Meu Nome Não É Portugas Comenta seu “Eterno Azul”

foto por yasmin kalaf

“O mar sem fim/Voltar do sul/Vai ser melhor/Eterno Azul” – Em meio a tantas crises e desesperanças, Rubens Adati ousa olhar para o horizonte em Eterno Azul, faixa de seu projeto Meu Nome Não É Portugas com participação de Eduardo Praça (Apeles).

Com o barulho das ondas na introdução e um clima ensolarado que percorre toda a faixa, é um clima que, a princípio, destoa do restante dos lançamentos recentes nesta pandemia. “Não era para ser uma música sobre otimismo, mas ele acabou vindo”, contou Rubens ao Música Pavê por telefone, “quando compus, queria passar a ideia de teletransporte, de movimento. Acho que o otimismo vem da correlação com o de estar em movimento, já que estamos privados de sair de casa”.

Desde a composição, no entanto, a faixa já encontrava no isolamento a sua natureza, já que parte do deslocamento que a música propõe é o voltar-se para si mesmo, para o seu interior. “Quando eu falo ‘dentro da montanha no meio do cerrado’, essa montanha somos nós mesmos”, diz ele, “aprendi que dá para acessar um horizonte interior – ou exterior, cada um tem seu jeito de acessar seu inconsciente”.

Exercendo também a função de guitarrista nos shows de Apeles, o convite para o dueto foi uma escolha natural. “Estava muito inspirado em Gorillaz, lembrei que Edu gosta muito da banda e pensei que ele pegaria a música para si, fazendo com que a interpretação dele tenha um significado para si”, explica Rubens, “se eu chamasse outra pessoa para cantar, talvez ela topasse sem nem gostar da música (risos). Mas achei que ele ia gostar, que tinha a ver com ele”.

“Gosto muito de ouvir a voz dos outros nas minhas músicas, me dá um frescor absurdo, a sensação de uma coisa nova. Porque eu fico aqui enfurnado produzindo, gravo uma guia de voz e fico pensando quem poderia cantar. No disco, pelo menos, as músicas têm muito a ver com as pessoas. Vinham me perguntar ‘essa música é do Gabriel da Ventre?’, e eu falava ‘não, é minha, ele cantou’, e diziam ‘parece muito algo que ele faria’. Gosto disso pra caramba”.

O álbum em questão é o elogiado Fraga e Sombra, de 2019, que trabalha diferentes facetas de Rubens na produção, passeando por vários estilos e nuances ao lado de muitos convidados. “Versatilidade e diálogo com outros artistas são o que, para mim, resume um produtor”, conta ele, “é um lugar que eu vejo como um terreno muito fértil, que pode gerar muitas coisas. Sou meio paranoico com o medo de parecer sempre igual. Gosto de alternar tons, discursos, lugares de fala, vozes… acho que tudo isso acrescenta muito para o trabalho”.

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