Liège Está Mais Pop do que Nunca (Que Bom)

foto de vitória leona

A recém-lançada faixa Lava concretiza o processo que Liège vem desenvolvendo desde Promar: O de apresentar uma estética alinhada com as sonoridades contemporâneas, sem medo de ser pop e sem perder suas raízes na MPB e no Pará. Mais do que um processo apenas criativo, a experiência tem se mostrado positiva também em aspectos pessoais para a artista.

É o que ficou claro na entrevista que ela deu ao Música Pavê, falando sobre o caminho que trilhou para seu vindouro novo disco. “A cada dia, eu descubro uma coisa que posso cantar também e nem sabia”, comenta Liège, “estou me sentindo viva, porque estar viva é estar se reinventando o tempo todo”.

A cantora e compositora comenta que precisou quebrar vários paradigmas para realizar este novo trabalho. “Eu tinha muito preconceito com o pop”, confessa, “vim do berço da MPB de raiz, mas a grande verdade é que eu sempre escutei muito pop. Eu briguei muito com isso para cumprir uma tabela com quem me levou à música. Eu vim de uma seara musical de pessoas bem mais velhas que eu, a minha banda era composta sempre por homens muito mais velhos que eu, com gosto bem rebuscado para música e muita resistência para o que era novo”.

Essa postura não é somente estética, como Liège explica: “A minha geração não foi ensinada a querer coisas grandes, só a querer o que é possível. Então, eu nunca falei em voz alta que eu queria sim expandir esse trabalho para uma carreira nacional, que marcas me notassem, estar em um comercial de TV… Eu vim daquela safra de músicos que [dizia que] era feio ser popular, que você é ‘vendida’ se fizer um comercial para uma marca que patrocinaria um videoclipe. E eu vi que aquilo estava me prendendo, eu já estava compondo sempre em uma mesma linha, uma mesma métrica. Isso estava me brecando criativamente”.

Em paralelo a essas pressões internas, existe também uma tendência de quem está de fora querer enquadrá-la em um cenário muito específico de “música paraense”, como se sua geografia fosse definir por completo a sua obra. “O Pará é muito mais do que só regionalismo”, conta ela, “lá se faz rock, rap, reggae, tanta coisa. Um dos meus objetivos com o meu trabalho é quebrar um pouco desse estereótipo. Eu não quero perder a conexão com o meu lugar, com o meu sotaque ou com a minha origem. Mas eu preciso dizer que, no meu lugar, se faz muito bem todas essas coisas. Liège é uma cantora da Amazônia e faz MPB, mas é também uma cantora contemporânea, que vai beber do pop sem preconceitos”.

Lava e todo o disco Ecdise (que sairá no início de 2021) tiveram seus desenvolvimentos com estas questões acelerados também pela parceria com DJ Duh, que, após trabalhar com gente como Emicida e Rashid, veio produzir suas novas faixas. “Quando o produtor te dá liberdade de ser quem você é, você voa longe”, comenta Liège, que foi encorajada por ele a experimentar novas nuances em suas composições e interpretação.

“Queria falar de amor da minha perspectiva, um amor livre, de uma mulher que sente desejo e precisa dizer isso na sociedade”, conta ela, “é muito importante poder falar disso e poder falar em voz alta que eu gosto do pop, porque nele eu consigo me conectar às pessoas de forma mais fácil. Porque quem ama minhas músicas anteriores? Quem tem uma construção de narrativa política igual a minha, e isso me coloca dentro de um nicho. Quando eu invisto em uma música popular e trago uma poética que a pessoa pode estar ali cantando, envolvida pelo ritmo e pela repetição das palavras, já atingi um novo grupo”.

“A gente vai se libertando de algumas coisas, e eu estou feliz com isso”, comenta a artista sobre os processos de abraçar o pop para suas músicas, e acrescenta: “Eu não posso falar de minoria, representatividade e feminismo se eu, dentro do meu próprio trabalho e do meu conceito sonoro e musical, tenho preconceitos”.

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