Nova Música Pulsou por Aqui

phill veras

Tem coisas sobre o interior do estado de São Paulo que nem todo mundo sabe. Seja o calor que faz por lá, as paisagens campineiras que vemos das estradas (junto das grandes plantações), o número de cidades grandes ou o fato de se tratar do segundo maior mercado consumidor do país, atrás apenas da capital paulista, a região fora da Grande São Paulo e do litoral tem muito a ser descoberto. Tenho um grande carinho por toda a área, com tantas viagens e trabalhos que já fiz pelo interior, e isso voltou a pulsar em mim com força no sábado, 10 de agosto, na primeira edição do Festival Onde Pulsa a Nova Música.

Acolhido em Santa Bárbara d’Oeste (a menos de duas horas da metrópole), o evento ofereceu aos jovens da cidade um contato direto com gente responsável pela música que acontece no Brasil hoje, seja com bandas ou na produção musical e jornalismo cultural, em um evento que começou às 15h e foi até depois das 22h.

Durante todo o dia, tentei fazer uma cobertura em tempo real pelo Instagram e Twitter. Agora, quero contar o que não dava pra dizer na hora, porque eu precisava de um tempinho pra parar, processar e concluir o que vivemos ao longo do dia. Lá, na hora, eu só conseguia traduzir a sensação assim:

Tudo começou com um bate papo com o produtor Carlos Eduardo Miranda (mais conhecido por seu último nome), Pablo Miyazawa (editor da Rolling Stone) e Lúcio Ribeiro (do blog Popload). A pauta da conversa variou bastante dentro dos temas do papel do produtor e do jornalismo de música agora e o que ficou pra mim foi a sensação de que estamos em um momento de transição tão grande no cenário musical que todo mundo colabora com o que pode, sem ter muita certeza do que vai vir por aí, mas na convicção de que aquilo que funcionava há algum (pouco) tempo já não é a realidade em que vivemos.

Depois, foi a hora do papo ficar pra mesa do bar e o palco ser tomado pela música sobre a qual tanto falamos. Foi aí que a Quinta que Vem subiu lá e, com uma atitude despretensiosa e bom humor, comandou a festa com músicas de seu EP de estreia, do próximo disco, covers (Los Hermanos, Beatles) e um mash up do que o pessoal costuma chamar de guilty pleasures – de “Pense em mim, chore por mim, liga pra mim, não não liga pra ele” até Netinho e sua Mila. Orgulho nosso, já que a banda estreou aqui no site.

Outro show que não teve como passar desapercebido, mas por motivos bem diferentes, foi o de Phill Veras. Ele é um daqueles que estão na minha mira há muito (mas muito) tempo (mesmo) pra uma matéria aqui no Pavê, mas que a vida, por um motivo ou outro, acaba atrasando a concretização. Pois bem, já estou preparando algo sobre ele, mas o que você precisa saber desde já é que toda a beleza de seu Valsa e Vapor pode ser ouvido em seu show. É aquela pegada bem brasileira, bem contemporânea, uma coisa bem pós-Los Hermanos que é difícil não curtir muito. Senti a mesma coisa no show da Oito Mãos, que é uma banda que eu conhecia muito pouco, mas que fez uma apresentação muito bonita no Onde Pulsa a Nova Música. É também essa vibe, mas com uma pegada mais rock (o que caiu muito bem pra começar bem a noite, que trouxe mais peso do que a tarde no festival).

O show da About a Soul trouxe uma alma Folk naquele espírito mais grandioso do estilo, com letras em inglês e uma grande beleza. Mas isso foi ainda na metade da tarde, antes do rock tomar conta de uma vez do palco. E um dos pontos mais divertidos do festival foi justamente a apresentação da Soulstripper (o nome mais genial dos últimos tempos) e seu bom humor combinado à postura garageira de banda de rock das antigas. Cheguei lá achando que não conhecia o grupo (não tive tempo de pesquisar antes de ir e, particularmente, gosto de surpresas), daí caiu a ficha que era a banda desta música e clipe aqui:

O vídeo é um bom indicativo de como foi o show, mesmo não deixando a pegada rock’n’roll tão evidente. E, por falar nisso, não teria como a noite terminar melhor do que com um show daqueles de Nevilton. É sério: O que esses três aprontam no palco são dignos da plateia inteira simplesmente ficar com aquela sensação de “uau, tenho uma banda nova favorita”. Não é exagero. É uma performance envolvente e empolgante, ao mesmo tempo que a gente fica naquele êxtase da admiração de um grande artista – e ver o apuro técnico dos caras ao vivo é de cair o queixo. Fiz algumas muitas dezenas de fotos da banda, mas a que eu acho que melhor representa o show foi esta que publiquei no Instagram:

É muito movimento com a figura de Nevilton, o frontman, ao centro da apresentação. O trio tocou músicas antigas misturadas às do novo disco, Sacode, além de algumas homenagens a bandas que influenciaram seu som. Um show leve, mas muito denso em significados (as letras são ótimas) e virtuosismo.

O que eu não contei até agora foi que tudo isso aconteceu em um espaço cultural da cidade, com entrada gratuita. Eram portas abertas e qualquer um que estivesse passando poderia entrar e curtir, desde o bate-papo até os shows. Sim, vivemos em uma época de música nova e isso envolve os mais diversos significados. Não produzimos e criticamos da mesma forma como fazíamos antigamente, mas a própria música se apresenta de uma nova forma. As bandas estavam sempre por ali, assistindo aos shows e conversando com quem se aproximasse. O intuito não era fotos ou autógrafos, mas o contato direto com quem cria o som que ouvimos.

E isso tudo porque a música hoje é diferente sim. Ela é mais acessível, mais próxima. Mas, acima de tudo, a nova música é muito boa.

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