Faixa Etária: Daft Punk – “Random Access Memories”

O primeiro contato da nova geração com obras de um passado não tão distante: Faixa Etária é uma série do Música Pavê que documenta experiências de escuta com um álbum escolhido por pavezeiros 30+, que foram marcados por aquela obra no tempo do seu lançamento.
A cada edição, vemos o disco pelos olhos de quem o viveu e, em seguida, pelas impressões de alguém que só conhecia a banda de nome, mas agora mergulha pela primeira vez no álbum inteiro, do início ao fim.
Daft Punk – Random Access Memories (2013)
por Bruno Takaoka Pugliese
No começo dos anos 2000, minha paixão pela MTV estava no auge. E não era para menos. Toda vez que ligava a televisão, tinha certeza de que alguma coisa iria me impressionar. Dos moicanos vermelhos de Rancid às palhaçadas de Eminem. De Snoop Dogg no Rio ao reencontro de Frejat com seu cachorrinho.
Porém, nada superava os clipes do duo Daft Punk. Era impossível não se perder naquele universo tão particular, povoado por aliens azuis, robôs tocando guitarra, homens-cachorro e as batidas mais contagiantes do mundo. Dos vídeos, passei para os discos completos e a dupla francesa saiu da TV para me acompanhar em madrugadas de insônia, viagens e longas caminhadas por São Paulo.
Corta para 2013. Por um motivo ou outro, eu havia perdido o contato com Daft Punk. Então, saiu Random Access Memories e não demorou muito para aquele fascínio, que começou ainda na adolescência, voltar com tudo.
Desde os primeiros acordes de Give Life Back to Music, o álbum soa ao mesmo tempo como uma grande celebração do amor à música e uma noite misteriosa e cheia de possibilidades.
Da mistura entre funk, disco, dance, rock e mais, nasce um suingue suave e irresistível que envolve todas as faixas. Em alguns momentos, ele pulsa com a energia de uma pista de dança lotada, como no superhit Get Lucky e na batida inquieta de Contact. Em outros, evapora em nuvens de nostalgia e melancolia, como na delicada Beyond e no jogo de sedução proposto por The Game of Love.
Mas, para mim, o auge do disco sempre foi Giorgio by Moroder, épico de mais de nove minutos em que Giorgio Moroder narra sua trajetória como produtor. Progressiva e cheia de nuances, a música é uma viagem imprevisível por estilos, décadas e atmosferas diferentes que sintetiza perfeitamente o apelo de Random Access Memories. E falando em memórias, quando ouço o disco, uma em especial sempre me vem à cabeça: Andar de carro com meus amigos à noite, talvez sem destino, ouvindo o novo Daft Punk.
Primeiras Impressões
“Lembro que, na época que Random Access Memories saiu, muitas pessoas o elogiavam e era impossível não escutar os singles nas rádios. Para mim, essa foi a primeira vez que parei para ouvir o álbum inteiro, indo além de Get Lucky (que é uma das músicas que mais amo na vida) e me surpreendi. Eu pensava que funk/disco estaria ali de uma forma mais sutil, que seria um álbum mais eletrônico até, mas ele é bem presente. Não é só “festa”; você tem o espaço para a melancolia, para reflexão, para o amor e para festejar também. Tem sempre algo diferente para descobrir em uma mesma faixa, seja um riffle de guitarra, uma batida synth pop em segundo plano, um vocal escondido… A única coisa que menos gostei foi a faixa sobre o monólogo que achei dispensável, mas entendo a razão de estar ali A última faixa encerra o álbum da maneira mais legal possível; parece até que você está saindo de um show deles e vira para aquele amigo e diz: ‘Caramba, o que foi isso? Muito foda!'”. (Mariana Santos)
“Ouvir este álbum na íntegra fez com que fosse confirmada uma expectativa prévia em relação à dupla: Daft Punk é mestre em disco music. O impacto do gênero é tão marcante na discografia do duo que, quando algumas faixas se afastam dele, soam mais arrastadas — como se faltasse o elemento principal da receita. E os sucessos do disco, como Get Lucky (com Pharrell Williams & Nile Rodgers), Lose Yourself to Dance (Pharrell Williams) e Instant Crush (Julian Casablancas) não são à toa; são, de fato, os grandes destaques do trabalho” (Isabela Guiduci)
“Antes de ouvir Random Access Memories na íntegra, eu só conhecia Instant Crush, que é uma das minhas parcerias favoritas, e Get Lucky, que lembro de tocar direto na rádio (até hoje). O álbum me pegou de surpresa. Contagiante e sofisticado, traz uma uma sonoridade que nunca vi antes com introduções instrumentais longas, vocais metálicos e experimentos. Para mim, a maior mensagem do álbum é a ideia de explorar sonoridades e harmonias sem a pretensão de ser ‘perfeito’. A música vista como uma forma de se encontrar. As parcerias também agregam bastante ao álbum, variando entre eletrônica, rock alternativo, dance music e pop. Sem dúvidas, é um álbum que vou escutar muito”. (Gabriela Pavão)
“Vivi o lançamento dele em 2013, mas ignorei. Agora, me pega de surpresa – tinha certeza que não gostava (sem ter escutado). Nesse tempo, achei que fosse ser de poucos vocais e muito mais eletrônico. É interessante ter músicas longas e ainda prender a escuta por como é construído; Giorgio by Moroder me deixa encantada por ser um depoimento sobre o artista e encaixar tão bem. É lindo chegar em Touch e perceber o que está prestes a acontecer mesmo sem estar olhando a tracklist. Sigo achando que a eu de 2013 que só escutava indie e pop e tinha pouco repertório não gostaria, mas reviver ele me deu uma nova obsessão pra destrinchar e um novo álbum de estimação. Daft Punk estava à frente de seu tempo e fico curiosa pensando como seria se fosse lançado hoje – acredito que, mesmo com músicas longas, todos ainda iam prestar atenção por ser algo tão único” (Giovana Bonfim)
“Eu já imaginava que Random Access Memories trouxesse uma pegada eletrônica, mas achava que seria um disco mais animado. Mesmo que a escuta seja um pouco desconfortável no começo — por ser muito diferente de tudo que já ouvi — adorei o projeto e entendo o motivo dele ser um sucesso. A combinação experimental de sons misturadas com o groove relaxante e a introspecção da dupla criou um álbum inovador, que dá ao ouvinte uma experiência transcendental — definitivamente, o destaque do disco” (Lorena Lindenberg)
“Já conhecendo o hit Get Lucky, e não tendo parado para escutar nada mais de Daft Punk, eu esperava encontrar em Random Access Memories um disco de dance seguindo um caminho de hits pop que tendem ao principal uso de instrumentais eletrônicos. Get Lucky é ótimo, mas não me apresentou realmente Daft Punk. Nesse álbum de 2013, percebi que o duo vai muito além dela em um nível de experiência e criatividade musical, trabalhando o instrumental muito mais do que a voz. É totalmente dance, mas também incorpora as liberdades sonoras que entram na música eletrônica e se adequam a ela lindamente. Me surpreendeu demais no épico que parece contar uma jornada de referências que a dupla foi capaz de reunir em apenas uma história, ou melhor, em uma faixa, Giorgio by Moroder” (Nina Veras)
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