Em “Pré-Jogo”, Ginge Teve que Aprender a Ser Pop

Como é legal notar quando os músicos do meio independente decidem baixar um pouco a guarda e abraçar sonoridades mais pop. É o caso da mineira Ginge, formada por gente que conhecemos desde a histórica Lupe de Lupe até a recente Agreste. Nesse caso, é menos sobre “ser pop” – no sentido mais convencional do termo – e mais sobre aceitar o desafio de “ser menos experimental”, ou mesmo de ter quatro mentes muito livres em suas criatividades trabalhando sob um mesmo conceito.

Foi o que três quartos da banda – Bruna Vilela, Fernando Motta e Marcela Lopes, faltando só Vitor Brauer – contou ao Música Pavê em entrevista. Entre as situações que os músicos comentaram, o que falou mais alto foi notar como essa postura de estar mais à vontade para realizar um som menos complexo no EP Pré-Jogo lhes tem servido também como um belo fôlego criativo.

Marcela explica que isso acontece primeiramente pela atenção necessária para trabalhar em uma nova dinâmica. “Antes, eu achava que isso engessaria minha música e me deixaria quadrada, mas é o contrário”, conta ela, “nosso processo de composição e de gravação foi todo muito livre e divertido”, e explica que entendeu que, em outros projetos, sua criatividade estava limitada pela “pseudo-ousadia de tentar caber numa caixinha, mas dizendo que você não pertence a nenhuma”.

Bruna comenta que “no alternativo tem muito disso, de você para uma coisa e achar que ela não está diferente ou cool o suficiente. Acho que a Ginge abriu esse espaço para ser simples mesmo, direto ao ponto, sem meter tanta firula. Você pode fazer algo massa, que traga algo diferente sim, mas que seja simples e as pessoas entendam. Você não é bobo nem mais genial por isso”.

Tem mesmo muito a ver com as expectativas criadas nesse meio e com as preocupações sobre o que os outros acharão dos artistas que se permitem ser mais pop. “Mesmo que nossa vontade fosse de fazer músicas acessíveis, estávamos mais preocupados com o que desejávamos que esse trampo fosse do que com aquela coisa do ego de se importar com a recepção”, continua Bruna, “foi um aprendizado grande experimentar coisas novas dentro de uma ideia específica. Os nossos trampos alternativos são também confortáveis no sentido de ser bandas em um rolê fora do padrão, então você não banca tanto essa questão de estar preocupado com uma proposta definida”.

“A gente tem o maior carinho e o maior apego pelos outros trabalhos e não vai deixar de fazer as outras coisas por conta disso”, conta Fernando, “mas a gente ouve todo tipo de música e é maduro o bastante pra saber que Marília Mendonça pode ser bom pra caralho”. “Eu tô compondo disco novo agora e vi que meu processo tá bem diferente”, continua ele, “me permito mais coisas, depois é só eu filtrar. Antes, eu me preocupava muito. Tô me permitindo fazer mais e lidando melhor com o processo de curadoria de mim mesmo”.

E se o resultado do processo é a liberdade de poder fazer mais, o meio do caminho foi feito de diversas escolhas que levaram Ginge a esse lugar onde é possível ser honesto sem perder de vista o propósito. “Temos muitas coisas internalizadas pelos nossos projetos anteriores”, conta Bruna, “e, na hora de fazer música pop, você corre o risco de repetir algumas fórmulas”. “A gente se pegou caindo nos autoclichês e fazendo o que falou que não ia fazer”, comenta Marcela, “mas foi uma surpresa muito boa estar fora da zona de conforto”.

Eles comentam também que foi surpreendente a resposta que tiveram de suas famílias. “O famigerado ‘agora sim’ (risos)”, conta Fernando, “e ‘tem que divulgar mais isso'”, adiciona Bruna. Marcela notou isso mais com os ouvintes, principalmente os que já acompanhavam seus trabalhos anteriores. “Música pop é um termo muito extenso e teve gente que chamou de ‘rock triste’, por exemplo”, explica ela, “mas o que mais senti foi que quem já nos conhecia se identificou mais com o trampo da Ginge. Isso, pra mim, é ser pop”.

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