Clarice Falcão promove festa para chorar no show “Tem Conserto”
“Me falaram que meu disco tem duas partes, uma para chorar chorar e outra para transar”, disse Clarice Falcão durante show de estreia de Tem Conserto em São Paulo, no SESC Pompeia. “Então, eu coloquei logo as músicas pra chorar no show”, continua, “daí depois a gente transa”.
O palco ao ar livre em uma das tardes mais frias do ano foi cenário para o conteúdo tão pessoal do disco ser cantado por um público sempre muito animado. Para encorajar a dança, além do frio, a cenografia remetia à cena eletrônica que influenciou a produção do disco, e os timbres sintetizados (“uma syntharada“, como ela disse) cumpriram bem essa função – vale dizer também que eles nunca tiraram o foco da voz, que carregavam no primeiro plano os versos e o humor da artista.
Clarice cumpriu a missão de apresentar um novo trabalho pela primeira vez, assim como resgatar músicas de outras fases dentro da nova estética – Lucas de Paiva, o produtor e membro da banda, fez as vezes de Silva em Eu Me Lembro. Entre a melancolia de Esvaziou e Morrer Tanto, brilharam também os momentos dançantes de CDJ e Só + 6, além de releitura de Charlie Brown Jr. e um côro “Ei, Bolsonaro, vai tomar no cu”, acompanhado pela banda, depois dela dizer que Bad Trip não era sobre “esse imbecil que temos como presidente” e, depois, adicionar um singelo “é sim” naquele timing de comédia que conhecemos bem.
No bis, a sequência Minha Cabeça e Irônico deram conta de unir os dois climas propostos para o show. Depois, a faixa-título foi apresentada com uma sobriedade ainda maior que no álbum, fazendo o verso “dia desses eu me conserto” ecoar no fim de tarde e, em meio ao vento frio, ressignificar o espetáculo como, ao invés de músicas cantadas por uma comediante, a franqueza de quem coloca nas letras algumas verdades das quais não consegue fugir.
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