Sampa The Great Quer que o Mundo Ouça Mais Artistas Africanos
É com bastante atraso que a mídia mainstream ao redor do mundo tem (finalmente) dado uma atenção a mais pras cenas musicais africanas. Os últimos álbuns de BurnaBoy conquistaram grandes elogios de renomados veículos; WizKid recentemente desbancou Drake e ganhou um MOBO Awards (prêmio britânico que reconhece a excelência de artistas negros) de Melhor Ato Internacional, além de ter ganho também um BET Awards por sua colaboração em Essence, de Justin Bieber, que também conta com Tems, a voz por trás do cover de No Woman No Cry que abre o trailer de Pantera Negra: Wakanda Forever, próximo lançamento cinematográfico da Marvel. Tem muita coisa bacana acontecendo na África, muitos artistas riquíssimos, muitas produções preciosas, e é importante que o mundo reconheça não só as influências da música africana no que a gente tem na música pop, mas também sua pluralidade – WizKid, Burna Boy e Tems são todos nigerianos, representantes do afropop da chamada alté scene.
Foi um pouco sobre isso que Sampa The Great contou ao Música Pavê em numa rápida troca de mensagens: “Nós [artistas e produtores musicais africanos] ficamos muito felizes que o mundo esteja finalmente tentando acompanhar a música que tem sido a trilha sonora de muito das nossas vidas, e nós esperamos que essas histórias continuem sendo contadas por artistas africanos. Ao mesmo tempo, esperamos que o mundo conheça bem mais que um gênero musical do continente africano“. A cantora e artista visual zambiana (país do leste africano), que se apresentará pela primeira vez no Brasil na semana que vem (dia 17 na Audio, em São Paulo, com show de abertura da Bebé e discotecagem da galera do Discopédia e do DJ Tamenpi; e no dia 18 no Circo Voador, Rio de Janeiro, com abertura da N.I.N.A. e sets do DJ Neps da dupla TropiCals – ambos com Queremos! na produção), carrega consigo influências artísticas diversas que inevitavelmente desaguam em seu trabalho.
Ela está às véspera de lançar seu segundo álbum, intitulado As Above, So Below, logo ali na segunda semana de setembro (ou terceiro álbum, caso você queira considerar a mixtape Birds and The BEE9 como um predecessor de The Return – dois trabalhos excelentes que também arrancaram elogios mundo afora). Até então, sua discografia surge como uma grande convergência da música negra no mundo, mesclando gêneros como jazz, hip-hop, gospel, afropop e r&b, sempre abordando temas espinhosos de uma forma muito honesta e afetuosa. Em seu próximo trabalho, suas influências vêm ainda mais ampliadas: Ao retornar para seu país natal durante a pandemia, entrou em contato com o zamrock, cena de rock Zâmbia que produziu inúmeros e ótimos álbuns depois da independência do país em 1964; seu maior expoente, a banda WITCH (acrônimo de We Intended To Cause Havoc) é apenas uma das participações do álbum, que contará também com nomes como os rappers Denzel Curry e Joey Bada$$, a renomada cantora beninense Angélique Kidjo e sua irmã Mwanjé Tembo (que já havia contribuído em outros trabalhos seus).
Ela é apenas uma das representantes da rica variedade do que vem sendo produzido na música africana. Da mesma forma, é apenas uma das representantes do tanto de coisa interessante que vem surgindo de cantoras negras no mundo (é impossível não associar a música de Sampa com as de Jamilla Woods, Sudan Archives, Fatima, Xênia França ou YayaBey). É, de forma geral, é uma das pontas dessa multidimensional estrela que é a produção musical contemporânea, uma das tantas que valem a pena conferir, seja pelo seu esmero e atenção no que é feito, seja pelo zelo por trabalhos conceituais longos (tal como Beyoncé ela preza bastante pela arte do álbum). E pra se emocionar. Música é, sobretudo, para criar sensações. E isso a Sampa sabe muito (e sabe que sabe muito).
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