Visão Noturna Faz a Ponte Brasil-Angola Dialogar com o Mundo

foto por camila pastorelli

“Temos que dialogar como artistas do mundo”, contou Felipe Antunes ao Música Pavê sobre seu projeto Visão Noturna. Ele visa unir Brasil e Angola – origens de seus dois integrantes – ao ressignificar não só o intercâmbio cultural, mas também toda nossa cosmovisão, em um lançamento multiplataforma que se apresenta aos poucos em livro, documentário e – é claro -, disco com apoio da iniciativa Natura Musical.

“Na minha cabeça, a viagem toda da sociedade na música, arte e ciência é multilinguagem em si, porque o ser humano é assim”, comenta o músico, “a gente precisa entender as coisas de um jeito múltiplo, porque nossa natureza é complexa. E isso é legal! (risos). Nosso disco tem a ver com isso”. “Mais do que as músicas, ou o livro e o documentário que vão vir, Visão Noturna é sobre o processo, a maneira que a gente pensou a feitura das coisas”.

Hoje, 24 de abril, o mundo conhece a segunda parte do projeto, Visão Noturna – Ato 2. Suas duas faixas argumentam a favor da fala de Felipe, visto que (assim como no Ato 1) elas apresentam uma grande variedade estética, resultado de inspirações e referências diversas, sempre de encontro com qualquer ideia pré-concebida do que seria a parceria entre um brasileiro e um angolano.

Nástio [Mosquito, seu parceiro de projeto] é um artista interessante, porque ele gosta muito de ser um artista do mundo, ao invés de ser estigmatizado como ‘artista africano’. Isso é interessante, porque ele ajudou a desconstruir um pouco da provocação musical de origem afro-brasileira”. explica Felipe, “a nossa sensação é que a gente tem que dialogar como artistas do mundo”.

Juntos, os dois tiveram como norte para esse trabalho pensar o pós-eurocentrismo, entendendo que nossa cosmovisão é baseada no pensamento do Velho Mundo. “É como a gente aprende a filosofia, psicanálise, história, tudo vem da Europa”, comenta Felipe, “e a gente fez questão de, em todas as etapas do projeto, afirmar para quem estava trabalhando que esse projeto é pós-eurocêntrico. Para nós, a ponte transatlântica Brasil, América Latina e África é muito importante – e muito óbvia. Nem digo isso como estereótipo do que é uma música brasileira e africana. Acho que a gente caminhou um pouco para se libertar disso, ao mesmo tempo que afirma essa dimensão pós-eurocêntrica musical, histórica e filosófica”.

Nas gravações, Felipe e Nástio tiveram apoio de uma banda formada por gente como Guilherme Kastrup, Leonardo Mendes, Kika, Allan Abadia e Chilala (primo de Nástio), entre outros nomes que contribuíram ao aspecto plural que Visão Noturna apresenta. “O disco foi arranjado coletivamente, era tudo muito livre”, conta o músico, “a gente está tentando propor uma maneira diferente de pensar as hierarquias e essa sociedade vertical que a gente vive”.

“Não é só questão da gente pensar diferente daqui em diante, mas refundar a cultura a partir de outros pontos de vista. E o projeto alimenta essa intenção.  A sociedade é assim, a gente tem pensamentos diferentes que se encontram e se integram. Isso é bonito de alimentar, né?”.

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