Daughter – Still
Bons escritores sabem que a veracidade de uma história tem muito a ver com duas habilidades: a capacidade de inserir detalhes; e a possibilidade de fazer com que os interlocutores se relacionem de alguma forma com os personagens.
O novo clipe do Daughter, Still, vem com tudo isso. A câmera objetiva observa os personagens se esquivando um do outro.
Através de uma sucessão de close-ups, chega-se ao clímax, em que a garota tenta desprender os grampos do cabelo. Estaria tentando se desprender do relacionamento também? Essa noção pode ser percebida em todo o despir dos personagens, que muitas vezes é – de forma não usual – representado apenas pela sombra das ações na parede.
A música embala o roteiro até o momento em que a escuridão invade tanto a letra, quanto a cena, com o apagar da luz do abajur. De forma intrigante, apenas através do espelho, vemos a garota deitar, o que nos dá a impressão, de que ela está sozinha. Corte. Na cena seguinte o casal está deitado lado a lado na cama. De olhos abertos, porém reclusos em seus próprios mundos. Bem literal, a imagem reflete a música. Os dois compartilham a cama, o espaço, gestos, enquanto querem se libertar um do outro. Ou exatamente o contrário: querem estar juntos, mas não sabem mais como, através de que gesto ou ação. O clipe evidencia o que muitos de nós aprenderam e outros negam: ódio e amor são separados por uma linha muito tênue e o limite é a distância.
Avaliação MP: 3.5/5