Tentando entender Sufjan Stevens

Não demorou para eu gostar muito de Sufjan Stevens. Ele sabe como poucos compor, arranjar, tocar e orquestrar músicas com uma amplitude temática incrível, desde canções de amor até filosofias bem complicadas, passando por histórias muito bem contadas.

E não foi surpresa alguma quando, nos últimos meses, ouvi e li opiniões das mais diversas sobre seus dois últimos trabalhos. Semanas antes do lançamento do seu aguardado álbum The Age of Adz, ele disponibilizou repentinamente (e isso sim foi uma surpresa) um novo EP, All Delighted People. O motivo? Lançar algumas últimas canções no estilo que o consagrou antes de embarcar na música eletrônica (o tal Adz, que ninguém desconfiava ser de fato eletrônico).

Os dois discos dividiram muitas opiniões. Os mais tradicionais não gostaram nem das longuíssimas canções do EP, nem dos sintetizadores e auto-tune do álbum. Mas tão difícil quanto tentar encaixá-lo num gênero é definir seu estilo. Ainda assim, podemos observar elementos em comum não só nos dois álbuns, mas em toda a discografia do músico.

Primeiro, ele tem a Bíblia como fonte de muitas de suas letras (o que incomoda os ditos “intelectuais”), sempre com uma resposta muito humana à espiritualidade (o que incomoda os ditos “religiosos”). O uso de corais, principalmente com vozes femininas, é outra constante em sua obra, assim como as variações tonais e os falsetes. Sufjan é ainda um contador de histórias e várias de suas canções são narrativas, seja em histórias bíblicas, invasões alienígenas, contos ou autobiografias.

Seus dois discos lançados esse ano podem parecer muito diferentes, mas são continuidade de uma obra que se mostra tão complexa quanto os temas que exibe – daí a necessidade de explorar sua musicalidade em tantas formas. Mesmo Chicago, sua música mais conhecida (e não coincidentemente a mais pop), apresenta a dificuldade de ser enquadrada em um único estilo.

Fiquemos agora com as duas músicas-tema dos novos discos, que por mais distintas que soem, são idênticas ao mostrar a complexidade de um artista que sabe se reinventar e explorar sua musicalidade como poucos.

All Delighted People

The Age of Adz

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

4 Comments on “Tentando entender Sufjan Stevens

  1. Adorei “Age of Adz”, é bem interessante… algo que eu definitivamente não esperava dele! Muito bom!

  2. Pingback: Sufjan Stevens – Get Real Get Right | Música Pavê

  3. Gostei! Deu um approach do Sufjan que eu já compreendia, mas que nunca tinha conseguido transpor em palavras. Eu gostei muito dos dois álbuns. Tenho também o resto da sua discografia, e não me surpreendi com o eletrônico, mesmo tendo conhecido o cara quando ainda empunhava um banjo (e somente ele, praticamente) em Seven Swans. Álbums anteriores dele já flertavam com o eletrônico. E é aquilo, como vc mencionou, a utilização do eletrônico em nenhum momento desconfigurou a obra dele. Ouvindo no meu player músicas de suas várias fases, eu realmente vejo um trabalho coeso. E muito bonito.
    Algumas pessoas têm um certo preconceito, acham que é algo hipster demais, inacessível. Apesar da complexidade do artista, eu gostei dele muito facilmente, e várias pessoas a quem eu mostrei também =}

  4. Pingback: Sufjan Stevens mostra demo inédita : Música Pavê

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.