“Tall Tales”, A Nova Experiência Audiovisual de Thom Yorke

Na última quinta-feira (08), o Música Pavê compareceu ao Cineclube Cortina, no centro de São Paulo, para assistir a Tall Tales, novo projeto de Thom Yorke. Descrito como um conto de fadas para o mundo moderno, o média-metragem foi inspirado pelo disco de mesmo nome, uma colaboração entre o líder do grupo Radiohead e o músico Mark Pritchard, e dirigido por Jonathan Zawada.
No escuro da sala, a única luz acesa era a de um grande farol no meio do mar e da tela. Filmada em travelling circular, a construção ganha vida à medida que a velocidade da câmera se altera, marés oscilam em intensidade e novas cores dançam em cena. A imagem, que nos joga num oceano opaco em busca de um norte, dialoga de maneira muito interessante com as sonoridades de Yorke e Pritchard e com os temas de desesperança e falta de perspectiva em um mundo tão caótico.
Em seguida, somos apresentados a um “quase”protagonista, espécie de híbrido de Galinho Chicken Little e Tom Sawyer, que guia a narrativa ao explorar um mundo inspirado em videogames: Toda vez que o personagem chega a um cenário diferente, ou fase, inicia-se um novo segmento. Cada um deles representa uma faixa do disco e expressa, de maneira mais direta ou subjetiva, inquietações da vida contemporânea – de mudanças climáticas e guerras ao papel da inteligência artificial nas artes (e vale lembrar que o próprio Zawada usou esse recurso para criar Tall Tales).
A partir daí, o filme se transforma em uma fragmentada correnteza de estilos e ideias visuais inspiradas pela música do projeto, que mistura experimentações eletrônicas, fluxos etéreos de sintetizador, tristes melodias e os vocais sempre emotivos de Yorke. No decorrer da exibição, fica claro que Zawada está menos preocupado em criar uma experiência coesa do que em construir pequenas situações audiovisuais e brincar com suas possibilidades. E como é comum em propostas desse tipo, a jornada é irregular.
Alguns segmentos atingem momentos de grande força e densidade. Em um deles, robôs criam pinturas em linha de produção, até que entram em pane e passam a buscar suas individualidades artísticas. Em outro, uma câmera estática segue caixas pelas esteiras de um gigantesco centro de distribuição. Um dos ápices criativos é o segmento em que o protagonista caminha desoladamente por um deserto multicolorido, que mais parece a criação de uma IA generativa que tomou ácido. Outras ideias, por mais interessantes que sejam, permanecem verdes em tela.
Apesar dos altos e baixos, Tall Tales é um trabalho estranho, instigante e, por vezes, perturbador. Ao caminhar entre luz e sombra, rigidez rítmica e fluidez, pessimismo e esperança, humanidade e tecnologia, Jonathan Zawada consegue captar o mal-estar e a tensão que são centrais para o bom disco de Yorke e Pritchard.
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