2019: Artistas Comentam o Ano na Música

Quais foram os músicos que os músicos mais ouviram em 2019? Mais uma vez, o Música Pavê convidou artistas e bandas para comentarem como o ano será relembrado por eles no futuro.

A pergunta para todos foi a mesma: “Quem marcou 2019 para você?”. E, como podemos notas, nossos convidados não se conformam com nenhuma regra de nenhum jogo e muitos preferiram responder como bem quiseram – para sorrisos e lágrimas do editor (talvez não nessa ordem).

Acompanhe o especial 2019 no Música Pavê

Ana Frango Elétrico

“Pra mim, a revelação do ano foi o JOCA. Sou suspeita pois é meu parceiro faz tempo e trocamos muito, tenho feat no disco. Mas JOCA lançou um álbum nesse segundo semestre que me virou inteiro: A salvação é pelo risco: o show do JOCA. Pra mim esse álbum tem que rodar muito ainda em 2020. Samples, memória, nostálgico e futurista!”

Teago Oliveira

Black Alien  – Pra mim, é um disco onde encontrei o discurso mais verdadeiro possível. Black Alien conseguiu fazer as melhores canções sem recorrer aos chavões fáceis e apelativos que cativam o publico hoje. Um disco simples, direto e muito transparente”

Pedro Menezes (Zéfiro)

“Em ano com lançamento do Thom Yorke, é difícil que ele não seja o destaque pra mim. E 2019 não foi diferente. Curti muito o novo disco da Céu, do Emicida e do Pedro Martins. Mas, se fosse pra escolher um, seria o Anima, do Thom. Como se não bastasse a música, o lançamento foi acompanhado de um curta maravilhoso, assinado pelo Paul Thomas Anderson (sim, tem no Netflix). Achei de uma força e de uma sensibilidade que só ele tem. A faixa Dawn Chorus é o ponto alto. A melodia tem basicamente uma nota, não tem batida, não tem falsete… e, mesmo assim, fala direto na alma”

Rebeca

Fka Twigs com o disco Magdalene. Nele, eu vi a potência da mistura entre a canção pop e a produção experimental. A forma com que ela construiu suas composições e produziu o disco é bastante singular, inspiradora e convidativa. O disco me passa uma sensação de pertencimento ao universo da artista e conseguir provocar isso nas pessoas é admirável. É um disco que ouço todo o dia”

Mateo Piracés-Ugarte (francisco, el hombre)

“Pensando nas coisas que vimos nesse último ano, tenho que ressaltar três shows. Pra começar, CimaFunk, de Cuba. Assistimos lá no Havana World Music e estourou minha cabeça sem dificuldade. Um show da música cubana de forma muito contemporânea. Já virou referência para novas músicas nossas da Francisco, El Hombre. O espetáculo que o Ska-P levantou no México e no Uruguai que assistimos também servem como uma grande aula de como fazer uma música que vincula política com movimento. Seu discurso e sua teatralidade deixam um show de 2h30 parecer curto. Não é à toa que sou fã desse criança deles. No Brasil, tô muito interessado em ver mais da Drik Barbosa. O show que assistimos dela no DoSol foi maravilhoso e potente. Ela e toda a equipe são muito coesas. O show vem com um impacto só. Pra finalizar, deixar aqui nossa grande admiração pelo trabalho do ÀTTOOXXÁ, que sempre nos inspira a trabalhar nosso público e nossa base. São incansáveis, criativos e grandes comunicadores da música baiana. Devo dizer: Latinoamérica tá cheia de banda maravilhosa. O ouro daqui é infindável porque vem do espírito”

Pablo Mello (Los Volks)

“É difícil apontar apenas um nome. Tivemos muitos lançamentos interessantes em 2019. Brvnks, Terno Rei, Raça e Walfredo em Busca da Simbiose me chamaram atenção ao decorrer do ano. No entanto, o álbum Par de Olhos, lançado pela cantora Yma, foi o que realmente me marcou. As canções quase sempre completam-se com o âmbito estético. Isso ocorre tanto nas fotografias que ilustram as faixas quando postadas via YouTube e fica bem mais explícito nas nuances dos videoclipes da artista. A suavidade no timbre dela também me remete rasamente à voz de Rita Lee nos tempos em que tocava nos Mutantes. Contudo, Yma utiliza dessa doçura em veias do dream pop – o que torna tudo ainda mais especial”

Chico Bernardes

“Creio que para mim, dentro dos lançamentos nacionais, Sombrou Dúvida dos Boogarins foi um disco bem interessante, trazendo climas novos e relembrando atmosferas já presentes nos discos anteriores. Gosto muito. Dentro do pessoal mais underground, o que mais me marcou foi o disco de Lauiz, intitulado Cabeça de Robozinho. Admiro esse retrato de criatividade tragicômica dentro do universo que ele criou, muito próprio”

Yo Soy Toño

“Em 2019, o que mais escutei foi o Violeta do Terno Rei. Acho que foi um disco que fez com que eles mudassem de patamar. E em tudo: o show tá lindão, a galera tá super fã, a gravação ficou coisa fina. E é bem massa ver esse crescimento! “

Roberta Campos

“Ouvi muito nesse ano o álbum da Vanessa da Mata, Quando Deixamos Nossos Beijos Na Esquina. Esse disco foi arrebatador pra mim! Vanessa se mostra tão madura, inteira! Achei fantástico ela ter produzido todo o disco, acredito muito nessa essência do compositor estar presente também nos arranjos das músicas e Vanessa fez isso muito bem! Tive a oportunidade de ver o show desse álbum e achei fantástico, nunca a vi tão viva e entregue!”

Okiah

“Um dos grupos musicais que ouvimos muito esse ano é João Perreka e os Alambiques. Além de admirá-los pelas composições e arranjos muito bons, o João Perreka é um Chico Science guarulhense. Tanto por fazer uma fusão de estilos em seu som – que vai do afrobeat ao brega – quanto pela articulação cultural que ele promove em Guarulhos. O movimento Arrastão Cultural, Música na rua e várias outras iniciativas tiveram a contribuição dele. Um som pra curtir, dançar e apreciar muito. Como ele diz: ‘brasilidades e grooves no ponto certo’!”

Victor Mus

“É um alento saber que a banda Foli Griô Orquestra tenha sido indicada ao Grammy Latino. Além de AJO ser um álbum incrível, ele foi feito por financiamento coletivo. Guerrilha musical da música independente pra produzir em um país, em um Estado e uma cidade – BR, RJ e RJ – nas quais os ataques institucionais à cultura são cada vez maiores. E ver o resultado disso, de uma galera próxima e independente, sendo indicados a Grammy, renova as esperanças e mostra que a cultura sempre resiste, e forte”

Bossacucanova

“O artista que fez minha cabeça em 2019, foi Marcos Valle. Marcos sempre indo além, sempre à frente seja na bossa nova ou no funk boogie . É incrível como sempre tem uma surpresa na sua música, e o álbum Sempre não é diferente. Marcos no seu melhor estilo Brasil boogie, mostra que o tempo é uma questão de ponto de vista, não de cronologia”

Sessa

“Esse ano ficou pra mim João Gilberto, que se foi, os discos Gece, da banda turca Altin Gün, e Na Base do Cabula, de Roberto Mendes, a música do guitarrista coreano Shin-Jung Hyun, que eu não conhecia, e os shows do Stereolab e do Shintaro Sakamoto, os quais tive a honra de assistir”

Paes

“Difícil missão, a de escolher alguém que se destacou  aqui no Brasil num ano tão conturbado e, ao mesmo temp,o com tantos trabalhos lindos sendo lançados. Mas vou ficar com o Tagua Tagua, não por ser meu amigo e parceiro, mas por tudo que ele realizou esse ano. Excursionou pelo país, além de EUA e Europa, emplacou Peixe Voador na trilha do Fifa 2020 e aprovou seu primeiro disco no Natura Musical. Parabéns, Puperi! Você merece!”

Lay Soares (Tuyo)

“Olha, na minha cabeça, quem vem de cara é Edgar, Saskia, Sandro, Bruna Mendez, Zudizilla… Tem mais um monte, mas essa galera ai é um achado. Tem que prestar atenção neles, ficar de olho porque eles deram um susto bom esse ano. Show foda, discos pesados. Sinto que esse ano pra eles foi o prenúncio de uma puta carreira, sem brincadeira, com menos sorte e mais trajetória pensada. Isso é lindo demais”

Sarah Abdala

“A artista que marcou meu 2019 foi Norah Jones, com o álbum Begin Again, lançado em abril deste ano pelo selo Blue Note Records. Esse disco tem alguns pontos interessantes, porque ele é uma coletânea de singles lançados por Jones durante 2018 e 2019. Mas não é simplesmente a junção de sete faixas, ele tem uma unidade como álbum. Tem o eixo musical de Norah Jones durante toda a audição, mas traz um lado mais ‘moderno’ para as faixas, como, por exemplo, nas escolhas dos timbres da bateria, nos efeitos da voz, e em arranjos minimalistas, como na canção My Heart Is Full.  Acho Norah Jones uma artistas completa, tem mil projetos incríveis e sempre tá propondo coisas novas sem perder sua essência”

Cabeça Óca

“Um dos discos que nos chamou atenção esse ano foi o novo trabalho da Marina Melo (Estamos aqui), que aborda temas existenciais e românticos de forma bem descontraída e delicada, com uma estética minimalista que dá uma atmosfera intimista pro disco. Também curtimos muito os singles lançados pela Maria Gadú (Mundo líquido e Quem?), que tratam de questões extremamente urgentes e pertinentes ao contexto político que vivemos, com arranjos bem trabalhados que misturam elementos sintéticos e orgânicos numa mensagem forte e pontual”

Tuti (Violet Soda)

“Nesse ano, tivemos tantos lançamentos incríveis que fica muito difícil escolher. Trago dois discos que acho muito importantes pra esse cenário em que vivemos hoje. O primeiro é o álbum Ladrão, do Djonga. Um disco que mostra bem a realidade de uma minoria espremida dia a dia, colocando o dedo crítico dentro da ferida aberta em que vivemos hoje nesse Brasil. O outra obra já é a busca da calmaria. Lembro que o Violeta, do Terno Rei, me pegou em um dia bem conturbado. Já na segunda musica, Dia Lindo, me fez lembrar que precisamos de um respiro, e o mais importante: precisamos ouvir/sentir esse respiro com calma”

Maglore

“De dois meses pra cá, um disco que bateu aqui foi Alienígena, do Jonnata Doll & Os Garotos Solventes. Acertaram em cheio! Música de Caps é assustadoramente linda!”

Jonnata Doll

“Começo destacando o disco que mais me fez pirar este ano e também mais detonou nas pistas quando eu colocava um som por aí na noite: Drama, do Tantão e os Fita, segundo álbum deste eletro trio carioca infernal que viaja num funk 150 bpm, post-punk e poética marginal. Tantão canta e declama em fluxo de consciência, é a figura mais imprevisível do mundo. Outro álbum é o Par de Olhos, da Yma. Disco bonito para caralho, dream pop com a voz opiácea da Yma e ótimos timbres de guitarra e teclado. Ainda nas ondas do Dream Pop, só que numa corrente ácida, temos a baiana Persie com seu EP Indigo, cheio de bases eletrônicas e crônicas de São Paulo, do alto de quarto no nono andar da Ocupação do Ouvidor onde ela mora, no centrão de SP., Cuidado! Ela tá vendo tudo!”

Luísa Nascim (Luísa e os Alquimistas)

“Na minha opinião, a artista que se destacou em 2019 foi a minha amiga, conterrânea Potyguara Bardo. Já acompanho seu processo como artista antes dela começar a compor e cantar. Seu álbum, lançado no ano passado, é um marco na história da música brasileira, e esse ano ela bombou mais ainda com a versão ao vivo de Oasis.  Sucesso merecidíssimo”

Julito Cavalcante (BIKE)

Besta Fera do Jards Macalé, é a grande obra de 2019 na música brasileira. O disco foi lançado no começo do ano e, até agora, não apareceu outro mais consistente. Letras, arranjos e um show incrível”

Leo Rodrigues (Ceano)

“A turnê Par de Olhos, da Yma, foi um ponto desse ano que me inspirou bastante. Além de ter uma boa dinâmica entre a banda e o público, a performance como um todo é um destaque dessa apresentação. Outro highlight é a estética, que tem uma consistência bem legal em todos os lugares por qual Yma passa. Ansioso pelas próximas músicas dela”

Fabiano Benetton (Odradek)

“A banda que eu mais pirei esse ano foi Raça. É muito louca a evolução musical que o Saúde mostrou por parte desses caras. O álbum já começa com uma levada de percussão e harmonia que você sabe que vai vir coisa diferente pela frente. E eles juntam essa proeza musical com letras sinceronas sobre a insegurança que muitas pessoas da nossa idade tem, e é fácil se identificar na primeira ouvida”

Gabriel Peri

“2019 foi um ano muito criativo para a música do Brasil, impossível listar apenas um. Luiza Lian, Linn da Quebrada e Elza Soares detonaram tudo. Adorei as canções do Silva e o primeiro disco solo do Teago Oliveira está lindo. Ansioso para 2020!”

André Travassos (Moons)

“Na minha opinião, o destaque desse ano foram os amigos do Terno Rei, que, com seu disco Violeta, alcançaram outro patamar de composição e de show. Como amigo e fã que acompanha a banda desde os primórdios eu fico feliz de ver um som feito com tanto carinho e cuidado conquistar os corações Brasil afora. Tenho certeza que isso é só o começo de uma grande história que esta sendo escrita. Destaque para os clipes maravilhosos e para a session ao vivo que eles fizeram que é uma das maiores pérolas do áudio visual dos últimos tempos”

Leo Fressato

“Pra mim, a coisa mais relevante esse ano foi Klüber, um músico que quase ninguém ouviu, porque ele ainda é bem novinho e bem desconhecido, mas eu acho que está trazendo um trabalho que é importante esteticamente. O conteúdo das canções é muito forte e, ao mesmo tempo, muito bonito, e pra mim foi o trabalho mais marcante do ano. Por esses motivos: por ter força, por ter beleza, por ter política no que ele fala e também por infelizmente não ter alcançado tanta gente”

Juliano Gauche

“Embora nomes como BaianaSystem e Duda Beat tenham me parecido mais presentes em 2019, Yma, Josyara e Ana Frango Elétrico me prenderam mais. Elas tem universos mais intrigantes. Já fico perguntando o que vem depois”

Apeles

“Nesse ano, ninguém arriscou mais que Angel Olsen com o álbum All Mirrors. Gosto de quase tudo do disco, da atmosfera criada, os arranjos, letras e estética. De todos os caminhos que ela poderia seguir desde o último álbum, ela foi pro mais improvável e isso é muito louvável pra mim além de que Lark é a música mais bonita do ano. ‘Dream on, dream on, dream on, dream on…'”

Larissa Conforto (Àiyé, Ventre)

“E que ano difícil esse 2019. Pra mim, o disco do ano foi do Black Alien. Abaixo de zero: Hello Hell é espelho do primeiro disco, Babylon by Gus: o Ano do Macaco, que foi senão o disco que me fez gostar de rap, um deles. Uma pérola pra suportar o cenário distópico que vem se montando. Mas queria também destacar uma mana muito foda que eu já conhecia e continuo considerando pakas: Saskia. Procurem saber!”

Victor Meira (Bratislava)

Torre foi a banda brasileira que eu mais ouvi em 2019. Conheci o som da banda com o disco de estréia deles, Rua I, que é do ano passado, e senti uma identificação já bem grande. Fomos ao Recife em dezembro e conhecemos os caras pessoalmente. Na época, o Felipe já tinha em mente o projeto do novo disco, inclusive com algumas canções rascunhadas, que mostrou para a gente, voz e violão, nos dias que passamos na casa dele. As canções bateram fundo. As letras delicadas na voz macia do Felipe tinham um poder encantador. Desde essas primeiras audições, eu sabia que dali viria um disco lindo. E aí a coisa só floresceu ainda mais quando a banda toda se debruçou sobre as canções, Vito, Antônio e Dan colocando cada um seu toque mágico no caldo. Torre é sobre melancolia e carinho, e Pág. 72 é traz o sabor do saudosismo pra essa mistura. É uma página da infância, são memórias universais das brincadeiras, melindres e medinhos dessa época da vida. Um disco calmo, muito bem pensado e produzido, com batidas lindas, linhas de baixo gostosas, timbres saborosos em todas as faixas. Meu disco preferido de 2019!”

Thiago Pethit

“Eu destacaria não um artista ou álbum. Mas uma mensagem musical que pairou pelo ano dos artistas independentes. Algo em comum nos trabalhos de Mc Tha, da Luiza Lian, na voz de Luedji, no meu Mal dos Trópicos, Bloco do Silva e em muitos outros trabalhos de 2019… Existe, nos sons do ano, um retorno à Brasilidade. A uma “certa” Brasilidade que andou escondida, camuflada por sons mais pasteurizados do pop mundial na última década. Nesta virada para os anos 20, cada um à sua maneira apresentou elementos deste Brasil: uns mais escapistas, outros mais diretos e políticos, alguns religiosos, sagrados. Teve anos 60, 70, 90. Pois sobretudo, nostálgicos! Olhar para um Brasil das memórias, daquilo que ele tem de precioso e próprio em sua musicalidade, neste momento tão anticlimático, faz parte para construção de novos sonhos e novas realidades”

Acompanhe o especial 2019 no Música Pavê

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

Comments are closed.

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.