Entrevista: Posada e o Clã

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Carlos Posada, logo de início, se apresenta assim: “Eu sou pura mágoa”. E essa intimidade, esse peito aberto, é o melhor cartão de visitas possível para entendermos o espírito do seu primeiro álbum Posada, lançado na semana passada.

O álbum da Posada e o Clã é recheado de metáforas e de sentimentos que exalam o sentido, é um treino poético da vida urbana com raízes bem fincadas nas tradições nordestinas. Posada deveria estar nos dicionários como sinônimo de universalidade, de algo não linear que tende ao infinito. Ousaria dizer que esse registro é um verdadeiro exercício diário da paixão.

Há algo de simples, uma paixão ingênua, que nos encanta por trazer o que existe de mais nobre na gente, um tipo de sentimentalismo recheado de distorções, de riffs bem elaborados e de uma dança que não poderia deixar de existir. Posada, é isso, só que bem melhor.

O álbum vem ilustrar a necessidade que a música tem em ser globalizada e de fácil acesso a todos, pois o mais importante de tudo é ser ouvido, ser difundido, e passar uma mensagem de que não, não é necessário acordar.

O Música Pavê foi atrás de Carlos Posada para saber mais sobre seu belíssimo trabalho, que você pode baixar aqui.

Música Pavê: Posada, existe algo de novo nas suas músicas. Suas letras são modernas, urbanas e ao mesmo tempo tradicionalmente nordestinas, de raiz. Suas experiências pessoais levaram você a essa fusão?

Carlos Posada: Todo mundo é assim. O povo é cigano. Quando não pega a estrada de terra, muda por dentro, muda de ideia. Os sentimentos não param. As experiências pessoais sempre vão estar presentes, mesmo que sejam em forma de negação. Acho que a partir do momento que se entra em contato, mesmo que pequeno, com qualquer forma de cultura, ela já começa a brotar no seu trabalho. Você fica com certas imagens e sons na cabeça pra sempre. Mas, não preciso ficar indo lá, deixo a cabeça se arrumar sozinha. Eu tento estar presente. Vou somando.

MP: Ainda me referindo à pergunta acima, certa vez houve um encontro entre o Marcelo D2 (urbano) com o Lenine (regionalista) no extinto Estúdio Coca-Cola. Esse encontro marcou muito a música brasileira por representar o encontro de dois pólos distintos que tem muito em comum. Esse encontro musical do Posada foi programado ou saiu assim sem pensar? Conta pra gente.

Posada: Rapaz, foi sem querer. Eu e [o produtor Bruno] Giorgi pensamos em tantas formas e falamos sobre tantas coisas. Tem essa brincadeira de irmão, de sol, de rir muito, de entrar em parafuso, de estar com a razão, mas passar a vez, sabe? Acho que a riqueza do disco vem da minha Jacinta, Maria Ackley, dos meninos que participaram (O Clã todo: Hugo Noguchi, Cláudio Serrano, Uirá Bueno, Bruno Muniz, Diogo Furieri, Gabriel Barbosa, Gabriel Ventura, que assina a coprodução de Navalha). Todos eles são múltiplos.

MP: As palavras que você usa nas suas composições são surpreendentes. Acho que Retalhos foi a primeira canção em que eu ouvi a palavra “Ovomaltine” na minha vida. Achei genial pelo sentido que ela trouxe em torno do que você queria expressar na canção. Isso me lembra bastante a forma como o Rodrigo Amarante quando colocou que estava na “fila do pão” em uma canção do Los Hermanos. Sempre tive muita curiosidade sobre isso: como é a sua forma de composição?

Posada: Rapaz, eu me divirto muito. Eu gosto de escrever. Mesmo quando estou triste e escrevendo coisas que não vou cantar, tem uma parte de mim feliz. É o que escolhi fazer. Primeiro deixo tudo vir, não escolho, nem faço diferença entre os sentimentos, é tudo igual, fico apenas servindo de máquina. Depois eu uso a razão, a pouca que tenho. Reconhecendo-me ou tendo novas impressões de mim mesmo. Às vezes é meio Chico Xavier, baixo a cabeça e vou escrevendo. Ovomaltine é bom demais né? Tem várias formas de compor que quero aprender também. Experimentar mais.

MP: Defina pra gente o que representa o Carlos Posada como banda.

Posada: Trabalho e amizade. Somos amigos de verdade e levamos nosso trabalho a sério. Do timbre às letras. Parece divertido, porque é mesmo.

MP: Posada, o que você tem ouvido ultimamente?

Posada: MC Marechal, Björk e Rua.

MP: Quais são seus álbuns favoritos?

Posada: Chico César – De uns Tempos pra Cá; Ney Matogrosso e Rafael Rabello – A Flor da Pele; Alceu Valença – Estação da Luz; Eddie – Original Olinda Style; Lenine – Chão; Beck – Odelay; Mano Chao – Clandestino.

MP: Como você se vê daqui a um ano?

Posada: Cantando as músicas do próximo disco.

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