Ítallo: Tire os sapatos para entrar em “Casa”

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Não há nada mais próprio e certeiro do que uma casa. Afirmo com a experiência de quem passou mais da metade da vida tentando definir o que é “morar”, “pertencer”, o que é ter casa com CEP, ou onde firmar essa estrutura. Acredito que Ítallo tenha chegado mais perto que qualquer um. Ouvir Casa, seu primeiro disco solo, é como entrar em uma esfera musical de alta qualidade, significativa aos ouvidos, o mais importante.

Ítallo lançou o EP Estrela Carente, da banda Alfabeto Numérico, em 2014. Duas das faixas do disco, Retrato Calado e Marly e Eu, fizeram parte da trilha sonora do comentado filme A Casa ao Lado, de Lucas Younes, o que lhe rendeu mais de cem mil plays no SoundCloud e no YouTube. O artista também fez parte da do seleto time da banda The Mozões, reunindo vários artistas da cena alagoana e pernambucana, como Chase, Nunes, Bruno Berle e Edu Pereira, da banda Os Pereira.

O clima íntimo revela mais do que composição solitária, acordes de violão sendo trocados, caderno riscado na caneta azul, busca sem fim da rima. Ítallo promove um arrebate com as oito faixas do disco. É preciso se entregar para suas músicas da mesma forma que ele se propôs quando traçou a composição. O refrão vem de dentro, vem macio, vai impregnando no assoalho, mudando de cor as estrelas. O mundo é casa e a Casa não é de ninguém.

Na primeira faixa homônima do disco, ele descreve do que precisa um lugar pra ser chamado de casa. O violão vai acompanhando, meio bossa, meio solto, vai trazendo o refúgio que acompanha esse trajeto das músicas. Compartilhar é um sopro de saudade, da necessidade de alguém pra se rimar, pra entregar toda essa beleza. Ouvir o disco inteiro e, principalmente essa faixa, é querer arrumar um amor “com passo de menina”, logo mais dá vontade de ter alguém com o olho verde “mais bonito do sertão”, desejo de ser a própria Cássia, ter “cabelos grisalhos” e morar em lugar que tenha Quintal, último suspiro do álbum.

A sucessão de letra e melodia, que se deitam em rede próximas à varanda, fazem desse projeto um motivo pra se buscar o amor. Enquanto esse não chega, é preciso partir em sua procura. É preciso amar o mundo, o sertão, seu espaço, folhas e prédios, rupturas abstratas e fundamentais – como Ítallo – pra tentar a missão de construir uma narrativa tão bela e original. Talvez casa seja isso mesmo, espaço vago, mas cheio de ideias.

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