Conheça: Jaubi
No último podcast do Música Pavê, o músico Curumin falou um pouco de suas reflexões sobre o que nos move e nos une em torno da música, tanto enquanto artistas quanto enquanto ouvintes. Ele disse que tem buscado inspirações em artistas da Ásia, do Oriente Médio e em como a lógica da produção e do consumo de música por lá é diferente daquela imposta pela do mercado. Enquanto ele falava, lembrei logo na hora dos artistas que trago aqui pra vocês.
Jaubi é um quarteto paquistanês composto por Ali Riaz Baqar (guitarra, que também assina a composição da maior parte das músicas), Zohaib Hassan Khan (sarangi, o principal instrumento de cordas do Paquistão, Nepal e Índia), Qammar ‘Vicky’ Abbas (bateria) e Kashif Ali Dhani (tabla, um instrumento percussivo também bastante popular na região). A banda geraram algum burburinho em 2016 quando lançaram o The Deconstructed Ego, ousado EP que mistura elementos do jazz, do hindustini (música clássica indiana) e do hip-hop – com direito até a um cover de “Time: Donut of The Heart”, de J Dilla, na faixa “Dilla Taal”.
Em 2019, o multi-instrumentista inglês Tenderlonius e o pianista polonês Latarnik colaram em Laore (cidade mais populosa do Paquistão) pra gravar algo com o quarteto e das sessões saíram o Ragas From Lahore (lançado pelo inglês em 2020) e as sete faixas que compõem o Nafs at Peace, e aí poética e sonoridade brincam de mãos dadas: se “jaubi” é a palavra urdu para “tanto faz” e “nafs” significa “si próprio”, e todo o processo de gravação valorizou a expressão musical íntima de cada músico (não houve partituras e nem mesmo título pras faixas antes delas serem gravadas), o que ouvimos em cada faixa são provas de que a intimidade não precisa ser necessariamente solitária. Há sintonia de grandes conhecidos, que se ajudam e se ajustam em cada acorde de uma forma leve e bonita.
O disco abre com um suave suspiro em Seek Refuge, passa pelo flerte com o rock em Raga Gurji Todi, se aprofunda nas sonoridades hindustini de Straight Path a Zari e termina epicamente em Nafs at Peace, que é certamente uma das experiências mais épicas e atordoantes na música em 2021. É um álbum que se constrói para transcender, dentro e fora do corpo; é um convite para transitar pelo velho e descobrir o novo, conceber novos pontos de vista.
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