Ouça o Som de 2013

o som de 2013

Fato: Consumimos muita música. São muitos discos, faixas, clipes e vídeos de apresentações ao vivo sendo lançados diariamente em vários meios de comunicação. Em meio ao bombardeio fonográfico, sobrevive ao tempo quem nos surpreende com originalidade, quem consegue se tornar ícone de um estilo ou cena, aqueles que atingem a onipresença na mídia ou, principalmente, as bandas e músicos, tanto faz se novatos ou veteranos, que lançam trabalhos dignos de levarem o título de “melhor” da época.

Em todo fim de ano, chega o momento de compilarmos aqueles em que apostamos que serão lembrados daqui muito tempo como os ícones de 2013, cada um por seu motivo. Ao longo dos próximos dias, você vai conhecer os escolhidos da equipe Música Pavê como os responsáveis pelo que chamamos de O Som de 2013 – tanto para ficar registrado para a posteridade, quanto para você ficar mais por dentro de como foram os últimos doze meses na música.

E, como sempre, não nos contentamos em só mostrar nosso ponto de vista e queremos saber também o dos outros. Por isso, saímos perguntando para outras pessoas mergulhadas em música quais foram, na perspectiva delas, “o som de 2013”. Veja quem o pessoal mencionou.

##Daft Punk

“O som de um ano, para mim, tem que ser um som que você não escolheu escutar. As músicas que mais marcam são aquelas que viram a trilha sonora dos momentos inesperados. Só música pop é capaz disso. Pra mim, a voz do ano é do Pharrell (falsete à la Prince e Michael) e fiquei entre Blurred Lines e Get Lucky. Mas gosto muito mais da música e do disco do Daft Punk. O ano foi de vários discos bons de bandas que não gostava e essa é uma delas. Sempre que ouvia, sentia uma nostalgia ruim, dance music 90’s. Pra mim, Daft Punk lembrava patins in line. Mas eles evoluíram para trás, que parece ser ainda o espírito da nossa época. Fizeram um disco muito mais melódico, delicado e orgânico, com muitas partes com banda tocando. Morte ao rei do camarote e viva o rei da pista.” (Tomaz Paoliello, da banda Garotas Suecas)

“Definitivamente, 2013 foi o ano da dupla francesa. Seja antes do lançamento de Random Access Memories e toda a expectativa criada a respeito do disco, os teasers, toda a fúria do primeiro single Get Lucky e finalmente o lançamento mundial em maio. Daí pra frente, só deu eles! Russos, ingleses, franceses, americanos e até brasileiros fizeram remixes, paródias e versões da música, que foi uma das mais tocadas (se não a mais tocada) do ano (e que o digam Barack Obama e Tonny Salles!). Todas as festas passaram a ter essa como a música obrigatória, ela entrou em trilhas sonoras, listas de músicas, fez a Internet girar e tá aí até agora, mesmo com outros sons do disco rodando por aqui. Sem dúvida, quem viveu ao menos um dia de 2013 e não soube da existência do Daft Punk precisa, urgentemente, rever seu ciclo de amizades ou revisar um pouco o feed de notícias.” (Rakky Curvelo, do site Tenho Mais Discos que Amigos)

“O som de 2013 foi Get Lucky do Daft Punk, que, além de resgatar os anos 70 e a disco music, trouxe a dupla francesa de volta às paradas com um estilo na contramão do que vinha se fazendo na música eletrônica atual.” (Leo Mascaro, fotógrafo)

“Sabe aquele disco que você aperta o play e logo dá vontade de pegar suas calças boca de sino (e, caso você não tenha, vontade de sair correndo para um brechó só para adquirir uma) e (finalmente) sair dançando loucamente por aí? Então, Random Access Memories, o novo disco dos robozinhos Daft Punk, que já nem estão mais tão robóticos assim, dá aquele comichão bailante incontrolável – ainda mais quando chega aquela música que você ouviu mais que sua mãe te mandando comer vegetais durante todo 2013, Get Lucky.” (Redação do site O Pasquindie)

##David Bowie

“O ano foi todo do David Bowie pra mim. O velhinho ficou sumido e nos fez perguntar por dez anos ‘mas onde é que ele está?’. E, como se o tempo não tivesse passado desde a trilogia de Berlim, ou como se tivesse embaçado as lembranças desses anos todos, em 2013, ele ressurgiu no tal dia seguinte para dizer: a pergunta não é onde eu estou, mas sim: Where are WE now?. Olhando pra trás, pra frente e nunca se esquecendo do agora, foi lá revisitar outros momentos da própria carreira em videoclipes, trabalhou com a vanguarda das artes, como Tilda Swinton e Arcade Fire, e fechou o ano com um remix fodaço dentro de um EP continuação de The Next Day. Conquistou novos fãs, reviveu a paixão dos antigos e deixou 2013 Bowie demais.” (Thiago Pethit)

“Bowie já é uma referência pra mim há algum tempo. E, de repente, em 2013, ele me sai de um hiato de quase dez anos com um CD fantástico, acompanhado de clipes super bem trabalhados, e com direito até a participação da Tilda Swinton, que vestiu a camaleonagem do Bowie como ninguém e assumiu um dos seus “lados” femininos – impossível não ser atingido por isso. Pra completar, ele ainda faz referência à sua trilogia de Berlim pegando a capa do Heroes e retransformando ela para o The Next Day. Tá aí: um Bowie atemporal como sempre marcando meu 2013.” (Brunno Monteiro)

##Vampire Weekend

Modern Vampires of The City, o disco mais recente do Vampire Weekend, não só se mostrou bom o bastante para vencer certa birra que eu tinha com a banda, mas também acabou sendo o meu álbum preferido de 2013. Boa produção, arranjos que fogem do óbvio e, especialmente, letras inspiradíssimas. Nenhuma música lançada nesse ano me impressionou tanto quanto Ya Hey” (Jair Naves)

“Sem a menor pretensão de ser imparcial, falo aqui em primeira pessoa: 2013 foi o ano que me afastou, com mais força, do mundo indie. A falta de evolução, a repetição infinita de temas e o culto a grupos dos anos 00 (alguns, relativamente medíocres), tudo isso se somou gerando uma quase aversão, como se o velho all star tivesse finalmente ficado pequeno demais pros pés. Eu queria uma banda com a consciência da mudança dos tempos na música e no mundo, uma banda que ousasse pensar em algo além de festas e amores, uma banda que estivesse amadurecendo de verdade. Disso eu não posso reclamar: com uma trama de samples mostrando reverência ao passado, uma produção brilhante digna de “som do futuro” e uma profundidade absurda nas letras, o terceiro álbum do Vampire Weekend mostrou que o Indie como música ainda pulsa – apenas quando percebe que até certo ponto, o Indie como rótulo e estilo de vida já morreu (ou deveria).” (Ana Clara Matta, do Rock’n’BeatsOvo de Fantasma)

##Justin Timberlake

“Justin Timberlake, com Spaceship Coupe e o 20/20 inteiro, porque eu não via a música pop atual como algo pra levar a sério, achava que era tudo igual. Eu já gostava de JT antes, mas nunca prestei atenção e nunca mais tinha ouvido também.” (Phillip Nutt)

##Rafael Castro

“Para mim, o grande nome de 2013 foi Rafael Castro. O cara fez um disco incrivel, cheio de rocks marotos, e o clipe de Surdo Mudo é impagável! Se existissem premiações sérias de música no país, esse disco estaria entre os melhores do ano.” (China)

##Vinicius Calderoni

Para Abrir os Paladares, disco do Vinicius Calderoni, leva a canção para lugares realmente novos, tanto do ponto de vista da (maravilhosa) produção do Tó Brandileone quanto também, e talvez sobretudo, no que diz respeito à canção, especificamente.” (César Lacerda)

##Apanhador Só

“Na minha opinião, foi o som do Apanhador Só. 2013 foi um ano cheio de muitos lançamentos incríveis, tanto internacionais quanto nacionais. Mas devo destacar que, em nosso país, tivemos a sorte de ter recebido belíssimos discos. O álbum Antes que Tu Conte Outra, do Apanhador Só, foi um dos que me surpreenderam bastante, é claramente um disco mais maduro e que me fez gostar ainda mais da banda. Posso considerar esse não só o som de 2013, mas, com certeza, também o som de 2014.” (Breno Galtier, fotógrafo)

##King Krule

“Pra mim, o nome do ano foi King Krule.  Pensei em outros, como o Deafheaven e o Nvblado, aqui do Brasil, mas nenhum nome teve tanto peso como o dele. De vez em quando, aparecem uns caras que mandam um “foda-se” pra todo mundo que acha que a música não tem mais pra onde ir, que tudo é repetição e que não existe nada de novo. King Krule é o cara desse ano.” (Vitor Brauer, da Lupe de Lupe)

##Boogarins

“Acho que de tudo que vi, vivi (e ouvi), os goianos do Boogarins despontaram muito mais alto que os outros. Não sei precisar o quão longe os caras ainda vão, mas já deu pra sacar que agora é “o” momento de virada da banda. Ousados, redescobriram o rock nacional na psicodelia moderna, um estilo claramente influenciado pelas principais tendências musicais da atualidade. Jovens, mostram uma sonoridade pulsante, cheia do fôlego que eles usam para correr atrás de algo que ainda está para acontecer. Depois disso, 2013 pode acabar tranquilamente.” (Izabela Costa, do Perdidos no Ar)

##Emicida

“O rei de 2013 foi Emicida com o seu poderoso disco O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui. Emicida é genial em tudo que faz. E faz! Músico independente da periferia de São Paulo, correria, zica e fez um álbum para mostrar a que veio. Registrou tudo em video num documentário. Me parece um daqueles caras que tudo o que toca vira arte e o melhor, arte que atinge desde as vielas até os palácios. Arte de alma para alma, sabe? Com uma poesia direta, lancinante e genuína. Cantou com Caetano, uma das canções do disco toca na rádio mais famosa de MPB do RJ, se consagrou no ano com um disco comentado por muitos artistas, com participações de Tulipa, Wilson das Neves, Pitt, de sua mãe Jacira (coisa linda!) e de Rael, seu fiel escudeir. Emicida comove, incomoda e move toda uma geração, é um vitorioso que a todo tempo grita um ‘levanta e anda’ enquanto segue sem parar lotando corações e shows por cidades de todo o Brasil, eu mesma vi e vivi um desses momentos lindos dele aqui no Circo Voador. Do Jardim Fontális para o mundo ele trouxe o disco que não sai dos meus ouvidos e já me fez, chorar, sorrir (como na singela Sol de giz de cera, em que a filhinha dele faz participação), sonhar e seguir. Fico satisfeita e aliviada em avistar esses novos heróis da nossa música! Vida longa, mano!” (Karla da Silva)

##Fábrica

“É quase impossivel escolher um disco só para o ano todo, mas eu iria com Grão, pela qualidade das composições, é claro (não há uma música ruim no disco), e pelo ambiente que conseguiram criar, com camadas de vozes, efeitos psicodélicos na guitarra e o saxofone que caiu muito bem.” (Jan Felipe)

##Rodrigo Amarante

“Aproveitando um discurso comum, costumo brincar que “dois mil e crazy” não está sendo fácil. Na música, no entanto, ha uma série de trabalhos fortes que não só ajudam a travessia desse ano, como também renovam e revelam outros possíveis olhares para os tempos difíceis – uma percepção, claro, extremamente pessoal. E, dentre os lançamentos que me acompanharam no percurso dos meses, o que mais me toca – e o que acredito melhor dialogar com toda a loucura desse ano – é Cavalo, estreia solo de Amarante. Não poderia ser menos impactada por um disco que é atravessado pela solidão – certos silêncios -, mas que traduz com afeto intenso esse processo delicado. É o estrangeiro reconhecendo sua inadequação no tempo e no espaço, mas atravessando por dentro essa distância. A descoberta do brilho de se olhar e se reconstruir – se ver diante de si, e ter somente isso – faz com que as canções de Amarante pareçam corpos a ocupar (e conquistar, principalmente) um novo ambiente. Cavalo recria o Amarante que conhecíamos e é capaz de recriar também quem se der a conhecer.” (Julianna Sá, do Dobradinhas e Outros Tais)

##Ducktails

“Longe de ter sido um dos nomes mais badalados de 2013 (ano em que não ouvi muita coisa ”atual”), o disco que mais escutei foi The Flower Lane, do Ducktails, projeto do guitarrista do Real Estate, Mateus Mondanile. Esse disco me acertou em cheio, com uma vibe meio intimista meio colorida. Timbres e canções lindas. Acho que é uma boa tanto pra quem gosta de Real Estate e pra quem não.” (Benke Ferraz, da Boogarins)

##Macaco Bong

“Acho que vou polemizar (de leve) comentando uma banda cujo CD mais recente não é de 2013, mas de 2012, mas que teve um 2013 ótimo na minha opinião. Nesse caso, o This is Rolê, CD esmagador do Macaco Bong. Cito eles, e este CD, por que foi só agora em 2013 que consegui enxergar todas as referências por de trás das músicas da banda. A formação atual e a boa fase do grupo me fizeram parar, enfim, e dedicar um bom tempo para apreciar o rockão instrumental dos caras. Riffs absurdamente criativos e que te prendem durante o disco inteiro, citações a todos os meus estilos musicais favoritos e ainda sentir uma pitada de Diesel (lembra?) ali. Não dava pra ser melhor, meus caros.” (Luís Martino, do Tocavídeos)

##Paul McCartney

“O som de 2013 é o bom e velho Paul McCartney, que, mesmo depois de lançar tantos discos, conseguiu reformular a sua maneira de fazer música. Talvez tenha discos e bandas que são mais intrigantes, mas eu sempre fico abismado com a quantidade e qualidade da produção que ele faz. Ele tem idade para ser meu avô. Imagina você chegar na casa de seu avô e ele falar: “E aí, garotão, o vovô está com um novo disco, vamos escutar?”. É impressionante.” (Guri)

##Vanguart

“Será que é previsível dizer que Vanguart marcou 2013 de uma forma simplesmente linda? O disco Muito Mais Que o Amor bateu na alma de um jeito tão forte que posso dizer que é um dos meus discos preferidos. A evolução e maturidade da banda são pontos que não tenho como deixar de destacar. E as letras e arranjos? Ah, isso fica pro coração de cada um sentir da forma como for conveniente. Meu Sol virou trilha sonora da vida.” (Camila Carneiro, do Pulsa Nova Música)

##Devendra Banhart

“Para mim, uma das grandes revelações desse ano foi o novo disco do Devendra Banhart, Mala. Acho que a grande revelação desse disco para mim foi a reinvenção. Senti na sonoridade e na busca estética do álbum algo novo em relação aos discos precedentes, porém ainda assim mantendo uma coerência artística impecável. Pra mim, foi um grande exemplo de como a arte de um músico ou banda deve evoluir, de maneira natural e surpreendente.” (Ramiro Levy, da Selton)

##Oliver Wilde

“Às vezes, discos chegam à sua vida e nunca mais saem. Sei que é cedo para dizer isso, mas os cinco meses que passei ouvindo A Brief Introduction to Unnatural Light Years, do até então desconhecido Oliver Wilde, já me mostraram que essa é uma obra que carregarei (com muito prazer) para sempre. Com grande carga emocional em seu trabalho, o disco ecoa tendências de Elliot Smith (e talvez Cícero) em uma espécie de Folkatronica Lo-Fi com grande carga emocional. Certamente, Oliver é um novato que chegou pra ficar, se não entre os novos artistas mais populares, pelo menos irá se destacar entre as melhores descobertas de 2013.” (Nik Silva, do Monkeybuzz)

##Queens of the Stone Age

“É difícil escolher um nome porque foram muitas coisas boas lançadas esse ano, ignore o quão falsa essa frase pode parecer, houve boas coisas mesmo. Mas uma não me sai da cabeça, pensando em áudio, vídeo, show, postura, divulgação, tudo: Queens of the Stone Age, Queens of The Stone Age, Queens of the Stone Age”. (Gabriel Ventura, da Ventre)

##Bill Callahan

“Esse ano foi muito intenso no que diz respeito à minha vida pessoal. Repleto de ansiedade. E todo o processo de criar, gravar e lançar o primeiro álbum da Baleia me impediu de criar relações mais profundas com álbuns. Escutei muita coisa e gostei de muita coisa, mas, até mês passado, seria impossível escolher um único artista para sintetizar essa volta ao redor do sol. Agora que a poeira começou a baixar, pude escutar, enfim, o Dream River. Estou fechando o ano de mãos dadas com esse disco. Encontrei uma espécie de conforto existencial nele. Sou fã do Bill Callahan desde a época em que ele lançava discos como Smog. Ele é um puta cancioneiro. Um puta contador de histórias. Talvez, meu letrista favorito. É impossível separar suas músicas das palavras. O Bill cria um folclore vivo e contemporâneo de seu próprio cotidiano. Nas canções, ele é o mito de si mesmo. Nesse disco, ele parece fazer as pazes com sua humanidade. Ele aceita a difícil beleza de estar vivo e a inteligência e completude que pode surgir de sua própria natureza. Ele olha para sua amante dormindo e reconhece que tem uma casa. Ele vê que não é tão diferente de uma águia que voa porquê foi feita pra isso e que usa os rios como guias porque está em seu instinto. Ele faz uma música sobre o cio de um amor verdadeiro e a vontade de correr o risco de ter um filho. Ele vê o inverno e uma estrada longa e perigosa, mas sabe que quando as coisas parecem bonitas, ele deve, apenas, continuar. E eu, como sempre, me encontro extremamente identificado com o seu universo lírico e com a beleza simples e confiante de sua música. E, no final de um ano cheio de ansiedade e sonho, sem saber o que esperar do próximo, vou fechando esse ciclo fazendo de suas palavras as minhas: Giving praise in a quiet way/Like a church/Like a church/Like a church that’s far away.” (Gabriel Vaz, da Baleia)

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