Diretor: Daniel Askill

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Uma mente inquieta de visão tão ambiciosa parece mal combinar com a figura tímida, que fala baixinho, do diretor australiano Daniel Askill. Ele já trabalhou com nomes como Placebo, Phoenix e U.N.K.L.E., tendo recentemente alcançado ainda maior renome com a trilogia de clipes do álbum 1000 Forms of Fear, da cantora Sia, em uma parceria que começou com o clipe Breathe, em 2004.

Em passagem pelo Brasil pela primeira vez, para o Music Video Festival, o artista conversou com o Música Pavê sobre sua carreira, o evento e, é claro, videoclipes.

Música Pavê: Somos de uma geração que cresceu vendo clipes, com a MTV em alta e essa linguagem se desenvolvendo. Quando você era menor, já sabia que trabalharia com isso?

Daniel Askill: Embora clipes tenham sido uma grande inspiração pra mim, eu não acho que, quando eu era bem jovem, achava que trabalharia com eles. Cinema parecia algo distante pra mim, algo que eu parecia legal, mas eu desconhecia o processo. Eu já me interessava muito por música, eu fazia música no sintetizador, esse era o meu foco. Minha maior influência foi provavelmente Michael Jackson, eu era muito fã quando adolescente, e era sempre uma grande experiência quando saía um clipe dele, então eu sempre via e acho que, subconscientemente, isso sempre teve um grande impacto em mim. Quando eu tinha uns 19 anos, eu estudava arte e ainda fazia música, e o primeiro software de edição de vídeos saía para computadores, e era como usar um software de música. Foi aí que eu comecei os vídeos.

MP: Pra você, fazer clipes é mais Cinema ou mais Publicidade?

Daniel: Hmmm é mais Cinema, eu acho. É sempre algo entre os dois, mas a realidade é que eu, às vezes, dirijo comerciais, que tendem a ser mais para pagar as contas, mas com clipes, já que não tem muito dinheiro envolvido, você quer fazer pela criatividade e só se houver uma pureza de ideias e você ter um bom controle como diretor. Então, por isso, eu acho que é mais Cinema. É mais arte do que comércio.

MP: Você viaja bastante. Como você percebe o entendimento do videoclipe como linguagem artística pelo mundo?

Daniel: Acho que houve uma grande renascença para os videoclipes. Se você me perguntasse isso há uns quatro anos, eu provavelmente diria “acho que os clipes estão morrendo”. Acho que houve aquele período quando éramos mais novos, com a MTV explodindo e os clipes estavam na grande mídia. Depois, os orçamentos diminuiram e acho que os clipes morreram por um tempo. Mas agora, com a Internet, há uma grande popularidade e muito interesse para produção, por causa do desenvolvimento da tecnologia de vídeos. Então, acho que há uma grande renascença no meio.

MP: Qual é a importância que um festival como o m-v-f- tem, aos seus olhos?

Daniel: É importante que haja iniciativas pelo mundo que olham para o videoclipe por seu processo de produção e criatividade. Sem citar muitos nomes, há eventos como o VMAs, por exemplo, que se propõem a ser sobre videoclipes, mas, na verdade, são um concurso de popularidade. Isso faz com que festivais como este sejam ainda mais importantes. Quando você vê a seleção de vídeos da competição, eles estão mostrando trabalhos que são sobre a linguagem dos clipes, não os mais populares necessariamente.

MP: Sobre seu trabalho com Sia, quando você fez Chandelier, você imaginava que ele seria um clipe tão icônico, um “novo clássico”?

Daniel: Não, eu não fazia ideia. Talvez ela imaginasse, mas eu não. Você espera atingir algumas pessoas, mas nunca sabe no que vai dar quando começa a fazer. Acho que nós dois ficamos muito impressionados, principalmente no primeiro dia, quando vimos Maddie [Ziegler, a dançarina] fazendo a coreografia depois dos ensaios, mas não dava pra saber – especialmente nesse projeto, que era tão colaborativo. Acho que nenhum dos indivíduos envolvidos sabia exatamente qual seria o resultado, e a mesma equipe fez os três clipes de uma forma como nenhum outro projeto anterior, porque nunca era uma colaboração tão verdadeira. Então tudo foi uma grande surpresa.

MP: Quando você se deu conta da proporção do alcance do vídeo?

Daniel: Algumas coisas aconteceram logo que o clipe saiu. Primeiramente, as visualizações. Mas quando Jim Carrey faz uma paródia dele no Saturday Night Life, você sabe que atingiu o zeitgeist. Foi uma boa sensação.

MP: Ainda sobre o trabalho com Sia, como é dar visualidade a uma artista sem rosto?

Daniel: Pra mim é um sonho, porque eu passo minha carreira inteira tentando convencer as bandas a não aparecerem nos clipes (risos), porque daí vira cinema. O clipe mais chato pra mim é quando você precisa só gravar a banda. Quando Sia veio e falou que não queria estar nos clipes, porque ela já tinha a ideia de um álbum no qual ela não estaria na capa, mas teria algo ela (a peruca loira), eu falei “perfeito”. Aí foi questão de achar a pessoa certa, a equipe certa, a ideia certa. Mas foi ótimo.

MP: Você já trabalhou com artistas muito diferentes. Quanto você cresce como artista ao trabalhar com tanta diversidade?

Daniel: Aprendo muito! Eu aprendi a amar colaborações, e isso evolui sua linguagem pessoal. Trabalhar com Phoenix foi ótimo, porque são caras muito legais. Há muita honestidade, talento e simplicidade neles, além da música incrível. Acho que aprendi muito com eles. Você conhece muita gente nessa indústria que é legal, mas, por causa do talento, tem muito ego. Com eles não, são tão legais e talentosos, mas não tem essa besteira toda. Isso foi algo que aprendi com eles. Com Sia, aprendi muito sobre emoções e humanidade. Acho que muito do meu trabalho era mais frio antes de começar a trabalhar com ela, porque ela sabe encontrar uma emoção específica de uma maneira muito forte.

MP: Essa era minha próxima pergunta: Como seu trabalho com clipes influencia seus outros projetos?

Daniel: Influencia muito! Clipes são onde você consegue experimentar algo novo. Eu acho isso natural. Faço publicidade, depois um clipe, depois um vídeo de moda, daí um curtametragem – acho que um acaba influenciando o próximo.

MP: Por que você acha que a combinação de música e imagem tem tanta força?

Daniel: Porque acho que, dessas duas coisas, você ganha uma terceira que é difícil de explicar – e eu acho que a força está aí. Eu me pego pensando muito nisso quando estou finalizando um vídeo. Parece óbvio, mas é algo que você tem que se lembrar de procurar por isso, algo que não vem só da música, nem só do vídeo, algo que te dá um frio na espinha, ou algum tipo de reação emocional – e essa é a força. Você sente quando tá editando, por isso eu sempre procuro por isso na edição, essa combinação que faz você dizer: “Algo muito especial acabou de acontecer”.

MP: Quais os seus clipes preferidos?

Daniel: Há muitos vídeos bons, sempre me pego pensando nos que me influenciaram. Adoro o aspecto espetacular dos clipes de Michael Jackson. Acho que os trabalhos de Jonathan Glazer e Chris Cunningham também.

MP: Se você pudesse escolher qualquer artista no mundo para fazer um clipe, quem seria?

Daniel: Hmm não sei, mas acho que Björk, adoraria trabalhar com ela.

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