A significação do Cidadão Instigado

A morte do glorioso Chico Anysio trouxe à tona a importância do estado cearense em nosso âmbito cultural. Não é de hoje que grandes nomes, sobretudo do humor e da música, vem de lá. Um que já pode figurar nessa constelação de artistas relevantes é o guitarrista Fernando Catatau, conterrâneo de Anysio e líder da banda singular Cidadão Instigado, que pode ser considerado um ponto determinante nos avanços da música brasileira contemporânea.

Apesar de ser um nome pouco conhecido mundo a fora, estando restrito dentro da cena independente, sua ativa participação em produções musicais e sua constante presença em variadas bandas de apoio de consolidados e novos nomes da MPB, como Arnaldo Antunes, Otto, Barbara Eugênia e Karina Buhr, entre outros, fazem do seu trabalho algo a entender e contemplar, isso sem falar na sua intimidade com o instrumento elétrico, que numa analogia rápida podem fazer dele um cientista em busca de novas melodias.

Tudo isso para dizer que o guitarrista implantou uma estética musical que pode ser vista em outros trabalhos nesse novo cenário brasileiro, uma forma que abrange a diversidade e encontra alguns pontos arrastados dentro da melodia. Um jeito de brincar de tocar sem temer o démodé e dialogando com o seu espaço e com a sua cidade.

Partindo para o princípio de sua inspiração, a sua banda parece não descansar um só segundo, já que é formada por outros proletariados da cena independente, como Régis Damasceno, Clayton Martim, Rian Batista e Dustan Gallas, que seguem o mesmo exemplo do líder e tocam em diversas bandas, possuem projetos paralelos. A impressão que fica é que quem freqüenta o Studio SP (local de shows com música alternativa em São Paulo) sempre se depara com um integrante tocando na casa.

Porém, a relevância musical deles nem sempre foi assim. A banda tem a sua formação desde 1994 e lançou quatro trabalhos até o mais recente álbum, Uhuuu de 2009, chamar atenção do público e da crítica especializada. Um projeto que é uma obra prima, rodeado de inovações, experimentações, letras brilhantes e muitos elementos capazes de fazer você viajar sem o uso de nenhum artifício.

A obra e a sua musicalidade, a princípio, podem fazê-lo se distanciar, já que é uma expressão sonora que foge dos padrões. Não é nada extremo, mas quem está acostumado a ouvir um indie rock mais intimista pode achar a levada dos caras um tanto esquisita e lunática. Sou contrário de comparações, previsões e diagnósticos, mas entendo que artifícios assim recheiam o texto e, com sorte, podem trazer vida pós-leitura ao mesmo. Com tudo, arrisco dizer que, desde Os Mutantes, algo tão singular e autentico como Cidadão Instigado não pintava no rock brasileiro.

Contando Estrelas

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

Comments are closed.

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.