíssima Pitty atrás do piano, mas o espirito, a sintonia e vibração que vinha do palco. Ali, para mim tudo ficou claro.
Agridoce, obiviamente. O projeto da dupla roqueira era a parte doce deles. Isso ficou bem claro nos diálogos que tinham com o público, as ironias, uma ou outra “tirada”. Entre uma música ou outra, Pitty falava “vocês estão me ouvindo? Estou um pouco rouca” e Martin tirava sarro da plateia, que, naquele dia, estava formada por menores de idade.
Numa certa altura da apresentação, Pitty se levantou e derrubou um copo de whisky. “Droga era o meu”, foi a reação dela. Mas, quando todos se calavam e começava a próxima canção, era tudo doce. Foi aí que eu compreendi: eles são ágrios, mas sua música doce, a junção perfeita.
Triste que isso é temporário. Caso você ainda não saiba, o show do Lollapalooza será o último da dupla Agridoce. O futuro dos dois músicos ainda está meio confuso para o público e talvez também para eles. Já houve boatos de que a banda Pitty iria voltar aos estúdios, outros disseram que a moça lançaria algo sozinha. Mas, o que quer que seja, esperemos que isso não demore, porque o rock brasileiro precisa de artistas inquietos como Pitty e Martin.
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