“Voador”, de André Prando, é uma das melhores surpresas do fim de ano

foto por stefany pollack

“Eu não gostei do gosto de ser outro” – o verso salta à audição de Voador, mais recente lançamento do músico capixaba André Prando, que esbanja personalidade entre guitarras carregadas, letras intimistas e belas participações em uma das boas surpresas que este fim de ano trouxe.

A capa psicodélica ajuda a desvendar um pouco a expansão sonora que o álbum oferece, mas o músico não se contenta muito com essa classificação. Em conversa com o Música Pavê por telefone, ele comenta observar sua obra muito mais no campo da “canção” que a tradição autoral brasileira trabalha do que nas referências globais desse estilo, como MGMT e Tame Impala.

Isso explica o teor “cancioneiro” que faixas como Moro no Interior do Mundo, Catalepsia Projetiva e Ode à Nudez demonstram em meio aos timbres enérgicos e a interpretação sentimental no vocal. Ao mesmo tempo, Salve seu Broder e Fantasmas Talvez, por exemplo, situam o trabalho no campo psicodélico que a gente esperava, aproximando seu trabalho da produção brasileira de hoje, aquela que herdou de Os Mutantes uma estética muito nossa de trabalhar esse gênero.

A maneira com que André Prando conversa sobre Voador demonstra o grau de pessoalidade que está presente na natureza do disco. Da mesma forma, as participações no álbum – gente como Duda Brack, Luis Gabriel Lopes e Gabriel Ventura (Ventre), entre outros – aconteceram em meio a relações de admiração e de amizade, gente que ele conta com empolgação sobre como veio parar no disco. Fica a impressão de que ele está feliz com esse lançamento não só por ter feito um bom trabalho, mas por ter colocado no mundo algo que é, em primeira instância, especial para ele.

E fica aí uma direção para você percorrer as músicas de Voador, reconhecendo ali um forte teor de autoralidade que se baseia na pessoa do artista. É aí que entendemos melhor o disco não ser só cancioneiro, não ser só roqueiro e não ser só psicodélico: André Prando está sendo ele mesmo, com as diversas nuances que a identidade de alguém naturalmente traz. Melhor ainda é receber tudo isso em ótimas composições tão bem produzidas.

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