Ver Backstreet Boys Ao Vivo É Voltar no Tempo

Pela primeira vez na minha vida, pude assistir a Backstreet Boys ao vivo. Fui sozinha e escolhi um tênis bem confortável que me deixasse à vontade pra pular, tão alto quanto eu esperava que fosse o som da minha voz, gritando “Everyboooooody (yeeah)” em algum momento inevitável daquela noite que abria a turnê DNA no Brasil em Uberlândia. Fui sozinha, mas não foi assim que eu fiquei. Foi imediatamente quando pisei meu All Star vermelho na Arena Sabiazinho e vi diante dos meus olhos um mar de gente que carregava nas testas fitas estampadas com algumas variações do nome da banda coberto com glitter que descobri que tinha alguém à minha espera, pronta pra me fazer companhia. Alguém que tinha ficado caladinha por anos, mas que ontem queria cantar todas as músicas decoradas nas aulas de inglês na adolescência. Alguém que, na verdade, tinha ido comigo, mas do lado de dentro: a Lívia de 1998.

Se você foi adolescente nos entornos dos anos 2000 e viveu em algum lugar do Planeta Terra tocado pelos meios de comunicação – não adianta negar – você se deixou contagiar por pelo menos um dos hits do fenômeno Backstreet Boys sim. Talvez seja por isso que hoje, com 27 anos de carreira, a banda continue arrastando multidões para as suas apresentações. Fãs, muitas vezes acompanhadas das suas famílias, mas em sua maioria acompanhadas de um grupo uniformizado (sério!) que deixava evidente as marcas de uma amizade que (aposto!) teve seu auge na mesmíssima época auge da banda, coisa que eu descobri só de ver o jeito que as pessoas se olhavam ontem enquanto as músicas rolavam no show: dedos indicadores dançavam no ar apontando para as amigas no ritmo das batidas, enquanto os olhares sorriam numa sensação de “você lembra?, acompanhando os versos gritados. Nostalgia que também parecia transbordar dos cantores no palco que, entre uma música e outra, se alternavam conversando individualmente com a plateia entre tentativas de pronunciar “obrigado” corretamente e perguntas que se repetiam dizendo: “Vocês realmente ainda amam Backstreet Boys mesmo depois de todos esses anos?”.

Por duas horas, lá estávamos eu e a Lívia de 98 assistindo tudo isso e tentando assimilar que aqueles meninos da rua de trás que conhecemos, e que vimos tantas e tantas vezes num VHS que arrebentou até a fita, hoje já são quarentões que ainda dançam, cantam e fazem acender as mais diferentes estrelas no céu das nossas sensações: algo que eles parecem fazer questão mesmo de cultivar jogando beijinhos e tchauzinhos pelo ar (e jogando inclusive cuecas suadas pra plateia em um momento digno de “Clube das Mulheres” protagonizado por Kevin e AJ trocando de roupa em cima do palco). No final, fui embora pra casa com a certeza de que a promessa de fazer o público voltar 20 anos no tempo, repetida diversas vezes pelos meninos ao longo da apresentação, parecia concluída com sucesso depois de uma receita infalível de muito carisma, muita jaqueta com brilho, muitos chapéus e algumas colagens de fotos da época no telão.

Hoje, quando eu acordei, já não era mais dia 11 de março e, embora a sensação fosse quase palpável (com a ajuda aqui do meu Spotify, que segue repetindo, até sabe lá quando, os hits que eu ouvi ontem ao vivo), eu também não tinha entrado numa máquina do tempo e reaparecido em um dia qualquer às vésperas do ano 2000. Infelizmente, eu penso rindo. E é me despedindo da Lívia de 98, e levantando suposições sobre o que será que vai poder trazer de volta num futuro essa Lívia de 2020, que olho pras sensações ainda quentinhas e meio indecifráveis que ecoam já na minha memória e me admiro com a força irreversível do papel que a música tem de influenciar, enfeitar e compor a história que a gente escreve na vida da gente: faz emocionar, faz sacudir lembranças, parece que faz até voltar no tempo. Já viu?  

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*Lívia Fernandes é fotógrafa que trabalha com resgate de autoestima em ensaios femininos intimistas. Seu recém-lançado Não Contém Glúten coloca mulheres em diálogo sobre suas experiências e perspectivas nos mais diversos assuntos do universo feminino no mundo contemporâneo.

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