Mateus Fazeno Rock É Exemplo do Experimentalismo do Ceará de Hoje

foto por jorge silvestre

Experimentar é a palavra de ordem do projeto Queremos! Lab, parceria realizada entre Queremos!, LabSonica e OiFuturo. São quatro semanas de encontros inusitados entre artistas que vem vibrando na música brasileira, sempre juntando um fluminense e um de outro estado.

De primeira, o que rolou na semana do dia 31 de outubro foi o duo de jazz e r&b Yoún, da Baixada Fluminense, e o soteropolitano Celo Dut, um dos representantes da cena de rap/trap da cidade de Salvador – junto a Baco Exu do Blues, Dactes, Young Piva e outros.

O que rola nesta semana, iniciada em 07 de novembro, é o combo do jazzista Jonathan Ferr, que ao longo dos últimos anos tem colecionado lançamentos elogiadíssimos, parcerias com artistas igualmente cada vez mais em alta (o rappers Joca e Coruja BC1, o cantor Serjão Loroza e até Tuyo) + o cearense Mateus Fazeno Rock, para quem, não coincidentemente, a palavra-chave também é experimentação.

E é uma porta de entrada muito bacana pra entender o que tem rolado no estado nordestino já há alguns anos.

O que Mateus faz – além de rock – é uma experimentação bem punk e livre do que pode ser a expressão musical de um cara preto nascido apegado ao rock e criado na periferia de Fortaleza. Seu álbum Rolé nas Ruínas, lançado em 2020, fala exatamente sobre isso: Explorar através do rock as pequenas odisseias dentro da cabeça e da vida de um moleque que vê seus lugares seguros se tornando ruínas por causa de tudo o que ele não pode controlar – a especulação imobiliária e as desocupações. E faz isso com uma originalidade tamanha que, numa música só, faz referências a Djavan e a Nirvana de forma magistral.

O lance é que ele não tá sozinho no Ceará. Tem outras galeras experimentando muita coisa. A cena de rock experimental e abstrato lá em Fortaleza é quentíssima e tem nomes incríveis.

Em 2018, Clau Aniz lançou o lindíssimo Filha de Mil Mulheres, um álbum arrebatador de início ao fim, que vai do post-rock ao baião de uma forma tão sutil que te desloca da realidade por algumas horas. Pessoalmente é muito difícil falar sobre esse trabalho, que demorou muito pouco pra se tornar um dos meus preferidos nos últimos anos.

Tem também o quinteto de alta tensão elétrica maquinas, que tem dois álbuns lançados: lado turvo, lugares inquietos (2016) e O Cão de Toda Noite (2019). As letras, verdadeiras confissões poéticas e realmente turvas, são cápsulas de vozes que falham em te orientar depois de você ser pego pela tsunami que são as guitarras e a bateria pujantes em todos os minutos.

Agora neste ano, ali no final de agosto, o cantor Arquelano lançou o EP Pista, com produção da Emília Schramm (que está há alguns anos preparando seu trabalho de lançamento) e por Felipe Couto (da também cearense Vacilant). Aqui, a vibe é mais eletrônica / r&b, mais plástica, pop, acessível, e tão inebriante quanto tudo o que tem saído por lá.

Quem também já deixou um trabalho interessantíssimo por aí é o coletivo Ode Ao Mar Atlântico: Um transe criado pela experimentação da aproximação do post-rock com a música de terreiro, tendo o improviso, a exploração e a arte sonora como tripés de tudo o que é feito. O álbum homônimo, lançado em 2020, teve ainda uma orientação artística do produtor Arto Lindsay, que já trabalhou com nomes como Gal Costa, Caetano Velloso, Marisa Monte e outros gigantes.

É um Pessoal do Ceará dos anos 2000, atento ao próprio tempo, explorando o que tem pra ser explorado, em texturas e voltagens diferentes – e prontíssimos para também serem experimentados.

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