Flavio Tris Relança seu Primeiro EP, de 2010
Lançado em 2010, o EP Flavio Tris revelava um músico em começo de carreira e cinco de suas composições em uma versão inicial, quatro delas revisitadas no álbum homônimo de 2013. Eram as primeiras experiências de Flavio Tris gravando no estúdio e, ao longo dos anos, a obra virou uma espécie de relíquia, visto que – tendo sido publicado em sites de download de mp3 – só resistiu ao tempo em seus exemplares em CD. Hoje, 19 de agosto, o músico disponibiliza o disco nas plataformas de streaming pela primeira vez, oferecendo uma viagem no tempo muito bem vinda para quem acompanha sua discografia, principalmente os fãs do álbum de estreia.
Produzido por Flavio ao lado de Mauricio Maas e Tchello Nunes, músicos que o acompanharam também nos anos seguintes, o EP tem como destaque a versão “original” de Pra Ver a Voz, música mais conhecida do cantor e compositor. Ele falou ao Música Pavê por email sobre o movimento de nos apresentar hoje, doze anos depois, essas gravações.
Música Pavê: Como é para você ouvir esse disco hoje, doze anos depois? Que histórias ele conta hoje que você não notava, ou que ele não contava, em 2010?
Flavio Tris: A sensação mais presente é a de frescor, apesar de tantos anos passados desde o lançamento desse EP. Percebo que os sentimentos que geraram aquelas canções estavam ali bastante à flor da pele, então não existe distância entre a canção e aquilo que fez a canção nascer. Não tem elaboração, não tem problematização, não tem floreio, o discurso é direto, quase rude, muito puro nessa proximidade entre intenção e gesto. Eu gosto de escutá-lo e não me incomoda aquilo que poderia ser considerado amadorismo, sinto como retrato fiel daquilo que eu era. Cada canção é uma história que volto a acessar de forma diferente à medida que vou reescutando. Em Pra Ver a Voz, por exemplo, eu sigo até hoje decifrando as camadas de entendimento, tanto para enxergar melhor aquilo que eu jád izia conscientemente, quanto para enxergar pela primeira vez elementos que eu não me dei conta de ter trazido à época.
MP: Quem era o Flavio daquela época? Como o Flavio de hoje enxerga aquele artista?
Flavio: Em essência, aquele Flavio não era muito diferente de quem sou hoje. Ali, talvez, alguém mais ingênuo, mais inocente quanto às relações entre arte e mercado. Nos âmbitos estético e ideológico, me parece que não mudou muita coisa. É claro, vivi e conheci muita coisa nesses doze anos, e as experiências desse tempo atravessam aquilo que crio hoje. Mas acho que ali atrás já estavam bem presentes em mim os traços fundamentais da minha personalidade que transparecem na minha obra: Um olhar atento para o mundo e para mim mesmo, a busca pela aceitação mais do que pela evolução, o desejo de estar presente no mundo por inteiro sem ceder aos lugares passivos de conforto.
MP: E aquele próprio período da música brasileira? Como é para você revisitar aquele tempo e pensar nas conexões que o EP teve com outras obras em sua época de lançamento e as que ele pode ter hoje, no streaming?
Flavio: Não faz tanto tempo e ainda assim o mercado da música era completamente outro. Naquela época, lancei o EP no MySpace e alguns sites disponibilizaram para download. Ainda fazia muito sentido prensar discos. E, mesmo sem redes tão conectadas, o alcance do EP foi tremendo! Ele dialogava com outras obras que estavam nascendo mas, ao mesmo tempo, já parecia algo marginal, como até hoje sinto minha obra. Mas hoje as próprias plataformas de streaming tratam de sugerir aos ouvintes que escutem isso e aquilo, a partir do que já escutam, e dessa forma nascem conexões entre artistas que muitas vezes nem se conhecem. Isso me parece um ponto positivo desse novo modelo, o surgimento de vínculos quase aleatórios, que não passaram pela chancela dos críticos, dos editores, dos operadores do mercado da música. Nesse sentido, sinto que o potencial do disco hoje é certamente maior do que àquela época, seja pelo alcance, seja pela ligação que pode nascer, a partir das plataformas, com outras obras velhas e novas.
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