Vitoru: “A Nossa Identidade É Complexa”

foto de paola vianna

“Repertório” pode significar duas coisas quando tratamos de música. Há o sentido mais comum, que diz respeito à seleção de canções presentes em um disco ou show, por exemplo, mas existe também aquele mais amplo, utilizado também fora da arte, que comenta a coleção de informações, experiências e até mesmo inspirações que um indivíduo utiliza como referência na hora de ler o mundo à sua volta e dialogar com ele.

Ambos os sentidos vem à mente quanto tratamos de Vitoru, artista que lança seu álbum Kinjo acompanhado de pinturas feitas pelo próprio artista, tudo após treze anos dedicados à vida acadêmica em um processo que dialoga a cultura com o eu – não à toa, o disco tem como título seu sobrenome. Descendente de japoneses da ilha de Okinawa, o paulistano realizou uma intensa jornada de descobrimento de suas raízes para, com sua produção artística, provocar o questionamento: “Será que japonês pode cantar música brasileira?”, como ele comentou ao Música Pavê.

“Eu tive que estudar tudo isso para poder dizer que sim, eu posso”, conta ele, que acrescenta também que o Brasil tem a maior colônia de imigrantes japoneses, mas eles são pouco representados na mídia e na cultura como um todo: “Você abre uma revista e não vê nenhum asiático, talvez só algum vendendo uma televisão”. “A nossa identidade é complexa”, continua, “o disco foi também uma forma de falar dessas questões não através da academia, mas através da arte”.

Com a produção para o doutorado, ele começou a buscar alternativas de como expor aquilo que “a palavra escrita não estava dando conta” através também do teatro, dança e também pintura, que deu ao álbum um amparo visual nessa busca não só estética, mas também do conteúdo que explora suas raízes – o que ele chama de autoetnografia.

O que foi muito fundamental na trajetória acadêmica foi criar esse terreno a partir do qual eu pudesse cantar”, conta Vitoru, “a música em si, a composição, ela é justamente o que não coube na minha reflexão acadêmica. O disco não é nada acadêmico justamente por isso” – e a audição de Kinjo revela um trabalho que passeia por diversas geografias brasileiras com a mesma fusão de estilos e tempos que nos é pertinente. “O mais legal da cultura brasileira é essa dimensão antropofágica”, comenta ele, citando o tropicalismo e o manguebeat como exemplos (referências também percebidas no álbum).

Com isso, Vitoru promove uma obra variada que dá conta conceitualmente de suas questões autoetnográficas quanto oferece um panorama da música feita aqui no país, merecendo assim fazer parte do repertório de todos os interessados no tema, mesmo que distante da academia.

Você ouve Kinjo com exclusividade no Música Pavê. Seu lançamento nas plataformas digitais acontecerá na sexta, 9 de junho.

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