WEKS Desapegou de um Rock que Não Lhe Comunica Mais Nada
“Eu queria ouvir um som, só que ele não existia, nenhuma banda que eu gostava estava fazendo isso. Não tinha uma do Anderson .Paak, ou do Justin Bieber, ou Tame Impala que fosse assim. Então, eu vi que eu ia ter que fazer a música que eu mesmo queria escutar” – Se a maior parte das histórias de uma carreira solo começa com a vontade de fazer algo novo, a trajetória de Daniel Weksler argumenta a favor dessa teoria através de Feel Free, o primeiro single lançado em seu projeto WEKS.
Quem o conheceu como baterista da banda NX Zero, ou tocando com Pitty, provavelmente se surpreenderá com o som grooveado e eletrônico que a faixa apresenta – uma estética distante daquela que ele trabalhou por tanto tempo. Falando ao Música Pavê por telefone, ele comenta que “ali no final do NX, eu já não tinha mais o tesão de ouvir rock, ele não tinha mais novidade pra mim. Aquelas bandas que eu ouvi por tanto tempo, como Foo Fighters, pararam de se comunicar comigo. Então, comecei a buscar outras coisas e a me identificar com outros estilos de som que eu não achei que fosse gostar. Lembro que, naquela época, o Di [Ferrero] e o Gee [Rocha] já estavam curtindo Post Malone e eu ainda era meio reticente, tinha um pouco de preconceito, sabe?”.
WEKS cita Kaytranada, The Internet e Tame Impala como alguns dos nomes que mais tem ouvido, e que acabam também sendo os mais influentes em seu trabalho. “Por mais que eu não escute muitas novidades de rock, eu tô ouvindo Led Zeppelin e Queens of the Stone Age pelo menos uma vez por mês”, explica ele, “são as novidades que não me batem mais. Mas ir pro palco com a Pitty é muito do caralho. Talvez eu não tivesse esse tesão se ela estivesse presa no ‘bom e velho rock’n’roll’. Acho que o problema são as bandas que estão presas em algo que só se comunica hoje com aquelas mesmas pessoas de anos atrás, sem novidade nenhuma”.
Seu processo interno de estar aberto a novos sons foi o que ele descreve como “uma transição, e uma que eu não achei que fosse acontecer tão cedo. Minha música hoje tem poucos elementos orgânicos, e eu antes estava sempre preso achando que tinha que ter baixo, bateria e guitarra. Aos poucos, fui me desprendendo e me deixando ser mais livre”. Não à toa, seu primeiro single foi batizado de Feel Free.
Com Karen Dió (Violet Soda) nos vocais, a música é a primeira amostra de seu EP de estreia, que contará com vocais femininos para suas composições. Co-produzida por Lucas Medina, Feel Free carrega muito dessa nova trajetória de WEKS em suas entrelinhas. Ele conta que a faixa era, inicialmente, “mais grunge mesmo”: “Fiz uma batida na bateria, com uma levada de baixo e uma de guitarra. Quando Karen gravou a melodia em cima dessa base, a gente foi levado a outro lugar. Entrou outra batida, outro groove, outro timbre de baixo, e ela virou uma música completamente diferente”.
“Durante muito tempo, eu era só o batera, então eu tinha que ficar preso no que a parte percussiva daquele grupo ia representar, assim como a tecla vai ser, ou o synth, a guitarra, a batera não é mais o principal como era antes. Minha cabeça mudou muito em relação a isso. A batida tem que ser um complemento ali, não tem que ser a coisa que pra mim é a mais importante. Pra mim, o mais importante hoje é uma melodia foda”.
WEKS relembra que o lançamento de Feel Free faz parte de uma narrativa que começou enquanto NX Zero ainda estava em atividade. “Naquela época, eu já estava apresentando pra galera ali umas coisas que eu estava fazendo, mas eram coisas muito cruas em harmonia, que é uma coisa que eu estou fazendo aula agora”, explica o músico, “eu ficava um pouco decepcionado, porque apresentava pra galera e ficava meio no ar, a galera não gostava. Depois que eu me liguei que eu estava no começo e o pessoal ali já fazia aquilo há algum tempo”. Um fator acelerador em seus processos foi ele trabalhar no estúdio Midas nesse último ano, o que “me abriu a cabeça para vários outros estilos”, em suas palavras, “tanto que eu chegava em casa e queria estudar, queria fazer uma levada do brega, do Pará. O dia que eu fiz uma assim, a Pitty abriu a porta e falou ‘caralho, e se eu transformar isso num rock?’, e aí nasceu Ninguém é de Ninguém“.
“Vi que eu podia colocar essa vontade para fora, estudar vários elementos e depois subvertê-los pra fazer o que eu quiser”, conta ele, “e eu desapeguei de como pensava antes. A maior parte das coisas que eu crio hoje é na controladora mesmo, eu nem gravei batera nessa música, foi tudo feito no computador. É maravilhoso saber que aos 34 anos eu consigo ter essa empolgação de novo e querer fazer uma coisa nova”.
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