Faixa Etária: Oasis – “Definitely Maybe”

O primeiro contato da nova geração com obras de um passado não tão distante: Faixa Etária é uma série do Música Pavê que documenta experiências de escuta com um álbum escolhido por pavezeiros 30+, que foram marcados por aquela obra no tempo do seu lançamento.
A cada edição, vemos o disco pelos olhos de quem o viveu e, em seguida, pelas impressões de alguém que só conhecia a banda de nome, mas agora mergulha pela primeira vez no álbum inteiro, do início ao fim.
Oasis – Definitely Maybe
por Eduardo Yukio Araujo
A volta de Oasis em 2025 já rendeu uma das turnês mais bem-sucedidas do ano, evaporando ingressos mundo afora. Deve ser difícil imaginar que, por um breve momento, indicar a banda para o crush conhecer — e isso ser cool — já foi algo real.
Em 1994, minha versão adolescente tinha o hábito de adquirir CDs de forma, digamos, não ortodoxa. Em uma dessas visitas a um grande varejista de shopping, percebi algo novo em meio a centenas de discos: havia uns caras de cabelo curto na capa, e o nome da banda era peculiar e simples. Nada parecido com o usual daquele momento: grunge, cabelos compridos e linguagem visual angustiada. Levei para casa. (“Shoplifters of the world, unite and take over”, já diria Morrissey.)
O que eu ouvi foi impressionante: soava como algo “alternativo”, no sentido de ter uma produção que não aparava arestas — guitarras eram ouvidas em toda a glória, e a mixagem era simples, mas eficiente; havia ecos psicodélicos, shoegaze e de rock clássico. Quase toda canção tinha momentos meio intoxicantes. Naquela distante época, o som chegava antes das informações: eu nada sabia sequer sobre a origem da banda. Então, só pude, de fato, sentir.
E, para um moleque de 16 anos que se achava o único capaz de ser cínico, Definitely Maybe trouxe a coragem para ser esperançoso. De repente, eu poderia, sim, ser a estrela do rock naquela noite, como Liam canta na música inicial. Não importava estar em uma cidade do interior, sem quase sair de casa — eu iria criar meus próprios rolês! (Apenas me tornei minimamente sociável.) Mas o vislumbre de uma vida mais excitante estava ali.
Como não se embebedar e ter Cigarettes and Alcohol de trilha? A coragem de chegar nas garotas populares porque estava me sentindo “Supersonic“? E, apesar do efeito geral ser otimista, o álbum também trazia uma sombra permanente: e se os sonhos não se concretizarem de verdade? Essa sensação agridoce e ambígua, entre a autoconfiança extrema e o temor da mediocridade, me trouxe uma degustação da vida adulta. Mas maybeeee, vamos viver para sempre, afinal.
Primeiras Impressões
“Eu, que fui criada à base de Wonderwall, não escutava nada de Definitely Maybe e, se tentei, fui repelida. A imagem enviesada que eu tinha dos irmãos combina muito mais com o que escutei nesse disco – não de forma negativa, porque vi muito mais energia e personalidade nas músicas desse álbum. Cigarettes and Alcohol e a brincadeira com o make e fake na letra, a atitude de afirmar a fuga simples como a resolução para um sunshine que não chega, combina demais com uma distorção e sujeira que parece não ter fim porque é o que sustenta todo o disco, uma forma de discurso muito mais interessante que finaliza com um amargo “adeus, eu estou indo para casa” de Married with Children. É bom ser um Rock’n’roll Star quando você vive em uma cidade, a primeira faixa diz muito. Qualquer música de Definitely Maybe certamente nocauteia os hits de Oasis, ou eu só estou cansada mesmo de Wonderwall…” (Nina Veras)
“Sem muita fluência em irmãos Gallagher, admito que a unidimensionalidade de uma estreia tão grandiosa foi uma surpresa negativa. O álbum encarna a ‘atitude rock’n’roll’, no sentido mais tradicional, mas às vezes soa forçado, como em Rock’n’Roll Star e Cigarettes & Alcohol, que beiram o pastiche. Já as faixas que falam mais de confusão e insegurança parecem mais autênticas, como Live Forever e Columbia. É uma audição divertida e enérgica, mas sem grandes revelações” (Guilherme Gurgel)
“O álbum de estreia do Oasis é exatamente o que me vem à mente inicialmente quando penso no som da banda. Definitely Maybe é alt-rock anos 90 em sua forma mais autêntica e nostálgica, com letras inteligentes e um padrão de sonoridade mantido ao longo das onze faixas. Para mim, é um álbum sobre a sensação de ser jovem, inquieto e deslocado aos vinte poucos anos, lidando com expectativas, crises existenciais e a vontade de viver o ‘imediato’. Talvez o álbum seja um espelho do que o Noel e o Liam de 1994 sentiam como jovens, querendo viver da música e do que, até hoje, é o sentimento de se ter vinte e poucos anos. Sem dúvidas, um álbum fundamental para entender a essência e o início da trajetória da banda” (Gabriela Pavão)
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